Pedro II teve um reinado extremamente longo. Tornou-se Imperador aos cinco anos de idade, com a abdicação de seu pai, em 1831, e reinou até a sua deposição pela República, 58 anos mais tarde. Só assumiu o poder de fato em 1841 com a proclamação de sua maioridade, aos 14 anos, e a partir desse momento assinou um número imenso de documentos. Todas as nomeações e promoções de juízes, diplomatas, militares e os mais variados tipos de papéis da administração pública passavam pela mesa do Imperador para serem validados com a sua assinatura. Grande parte desses documentos foi conservada por seus recipientes e guardada preciosamente por seus descendentes, o que explica que sejam hoje bastante comuns. Mas os inúmeros bilhetes que dirigia a seus ministros são hoje bem mais raros e mostram claramente o quanto o Imperador se envolvia em todos os detalhes do Governo.
Esta curta carta dirigida ao Conselheiro Duarte de Azevedo tem um conteúdo no mínimo intrigante:
Previa o que já sucedeu em Sta. Rita e na Glória. Toda a prudência é pouca, e o subdelegado Oliveira da primeira freguezia passa por provocador e o Juiz de Paz presidente da mesa da segunda [freguezia] já mostrou noutras ocasiões que não atende aos meios de vencer nas eleições.
Aguardo as informações sobre tão desagradáveis sucessos.
D. Pedro 2º
18 de agosto de 1872"
Seria interessante saber a interpretação que o "poder moderador" exercido por D. Pedro dava aos "meios de vencer nas eleições" ao alcance de um juiz de paz em 1872. Teria o imperador, forçosamente apartidário, preferência por algum partido?
Cartas como essa deveriam suscitar um reestudo das práticas eleitorais do tempo, sempre criticadas pelos contemporâneos. Com o muito que o Brasil mudou, o assunto da reforma política continua extremamente atual.