No início dos anos 1830, o jovem naturalista Charles Darwin visitou o Brasil a bordo do navio HMS Beagle, que fez uma viagem de circum-navegação de quase cinco anos de duração a serviço da coroa britânica. Darwin tinha apenas 22 anos quando embarcou e fez ao longo da jornada muitas das observações que, décadas depois, seriam usadas para fundamentar a teoria da evolução das espécies por seleção natural, apresentada em 1858 junto com seu colega Alfred Russel Wallace, que chegou às mesmas ideias por meios independentes.
O naturalista passou pelo litoral brasileiro no início da viagem, em 1832, e na volta para a Inglaterra, em 1836. Conheceu Fernando de Noronha, a Bahia, o Rio de Janeiro e Pernambuco. Suas andanças pelo país são o tema do recém-lançado Darwin no Brasil, que reúne trechos do diário de bordo em que o britânico registrou suas impressões do povo e dos ecossistemas que encontrou por estas bandas. O livro traz ainda textos atuais que contextualizam as observações feitas pelo naturalista e explicam como elas inspiraram a teoria que revolucionou as ciências da vida.
As incursões de Darwin pela Mata Atlântica foram sua primeira experiência numa floresta tropical. O naturalista se encantou com a exuberância da biodiversidade e se assombrou com a potência das tempestades torrenciais que em nada lembravam a chuva fina da sua Inglaterra natal. No Rio de Janeiro, onde passou cerca de um mês hospedado em Botafogo, o britânico se impressionou com a beleza do morro do Corcovado, quase um século antes da inauguração da estátua do Cristo Redentor.
Mas o Brasil não deixou só boas impressões no viajante. O jovem Darwin teve repulsa da sujeira nas ruas do Recife e ficou horrorizado com as atrocidades da escravidão, que foi abolida no Reino Unido em 1833, durante a sua viagem. “Agradeço a Deus e espero nunca mais visitar um país escravocrata”, escreveu o britânico ao zarpar do Brasil pela última vez, em agosto de 1836.
O diário do naturalista a bordo do Beagle já havia sido lançado no país, mas ganha agora uma edição preocupada em examinar como as espécies observadas por aqui contribuíram para a formulação da teoria da evolução. Viabilizado por um financiamento coletivo, o volume conta com 24 belas ilustrações de espécies que chamaram a atenção de Darwin na Mata Atlântica. A nova tradução dos diários e os textos explicativos são assinados pelo jornalista Pedro Alencastro, fundador da Duas Aspas, editora de Porto Alegre, que se dedicará a livros sobre ciências e estreia com esse lançamento.