Há sessenta anos, o educador pernambucano Paulo Freire teve a oportunidade de colocar em prática pela primeira vez em larga escala o método inovador de alfabetização que vinha desenvolvendo. Ele foi convidado pelo governo do Rio Grande do Norte para organizar uma iniciativa-piloto na cidade de Angicos, na época com quase 10 mil habitantes, dos quais 70% eram analfabetos. No Brasil, 39,6% da população total de 70 milhões de habitantes era analfabeta, de acordo com o Censo de 1960.
A experiência em Angicos começou em 18 de janeiro de 1963. Foram criados quinze “círculos de cultura” – como Freire preferia chamar as aulas de alfabetização – para receber as pessoas que se inscreveram, de artesãos a agricultores, de empregadas domésticas a pedreiros. Os alunos tinham entre 6 e 72 anos.
Os círculos de cultura foram instalados em escolas, residências e até em uma maternidade, conta André Gravatá na edição deste mês da piauí. As aulas aconteciam depois do horário de trabalho, a partir das sete da noite. Ex-alunos contam que, como não havia carteiras escolares suficientes, alguns levavam suas próprias cadeiras ou tamboretes. Trezentas pessoas foram alfabetizadas em 40 horas de curso.
O sucesso da iniciativa levou o presidente João Goulart à cerimônia de encerramento em Angicos, em 2 de abril de 1963. Pouco depois, Paulo Freire foi convidado por Goulart para liderar o Programa Nacional de Alfabetização (PNA), com uma meta audaciosa: alfabetizar 5 milhões de pessoas.
Enquanto isso, um rumor se espalhava em Angicos: que Paulo Freire era comunista e que os alunos deveriam queimar os cadernos para não serem presos. Os boatos e ameaças eram sinais do que viria a seguir: o golpe militar e a ditadura, que interrompeu o PNA, prendeu Freire por 72 dias, acusando-o de trabalhar contra os interesses da nação, e impôs seu exílio, que durou dezesseis anos.
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