Treze de junho, Arena Salvador. O jogo é Holanda e Espanha. Quarenta e um do primeiro tempo, a Espanha vence por um a zero. Iniesta faz uma das suas jogadas geniais de sempre e larga David Silva na cara do gol. O meia do Manchester City esquece que está na Copa do Mundo, dá uma displicente cavadinha e o goleiro Cillessen põe para escanteio. Na sequência do lance, o holandês Blind faz um longo e preciso lançamento que Van Persie conclui com plasticidade e eficiência, empatando a partida. Não fosse o excesso de confiança – ou irresponsabilidade, como queiram – de David Silva e a Espanha iria para o intervalo ganhando de dois a zero, o que mudaria não apenas a história do jogo, mas talvez a da própria Copa.
Quinze de junho, Estádio Mané Garrincha. O jogo é Equador e Suíça. Quarenta e sete do segundo tempo, um a um no placar. A bola sobra para o meia equatoriano Arroyo quase na marca do pênalti. A chance é ótima, mas Arroyo demora a concluir, o volante Behrami trava a jogada, a Suíça sai no contra-ataque e Seferovic faz o gol da vitória. O que poderiam ser três pontos para o Equador se transformam em meio caminho para a eliminação.
Dezoito de junho, Estádio Beira-Rio. O jogo é Austrália e Holanda. Vinte e um do segundo tempo, dois a dois no placar. A zaga da Holanda sai jogando de forma temerária e o sem-cintura Vlaar entrega a rapadura. Oar entra livre, mas não sabe se chuta ou cruza e acaba dando uma bomba na direção de seu companheiro Leckie, que faz o que é possível e conclui com o peito, no melhor estilo futevôlei. Cillessen defende sem dificuldade. No minuto seguinte, o atacante holandês Depay bate de muito longe e o goleiro Ryan aceita. Menos de sessenta segundos antes, a Austrália esteve a ponto de entrar na briga para se classificar – o que, de resto, não conseguiria. Passou dali direto para a eliminação.
Todos sabemos da importância dos detalhes num jogo de futebol. A bola que poderia vir cinco centímetros pra cá e foi cinco centímetros pra lá, o pênalti mal marcado, o frango do goleiro russo, etc. Mas não me refiro a essas coisas de sempre, que acontecem tanto para um lado quanto para o outro e das quais não dá para reclamar. Nos três jogos acima, os detalhes têm gosto de drama, por estarmos na competição esportiva mais importante do planeta e acontecerem no espaço de tempo de um minuto, transformando-se em bons exemplos da frase clássica de Muricy Ramalho: a bola pune.
Tudo no futebol é importante. Definição sobre os jogadores que entram e os que ficam de fora, distribuição tática, jogadas ensaiadas. Mas, na hora do vamos ver, o que decide as partidas são os caras que estão lá dentro, as decisões que eles tomam em frações de segundos e a capacidade que têm para colocá-las em prática.
Ganha-se ou perde-se um jogo, um campeonato e mesmo uma Copa do Mundo por detalhes. O que, cá entre nós, é mais um elemento para desconfiarmos de análises sofisticadas e excesso de sapiência – de treinadores, de comentaristas e, principalmente, de blogueiros.