Conhecida pela beleza e personalidade exuberante, Deuzeni Goldman retirou-se de sua vida social agitada em setembro de 2019. Naquele mês, Alberto Goldman, seu marido, morreu aos 81 anos, vítima de um câncer neuroendócrino. Homem público que começou a carreira política fazendo oposição à ditadura pelo MDB, Goldman mais tarde migrou para o PSDB e foi governador de São Paulo em 2010, quando José Serra deixou o cargo para disputar a eleição presidencial. Entre namoro e casamento, Deuzeni e Alberto passaram 48 anos juntos. “Fui muito feliz, com um companheiro inteligente e interessante. A morte dele foi um baque”, conta a ex-primeira-dama de São Paulo, hoje com 72 anos.
O luto já se arrastava por dois anos quando a aromaterapeuta Paula Goldman teve uma ideia para tirar a mãe de casa: inscrevê-la em um site de relacionamentos. “A vida não acabou”, disse a filha. Deuzeni recusou a proposta, alegando que nem saberia “mexer” no site. Paula insistiu, comprometendo-se a administrar a conta da mãe. Em setembro de 2021, o perfil foi criado no Par Perfeito, site voltado para o público maduro em busca de companheiros de longo curso. O perfil da ex-primeira-dama trazia fotos dela sozinha e com a família e propalava seu interesse por leitura e cinema. Informava que Deuzeni preferia homens de até 65 anos.
Semanas depois de criar o perfil, Paula constatou que sua mãe havia interagido com Natal Ferraz Martins, um senhor grisalho, então com 78 anos. Deuzeni conta que teve uma foto sua curtida por ele (já Martins garante que foi ela quem deu a primeira curtida) – e nada mais aconteceu. Deuzeni havia gostado especialmente de duas imagens que viu no perfil de Martins: “Tinha uma dele com sapato caramelo e foulard no pescoço. Achei elegante. E outra abraçado com o neto em um jogo de futebol.”
No início de dezembro, os dois começaram a conversar pelo chat do site. Deuzeni sugeriu que Martins acompanhasse a conta dela no Instagram, para saber um pouco mais de sua vida pessoal e familiar. Foi quando ele reconheceu o sobrenome da mulher que estava paquerando. “Que família linda e ilustre. Não imaginava que era viúva do Goldman, a quem sempre admirei”, disse ele no chat.
A primeira conversa por telefone durou quatro horas e meia. Nesse tempo, Deuzeni listou em um caderno os gostos e interesses coincidentes entre ela e Martins – eram 26, entre eles torcer para o São Paulo, fazer palavras cruzadas e viajar. Uma semana depois do primeiro contato pelo site, Martins convidou-a para jantar. Ela achou que era muito cedo para isso. E se fossem tomar um sorvete? Ele aproveitou a deixa para jogar um charme e perguntou se seria de bom-tom chegar com um buquê de rosas em uma sorveteria. Deuzeni desistiu do convite.
No dia seguinte, porém, o clima mudou. Ela concordou com um encontro, e Martins chegou ao apartamento de Deuzeni levando as prometidas flores. Os dois deram um selinho e conversaram por dez minutos, antes de irem jantar em um restaurante. “Sabe aquelas recomendações de o primeiro encontro ser em um espaço público? Eu fiz tudo diferente”, diz ela, sorrindo. O casal deixou o restaurante quando os garçons já estavam se preparando para fechar as portas.
Formado em biologia pela USP, com especialização em administração pelo Mackenzie, Martins trabalhou décadas como executivo de banco. Tal como seu crush, ele ficara viúvo dois anos antes de abrir o perfil no Par Perfeito. Passara 58 anos ao lado da psicoterapeuta Geny Petrone Ferraz Martins, que morreu de um AVC hemorrágico. “Quem criou meu perfil foi um sobrinho e em uma semana conheci a Deuzeni”, ele conta.
Os dois passaram a se encontrar com frequência. Em questão de semanas, já tinham sido apresentados a suas respectivas famílias. Ele passou o Réveillon com os filhos e netos de Deuzeni na casa de campo dela, em Itatiba, a 80 km de São Paulo. Uma neta de 27 anos perguntou à avó como era o namoro depois dos 70 anos. “‘É igual ao de vocês”, Deuzeni respondeu, indicando o namorado ao lado da jovem. A neta quis saber mais: “Vocês fazem tudo, vó?” A avó não titubeou: “Tudo e mais um pouco!”
Dois anos depois do match virtual, o casal adotou um modelo híbrido de relação. Dormem juntos de quinta a segunda. No resto da semana, cada um fica em sua casa. Não foi uma novidade para Deuzeni: nos 24 anos em que Goldman foi deputado federal, ele passava metade da semana em Brasília. “Eu nunca quis me mudar para lá, então ficava em São Paulo para cuidar dos nossos filhos”, ela diz.
Lançado em 2000, o Par Perfeito foi o segundo dispositivo de paquera virtual do Brasil – o primeiro foi o Bate-papo do portal UOL, lançado em 1996. “No Bate-papo, muitos se escondem por trás de um apelido. Já o Par Perfeito foi feito para as pessoas interessadas em encontrar um relacionamento, daí colocarem fotos e elencarem interesses”, explica a socióloga Sara Esther Dias Zarucki Tabac, professora de ciências sociais da Universidade Federal de Alfenas e autora de um estudo de caso sobre o site.
A própria Tabac conheceu seu companheiro no site, em 2012. Nessa época, diz ela, ainda existia certo preconceito em relação a pessoas (especialmente mulheres) que buscavam relacionamentos na internet. O recurso a um aplicativo de paquera era visto como um sintoma de “desespero” de pessoas com dificuldades afetivas. Não é mais assim entre as novas gerações que adotaram o Tinder e afins, constata a socióloga. A piauí indagou o Par Perfeito sobre a quantidade e o perfil de seus usuários, mas a direção do site não quis responder.
Deuzeni virou uma embaixadora dos encontros por site e aplicativo, que recomenda às amigas, desde que “tirou a sorte grande” no Par Perfeito. Martins também se acha um sortudo, principalmente porque informou, em seu perfil, uma característica que poderia afugentar pretendentes. “Coloquei lá que sou ateu”, diz. “Mas dei sorte, ela também é ateia.” Apesar disso, o casal gosta de imaginar que o mundo espiritual aprova sua união. “A gente brinca que o Alberto e a Geny, onde quer que estejam, estão torcendo muito por nós”, diz Deuzeni.
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