Na piauí deste mês, Roberto Kaz conta sobre as quase duas décadas em que conviveu com Aderbal, seu gato. “À luz do meu olhar, Aderbal era um gato único, dotado de gostos só dele: amava mamão, se inebriava com o cheiro das flores, odiava o som do violão”, conta. “Já à luz de um olhar menos apaixonado, Aderbal era só mais gato: miava, dormia, ronronava, comia e torrava no Sol. A diferença entre um gato e o gato está em como você escolhe vê-lo.”
O encontro dos dois ocorreu no Campo de Santana, no Rio de Janeiro, onde Kaz foi para fazer uma entrevista na Fundação Parques e Jardins, uma autarquia da prefeitura que cuida das árvores da cidade. “Sei que vi o Aderbal, com a cara machucada, na entrada do edifício. Sei que um senhor, funcionário do parque, sugeriu que eu o levasse comigo, que eu recusei e que segui para a entrevista”, lembra Kaz. “Sei que saí da entrevista uma hora depois e voltei a cruzar com o gato, que o mesmo senhor voltou a reconhecer meu olhar de afeto, e sugeriu, uma vez mais, que eu o tirasse de lá: ‘Pega ele. Jogaram aqui essa semana, tá apanhando dos outros gatos.’”
O homem arrumou uma caixa de papelão para que Kaz levasse o gato. Ele foi direto para um pet shop. “Quê que eu faço com esse bicho?”, perguntou à vendedora. O tempo passou.
Kaz escreve: “Foram dezoito anos juntos, dezoito anos em que ele me acompanhou por 12 apartamentos, 3 cidades, 2 países. Aderbal foi meu companheiro quando saí da casa do meu pai, morei sozinho, casei, me separei, voltei para o meu pai, quando aluguei um apartamento com amigos e quando voltei a morar só. Foram raros os dias em que não me deu o privilégio de dividir, com ele, a minha cama.” E acrescenta: “Gosto de pensar que o Aderbal também ajuda a contar a minha história.”
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