O assunto do e-mail que recebi da redação há uns vinte minutos é “Acha que vale um texto sobre o Dib?”. No corpo do e-mail, apenas um lacônico “abraços”.
Dib é o Dib Lutfi. Eu não sabia de nada. Mas não foi difícil deduzir o que tinha acontecido, rapidamente confirmado ao consultar a Wikipédia, já atualizada. Nascido em 1936, em Marília, Dib falecera ontem, 26 de outubro.
Respondi “valer, vale, sem dúvida”. A dificuldade seria escrever rapidamente, ainda sob o impacto da notícia. É duro saber que um amigo ou colega, ou qualquer pessoa com quem se tenha algum tipo de relação, morreu. Em especial, tratando-se de um companheiro de 54 anos.
Ainda mais alguém especial como o Dib – dotado de dom natural para fotografia e câmera de cinema, um intuitivo, simples, brincalhão, de que todos gostavam.
Quem o viu filmar teve o privilégio de testemunhar sua interação perfeita com a câmera, definição viva do que seja ergonomia. Dib flutuava pelo set com a câmera na mão, fazendo ele mesmo o foco enquanto se deslocava. Essa habilidade fez dele o objeto de desejo de todo diretor, a partir do início da década de 1960, quando surgiram seus primeiros filmes, dirigidos por seu irmão, Sérgio Ricardo: o curta-metragem O Menino da Calça Branca, de 1961, e o longa Esse Mundo é Meu, de 1964.
Alguns colegas se mantiveram próximos a ele no longo e doloroso período final da vida. Merecem nosso reconhecimento por isso. A maioria de nós, porém, como muitas vezes acontece, deixou de vê-lo. Agora, ele se foi para sempre. Ficamos menores com a perda do Dib.
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Assista abaixo ao documentário Dib, de Marcia Derraik, ao segundo trecho do filme A Câmera de Dib Lutfi, de William de Oliveira, a uma entrevista de Dib ao programa Zoom e ao plano sequência completo de Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra.