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    Auxílio Brasil: Das 30 postagens no Facebook com maior alcance sobre o assunto “auxílio emergencial”, desde que a pandemia começou, 29 são de Janones e apenas 1 de Bolsonaro. Fotos: Isaac Fontana/CJPRess/Folhapress e Marcelo Camargo/Agência Brasil

questões eleitorais

Distribuição de renda não é voto de cabresto

Pagamento do Auxílio Brasil, com ou sem empréstimo consignado, mobiliza Lula, Bolsonaro e Janones e se torna o último grande tema da pré-campanha

Leonardo Barchini e Pedro Bruzzi | 09 ago 2022_14h29
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O fato mais importante desta pré-campanha se aproxima. Na terça-feira (09), o governo Bolsonaro dá início ao pagamento do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) no valor de 600 reais. A campanha lulista, ciente da importância do auxílio, tão necessário para a população vulnerável, fez um movimento relevante que pode ajudar a neutralizar ou reduzir o esperado ganho eleitoral de Bolsonaro: angariou apoio do deputado André Janones (Avante-MG), figura que, desde 2020, foi central na luta pela concessão do benefício. Ou pelo menos se tornou, via redes sociais online, a voz dos beneficiários. 

O PT tentou, é bem verdade, ser o “pai” dos 600 reais no Congresso. Foi combativo. Mas Janones, com sua comunicação direta, acabou por se transformar no parlamentar que mais apareceu em defesa do auxílio. Essa trajetória foi contada aqui na piauí ainda em 2020, quando o deputado mineiro ganhou grande relevância com o tema.

Seu destaque no Facebook é inquestionável. Hoje, Janones tem 7,9 milhões de seguidores, enquanto Lula tem 5 milhões de seguidores. Das 30 postagens na plataforma com maior alcance sobre o assunto “auxílio emergencial”, desde que a pandemia começou (março de 2020), 29 são de Janones (há apenas 1 de Bolsonaro).

Imagens: Reprodução

 

Ao contrário do senso comum, os desvalidos estão também ativos nas redes, em especial no Facebook, e vêm interagindo justamente nessa pauta. Grupos públicos com centenas de milhares de usuários aparecem em profusão com uma simples busca na plataforma, demonstrando o interesse e ativismo das classes C e D, que acompanham pari passu as discussões sobre o auxílio. Militantes virtuais ativos e engajados deram tração ao perfil de Janones, que consideram seu representante.

As pesquisas de opinião há anos evidenciam a identificação do Bolsa Família com o ex-presidente Lula, criado por seu governo em 2004. Isso não é novidade. Não é à toa que o atual governo buscou mudar o nome do programa, tentando descolá-lo do petista. 

Vale também recordar brevemente o processo de criação do auxílio emergencial, que abriu caminho para o Auxílio Brasil. Após pressão popular e de parlamentares, o governo sinalizou um valor de 200 reais. Na Câmara dos Deputados, a primeira versão do texto aprovado elevou para 500 reais e, finalmente, após acordo entre o governo e o Congresso, sacramentou-se o benefício em 600 reais. Na sequência, pesquisas mostraram melhora na avaliação do governo, enquanto opositores não obtiveram o resultado político da medida, fortemente identificada com Bolsonaro.

No entanto, no fim do ano de 2020, Bolsonaro pode ter cometido um erro decisivo (dentre tantos), na trajetória em busca de sua reeleição a qualquer custo. O governo reduziu o valor do auxílio de 600 reais para 300 reais. A despeito de qualquer avaliação fiscal, do ponto de vista da opinião pública, sobretudo daqueles beneficiados pelo recurso, o presidente transpareceu como alguém que “faltou com a palavra”. Não que fosse uma novidade essa característica, já conhecida por tantos de seus ex-aliados, como Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Sergio Moro, dentre outros.

Ao longo desse processo, Janones seguiu sua trilha, especialmente no debate online, em defesa de um valor maior do auxílio. Para além de prestar contas de seu mandato nos seus perfis, atividade comum a diversos parlamentares, o deputado fazia uma verdadeira campanha pela sua principal pauta. O agravamento da crise econômica, mormente a subida de preços dos alimentos, mantinha o assunto em alta, mesmo que em diversos momentos não houvesse sequer discussões sobre mudança de valor em Brasília ou no debate público amplo. Não foram raras as vezes em que Janones conseguiu mais interações nos seus posts do que Bolsonaro ou Lula. 

A sua obstinação e o bom trabalho que realizou foram suficientes para torná-lo presidenciável. A despeito dos números nas pesquisas de intenção de voto, a articulação de Lula para conseguir a retirada da candidatura de Janones e seu apoio podem ser fundamentais no debate público. Além da grande penetração no Facebook, o deputado é reconhecido por sua audiência como um autêntico defensor do valor atual do auxílio, além de ser de Minas Gerais, o “Texas” brasileiro, estado considerado decisivo para a eleição presidencial. Desde a redemocratização, nenhum candidato que perdeu em Minas conseguiu ser eleito. 

Ao fim, Bolsonaro confia no efeito do “Bolsa Farelo”, como costumava chamar, na população de 0 a 2 salários mínimos, para conseguir reduzir sua rejeição e aumentar sua intenção de votos. Para além dos 200 reais a mais que começarão a ser pagos no dia 9, o presidente também aposta em outra arma poderosíssima: o empréstimo consignado com lastro no benefício. No Facebook, os grupos mencionados, que tratam sobre o Auxílio Brasil, já têm a maioria das postagens sobre o consignado. São relatos de ofertas de empréstimos por bancos que estão assediando esses clientes há algumas semanas. 

Do outro lado, Lula conta com sua própria história, somada ao reconhecimento de Janones na luta pela pauta, para tentar neutralizar esse efeito.

Talvez se Bolsonaro não for reeleito as pessoas entendam que política de distribuição de renda não é “voto de cabresto”, como o presidente também já chamou, e tampouco se resume a apenas distribuir dinheiro. É muito mais complexo que isso. Começa com o Cadastro Único, mecanismo de inteligência assistencial do governo, além das exigências de contrapartidas dos beneficiários, entre elas a vacinação infantil, questão a que Bolsonaro e parte da extrema direita mundial não são tão simpáticos.

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