Agora que Rogério Ceni vem emocionando o país em sua corrida para chegar aos 100 pênaltis perdidos, e virou notícia até no prestigioso The piauí Herald, creio que vale a pena um post sobre as tais penalidades máximas. Ontem, aqui no trabalho, só se falava nisso. Mesmo com São Paulo e Corinthians fazendo algo pouco acima de uma peladinha muito da safada e com Botafogo x Flamengo tendo sido um dos melhores jogos entre clubes que eu vi esse ano, o assunto em terras quase paulistanas não poderia ser outro. Antes de tudo, zoava-se a via-crúcis do goleiro; depois, discutia-se se houve pênalti ou não. Pra mim não houve, mas reconheço que sou muito chato com essa história de pênalti e um ferrenho adversário de sua banalização.
A primeira coisa com a qual eu não concordo é essa ditadura do cobrador oficial de pênaltis. Todo time de futebol profissional deveria ter, no mínimo, cinco caras em condicões de fazer as cobranças, e eles precisariam se revezar. Isso tiraria dos goleiros a chance de estudar o batedor e dividiria a responsabilidade, o que é sempre recomendável em um esporte coletivo.
Entretanto, mais importante é discutir o pênalti em si, seus critérios de marcação e sua possibilidade de interferir de modo tão gritante nos resultados. Lá no alto da tabela, um time pode ser campeão com um pênalti equivocadamente marcado. Lá embaixo, outro pode cair para a segundona pelo mesmo motivo.
Desde a final da Copa de 90, em que a Alemanha ganhou da Argentina por um a zero com um gol de pênalti inexistente aos 40 minutos do segundo tempo, eu achava que essa regra precisava de uns remendos. Independentemente de má-fé, que pode existir mas é rara, todo juiz erra. Futebol é um esporte de choque e de chegada, com lances rápidos, jogadores malandros, e o cara tem que decidir se apita ou não em fração de segundos. Não há como não errar.
Uma das boas teses que já ouvi sobre o assunto é de autoria do meu filho, Lucas. Ela parte do princípio de que a regra do pênalti foi criada junto com o jogo, só que ele era muito diferente, com predominância dos ataques sobre as defesas e partidas que terminavam oito a cinco, sete a quatro, seis a três. Óbvio: se um jogo tem nove ou dez gols, pouca diferença faz se o juiz marca um pênalti que não houve. É apenas uma chance a mais entre quinze ou vinte. Mas a partir do momento em que o futebol mudou, a preparação física ganhou importância desmedida, os treinadores descobriram que podiam vencer reforçando seus sistemas defensivos e as chances de gol se tornaram cada vez mais raras, a história passou a ser outra. E o erro de um juiz pode determinar, simplesmente, o vencedor de uma Copa do Mundo.
Os puristas defendem a mais insensível das teses futebolísticas: se no meio do campo seria falta, dentro da área tem que ser pênalti. Não há absurdo maior. Os árbitros não estão lá para, automaticamente, soprar o apito em qualquer choque mais forte, e sim para interpretar e agir com bom senso. Para virar pênalti, a falta dentro da área tem que ser intencional, cristalina, indiscutível.
Uma proposta razoável, que reduziria as chances dos erros de arbitragem interferirem nos resultados, seria diminuir a área do pênalti, fazendo com que eles só fossem marcados nas faltas cometidas dentro da pequena área. Na grande área, falta comum, com a localização da barreira seguindo a mesma regra que hoje rege o trágico momento em que o goleiro pega com as mãos uma bola recuada pelo zagueiro com o pé (distância de 9,15m ou todos em cima da linha).
Já vi muita gente boa discutindo o pênalti, uns querendo menos, outros querendo mais. Luis Fernando Verissimo, Tostão, PVC, Mauro Cezar Pereira. Uma coisa é certa: mesmo que a eles se juntem poderosos do naipe de Obama, Graça Foster, Papa Francisco e Anitta, ninguém jamais terá a ousadia de propor qualquer tipo de alteração na regra do pênalti. Mas como a piauí se orgulha de ser lida por quem tem um parafuso a mais, não custa nada usá-lo.