Otúnel de pombos, documentário com a última entrevista do escritor John le Carré, terá lançamento mundial no dia 20 de outubro. Na edição de outubro da piauí, Alejandro Chacoff, que teve acesso antecipado ao filme, se debruça sobre as últimas declarações do autor e sua trajetória literária.
Abandonado aos 5 anos de idade pela mãe, David Cornwell (o nome verdadeiro de Le Carré) foi criado pelo pai, Ronnie Cornwell, um estelionatário carismático. Com ele aprendeu a emular a classe alta de seu país, a se passar pelos outros. Fosse outra pessoa, a admissão soaria casual. Levando-se em conta a trajetória de Le Carré – como espião dos serviços de inteligência britânicos e depois como o maior escritor de espionagem do século XX –, as lições do pai assumem outro grau de importância.
Le Carré foi alçado à fama literária com seu terceiro romance, O espião que veio do frio, publicado em 1963. Por vezes, as declarações que faz no documentário parecem conter a mesma misantropia desesperançada de Alec Leamas, protagonista do livro. Mas a resistência em romper totalmente com o pai e a criação posterior do seu personagem mais icônico, George Smiley, complicam essa imagem desapegada, dando a impressão de um autor imbuído de um senso de dever moral. Sobre a dualidade entre misantropia e humanismo, Simon Cornwell – filho do autor e produtor do filme, que será exibido pela Apple TV – disse à piauí: “É talvez a questão central da carreira dele como escritor.”
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