Faz precisamente dois anos que os empresários Fabio Wajngarten e Meyer Nigri conheceram o deputado Jair Bolsonaro, candidato a presidente. Foi num jantar no apartamento de Nigri na região dos Jardins em São Paulo. Os filhos dele e do deputado se encontraram numa balada e propuseram o encontro dos pais.
Desde então Wajngarten e Nigri têm se comunicado frequentemente com o presidenciável pelo meio de comunicação favorito de Bolsonaro, o WhatsApp, e pessoalmente. Os dois propiciaram encontros entre o pré-candidato e empresários da comunidade judaica e de outros credos. Nigri é fundador da construtora Tecnisa, uma das dez maiores construtoras do país, com 665,7 milhões de reais em valor de mercado, segundo a Bovespa nesta segunda-feira. Wajngarten foi um dos intermediários da vinda da alemã GFK, para medir a audiência da televisão.
Os dois tiveram uma reunião com o capitão reformado na segunda-feira, 5 de fevereiro, e insistiram para o candidato formar uma estrutura mínima de apoio, e se colocaram à disposição para ajudá-lo na montagem da equipe de pré-campanha. Mas o candidato ainda não respondeu. “Não somos nada oficialmente”, resumiu Wajngarten.
Em reuniões como essa, Bolsonaro mostra qual é sua aposta para o marketing político de campanha. “Quando tocamos no assunto estrutura de campanha, o deputado nos mostra o telefone. Parece acreditar que postar nas redes sociais é o suficiente”, explicou Wajngarten.
Para Nigri, o motivo para apoiar Bolsonaro é simples: “Apoio quem seja contra a esquerda, Bolsonaro, Alckmin ou qualquer outro.” O Brasil, segundo ele, virou “um país socialista, impossível para os empresários”, em que “as leis trabalhistas, as cabeças dos procuradores, dos juízes, são pró-socialistas”.
O capitão reformado, segundo o empresário de 62 anos, tem cinco qualidades fundamentais para receber seu apoio: “É honesto, raro para um político, nunca me pediu nada.” Segundo: “Não é de esquerda.” Terceiro: “Capacidade, entende de segurança e de fronteiras, e sabe se assessorar com gente competente, como o Paulo Guedes, na Economia.” Quarto: “Postura, coragem para fazer as mudanças necessárias.” Quinto: “É pessoalmente comprometido com o Estado de Israel.”
Como exemplo da simplicidade da campanha do deputado, Nigri lembra que ofereceu seu avião para que o candidato fosse até Barretos, no interior de São Paulo, onde participaria de um evento com apoiadores. Bolsonaro rejeitou. “Preferiu pegar a ponte aérea Rio-São Paulo, mais um avião até Ribeirão Preto e mais 150 quilômetros de carro”, contou ele. “Ele não aceita doações”, sublinha.
Mais novo, Wajngarten, 42 anos, está envolvido em diversas instituições filantrópicas, como o Hadassah Brasil – hospital e instituto de pesquisas israelense que assiste judeus e palestinos – o Liberta, organização contra a exploração sexual juvenil e infantil. Lembra que estreitou os laços com Bolsonaro há um ano, num jantar beneficente para o Hadassah, onde o candidato apareceu como convidado, junto com outros políticos, artistas e empresários.
Em dois meses prevê lançar o Instituto do Bem, com Elie Horn, fundador e ex-presidente da construtora Cyrela, a quem admira, por ser um dos raros brasileiros a aderirem ao programa The Giving Pledge, em que se compromete a doar parte de sua fortuna em vida a organizações filantrópicas.
“Sou um cara de ação e estratégia, não consigo ver a bola quicando na área sem chutar para o gol”, define-se. Fundador da empresa Controle da concorrência, de monitoramento e análise de mídia, há quatorze anos, conta que aprendeu com Horn, a quem considera seu mentor, que é necessário “fazer o bem, agregar pessoas e adotar causas”.
Sobre Bolsonaro, Wajngarten acredita que o candidato tem boas intenções: “É latente como ele encanta as pessoas que cruzam seu caminho.” O empresário acrescenta que o deputado tem-se mostrado um bom ouvinte e que aprende rápido o que não sabe. “Por que não apoiar um cara que se mostra receptivo às boas causas?”, indagou. Para ele, Geraldo Alckmin também é “impecável”. Mesmo judeu, Wajngarten guarda na carteira uma oração que o governador lhe deu quando seu filho Thomaz morreu, em 2015, com uma imagem de Cristo.
“Apoio causas do bem, sou totalmente hands on, comigo é tudo imediato”, disse o empreendedor que abandonou uma carreira de advogado, aos 22 anos, para desespero do pai, Mauricio Wajngarten, cardiologista conhecido em São Paulo, e foi ser estagiário numa empresa de tevê, sua paixão. Depois de algum tempo, a convite de Guilherme Stoliar, ex-diretor do SBT, passou a monitorar os anúncios dos concorrentes, com uma tevê e um videocassete. Começou a estudar os anúncios, analisá-los e “agregar inteligência” nos seus relatórios, o que alavancou sua empresa e a colocou entre as maiores de pesquisa de mídia do país.
Sobre as atitudes de Bolsonaro, processado pela deputada Maria do Rosário, por dizer em plenário que ela não merecia nem ser estuprada, alvo de grupos de homossexuais e LGBT, que o acusam de homofóbico, além de ter se pronunciado no plenário da Câmara a favor de torturadores e da ditadura militar, Wajngarten atribui muitas críticas a ele a distorções da imprensa. Promete que retirará seu apoio de imediato se notar “qualquer atitude de perseguição a qualquer grupo”. “Os judeus sempre foram vítimas de perseguições não posso apoiar quem persiga quem quer que seja.”
Meyer Nigri é mais pragmático: “Ele pode falar o que não deve, mas se fizer o que deve, não tem problema.” O empresário acredita que “90% da comunidade judaica seja a favor de Bolsonaro”, mas “os 10% que não apoiam são mais barulhentos”. “A esquerda sempre foi mais combativa”, disse ele.
Nigri atribui a essa “minoria barulhenta” o episódio da Hebraica do Rio de Janeiro, onde o deputado fez uma palestra em abril do ano passado. A Confederação Israelita do Brasil, a Conib, entidades de luta contra discriminação racial e de gênero, além de parlamentares, criticaram o teor da palestra, considerado ofensivo, racista e neonazista.
Em sua fala, gravada em vídeo e disponível no YouTube, Bolsonaro enumera o que pretende fazer se chegar à Presidência: “Todo brasileiro poderá ter uma arma de fogo em casa”; não dará dinheiro para nenhuma ONG, pois “esses inúteis vão ter que trabalhar”; e “não dará um centímetro de terra demarcada para indígenas e quilombolas”.
A Hebraica de São Paulo tem vetado o convite ao capitão reformado para falar a seus sócios. Para Nigri, o que ele chama de “minoria barulhenta” tem imposto sua vontade à maioria da comunidade judaica. Ele acha que todos os candidatos a presidente deveriam ser convidados.