Serge Gainsbourg é um ídolo improvável da cultura francesa. Poucos fora da França compreendem que esse homem magro e feio, mal barbeado, descabelado, sujo, alcoólatra e fumador compulsivo tenha se tornado, graças a um talento originalíssimo, um dos mais respeitados compositores e letristas da música francesa, figura cult que, após suscitar muita polêmica, faz parte hoje do cânone dos grandes criadores franceses.
Aos 40 anos, havia superado todas suas inibições e teve um romance breve, mas tórrido, com Brigitte Bardot, então com 34 anos. Foi para ela que compôs, em 1968, Je t’aime moi non plus, uma canção que, antes de virar hit internacional, pareceu de tal forma escandalosa que até Brigitte recusou-se na última hora a gravá-la.
É aí que entra em cena a jovem e bela inglesa de 22 anos que aparece ao lado de Gainsbourg na foto reproduzida nesta página: Jane Birkin. Ela grava a canção com Gainsbourg e torna-se uma celebridade internacional instantânea junto a seu futuro marido, com quem ficaria 12 anos e teria uma filha, Charlotte, hoje atriz de sucesso.
Os anos 1970 foram um período de enorme celebridade para o casal, sobretudo na França, e é dessa época que data esta imagem, tomada num bar ao lado de um senhor hoje esquecido, Jean Fraté, a quem a foto é dedicada por Gainsbourg e assinada pelos dois. O instantâneo (que pega Birkin no momento em que se serve de um canapé), deve ter sido levado por Fraté, logo após ter sido revelado, para que o casal o assinasse.
Gainsbourg sofreu o primeiro infarto aos 45 anos e resistiu mais 18, até que o quinto o matasse. Nos dez anos finais, em óbvia decadência física e alternando depressões provocadas pelo álcool, tornou-se, sobretudo no final dos anos 1980, uma espécie de fantasma vivo, rico e consagrado, mas cada vez mais misantropo. Hoje, quase 25 anos após sua morte, é ainda objeto de intensa admiração na França.
Os manuscritos de suas canções atingem valores recordes em leilão, ainda inferiores aos de Bob Dylan ou John Lennon, mas bem mais altos que os de qualquer outro letrista europeu. Curiosamente, Gainsbourg também apreciava os manuscritos autógrafos e comprou, em 1979, por um valor recorde, um original do hino nacional francês, a Marselhesa, na letra de seu autor, Rouget de Lisle.
Fotos assinadas por ambos Gainsbourg e Birkin são bastante raras e esta só deve ter sido obtida após muita insistência pelo discreto senhor de colete, que se fez imortalizar ao lado do casal mítico.