Outro dia, de tanto ouvir falar aqui e ali, fui procurar assistir ao novo clipe de Lady Gaga, que se chama Judas!. O clima pretende ser um épico-religioso-pagão. A produção é mega em tudo. Motocicletas pra começar. Ela na garupa de um Jesus que, no lugar de um capacete, traz uma coroa de espinhos estilizada em cima de dreadlocks. Tem de tudo um tanto. Roupas de estilistas famosos, técnicas de cinema, efeitos especiais, maquiagem diferente. Ela, uma Maria Madalena meio indecisa, insinua um triângulo amoroso entre ela, Jesus e Judas. E cá pra nós, meio culpada, pois é Judas que lights her fire! Não conheço o trabalho pra falar realmente dele. Sei que Lady Gaga é um fenômeno, sei que ela procura ser diferente e desafiadora e acho que já vi isso antes. Uma loura cantando em inglês, em meio a um monte de bailarinos bonitos e figurinos incríveis. E mais de trinta milhões de acessos!
Eu nem tinha a menor intenção de falar desse clipe, que é bacana dentro da linguagem dele, mas não mudou minha vida em nada. Porém, sexta passada, recebi um adorável email de minha sobrinha mais velha, Luiza (19 anos), que dizia: ”pras minhas tias bregas!”. E ali estava um video de uma banda nova , que ela mesma está adorando e que virou uma febre na rede brasileira, chamada “A Banda Mais Bonita Da Cidade”. De cara, achei o nome ótimo e fui correndo dar uma olhada.
Nada de motos ou efeitos especiais. Alguém pediu a casa da vó emprestada, chamou a banda, mais um punhado de amigos entusiasmados e saiu cantando literalmente pela casa. Em cada cômodo uma situação diferente de instrumentos e novos rostos e vozes que se agregam à melodia inicial, cujo nome é “Oração”. Uma música curta, de amor, daquelas que sempre tem alguém que puxa novamente, quase no fim e começa tudo de novo. Vozes de não-cantores e até nisso pode ser interessante, porque tudo parece bem espontâneo e natural. Clima amador, de quem ama estar ali, a ponto de dar vontade de estar assim com eles, num daqueles cômodos, que devem ter cheiro de lavanda e café fresco.
Se fosse nos anos 70, talvez passasse mais batido, mas nos anos 2000 toca numa melancolia, numa nostalgia boa de sentir. É tudo tão hippie, naïfe, desconcertantemente corriqueiro, porém, cheio de poesia e uma alegria despudorada. Ninguém parece estar tentando parecer in, nem preocupado de estar out. Musicalmente, o pouco que ouvi, soa delicado e simplório.
O clipe lembra o clima da banda Beirut (veja abaixo) e uma outra que adoro, chamada Bon Iver (veja abaixo). Vale dizer que essas duas soam mais consistentes e maduras. “Oração” termina com a turma toda fazendo um carnaval num só cômodo, entre confetes, cachorro no colo do batera, uma margarida, piano de brinquedo e um caminhão de sorrisos. Minha sobrinha tinha razão, me emocionei sim.
Judas! termina bem mais dramático e “grandioso”, com uma onda cobrindo Lady Gaga , um ritual numa banheira, ela caída no chão, como uma cleópatra vestida de noiva e ainda um close final, onde ela parece estar chorando. Cada cena com uma producão completamente diferente…ufa!
São climas tão antagônicos, que um me fez lembrar do outro. De como em tempos de alta tecnologia, a volta ao começo se faz presente e nos toca num lugar diferente, num lugar que nos é caro e profundo. Não falo de um em detrimento do outro não, mas gosto de ambos existirem. Afinal, sou xará da minha avó e fiz muito som na casa dela.
Mas vou juntar aqui as letras, para que elas se ajudem de alguma forma, nesse mundo de sincretismos e diversidades.
Oh oh oh oh?I’m in love with Judas
Meu amor, essa é a última oração?
Pra salvar seu coração?