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    FOTO: WALDEMIR BARRETO_AGÊNCIA SENADO

questões da política

Durante aprovação da lei contra estupro coletivo, senadoras apontam machismo em plenário

Carol Pires | 02 jun 2016_19h37
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Na terça-feira, o Senado aprovou, a toque de caixa, um projeto da senadora Vanessa Grazziotin, do PCdoB do Amazonas, que aumenta a pena para o crime de estupro cometido por duas ou mais pessoas – tema particularmente sensível depois do estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro. Embora o voto a favor tenha sido unânime, Grazziotin e outras senadoras acusaram de machismo o próprio plenário do Senado.

Antes da votação, Grazziotin e as petistas Gleisi Hoffmann e Fátima Bezerra pediram ao presidente da Casa, Renan Calheiros, que, a exemplo da Câmara dos Deputados, interrompesse a sessão por alguns minutos. Naquela ocasião, senadoras, deputadas e outras líderes de movimentos sociais subiram à tribuna para tirar uma foto destinada à campanha contra a cultura do estupro.

Calheiros não autorizou. Ao microfone, entre outros, revezaram-se: Paulo Bauer (PSDB-SC), pedindo urgência para a medida provisória que reforça o combate ao zika vírus; Ronaldo Caiado (DEM-GO), que questionou o prazo para a sabatina do indicado à Presidência do Banco Central; Lindbergh Farias (PT-RJ), que perguntou quando haverá eleição para 2º vice-presidente do Senado.

“Eles estão fingindo que não estão nos vendo”, queixou-se Lídice da Mata, do PSB da Bahia, fora do microfone. “É por isso que este plenário é considerado tão machista e tão conservador!”, seguiu Bezerra. Da Mata voltou a falar, dessa vez ao microfone: “O mais grave de tudo isso foi ficarmos aqui na frente, as mulheres, tentando falar enquanto dois ou três ou quatro senadores falavam de assuntos diferentes – nem olhavam para nós, garantindo que nós éramos absolutamente invisíveis. Foi isso que aconteceu aqui hoje.”

Sem conseguir autorização para bater a foto das mulheres na mesa diretora do Senado, as convidadas das parlamentares foram embora e a sessão seguiu. Depois de aprovar medidas provisórias que trancavam a pauta, o projeto de Grazziotin foi colocado em votação sem que houvesse um debate aprofundado sobre o tema.

O primeiro a pedir a palavra foi o tucano Aécio Neves. Parabenizou a aprovação do projeto, e em seguida saudou a indicação de seu correligionário, senador Aloysio Nunes, como líder  do governo Temer. Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Tasso Jereissati e Marcelo Crivella engataram elogios a Aloysio Nunes e não se falou mais do projeto de Grazziotin.

Coube à senadora Hoffmann acusar o desvio de assunto. “Além de não sermos ouvidas e não termos entrada no plenário, ninguém falou sobre o tema no momento da discussão”, disse. “Qual é a lógica de, no meio dessa discussão, se fazer uma saudação ao novo líder do Governo?”  E concluiu: “Temos que mudar a cultura, a forma inclusive do posicionamento no Senado da República”.

Não foi a primeira vez que as senadoras compraram briga com Calheiros. No dia em que o presidente da Câmara, Waldir Maranhão, revogou a aprovação do impeachment, Grazziotin cobrou de Calheiros que lesse a íntegra da decisão do deputado. “Qual será a sua postura quando vossa excelência tiver que solicitar algo ao presidente da Câmara?” O presidente do Senado se esquivou e tratou a senadora como se ela fosse café com leite, fazendo uma piadinha provinciana: “Senadora Vanessa, meu pai me ensinou três coisas na vida: comer pouco, dormir muito e não brigar com mulher.”

No mesmo dia, Calheiros interrompera a sessão da Casa quando inúmeros senadores e senadoras começaram a pedir, aos gritos, que ele ligasse os microfones do plenário. “Ele disse: ‘Vou interromper a sessão por dois minutos para que as senhoras gritem em paz.’ Até parece que ele diria aos senadores: ‘Senhores, gritem em paz’”, me disse Grazziotin depois.

Além de terem encampado projetos da pauta feminista em sintonia com as redes e os movimentos sociais, Grazziotin, Bezerra e Hoffmann se destacaram nos últimos meses como tropa de choque contra o impeachment de Dilma Rousseff. Entre os cartazes levantados pelas manifestantes que acompanharam as parlamentares, um dizia: “o golpe é machista”. Para a senadora Marta Suplicy, do PMDB,  que foi convidada mas não participou da marcha com as senadoras que chegaram à sessão pedindo para fazer a foto na mesa diretora, a bancada feminina no Senado poderia ser mais unida. “Mas elas acabam politizando tudo.”

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