Na piauí deste mês, o jornalista Thallys Braga descreve o impacto que lhe causaram os livros do escritor francês Édouard Louis – convidado para a Festa Literária Internacional de Paraty deste ano. Louis chamou a atenção na França em 2014, logo que lançou o seu livro de estreia, O fim de Eddy. O romance autobiográfico narra a infância e a juventude de Eddy Bellegueule (o nome original do escritor), cuja família vivia em uma pequena vila operária, cercada pela pobreza, e a rejeição que ele sofreu de seu pai e de pessoas próximas por não gostar de futebol nem de meninas.
“Testemunhar a ruína do pai e viver a pobreza coletiva do bairro perturbava o pequeno Louis, mas era a homofobia que tornava a realidade insuportável”, escreve Thallys Braga. “Em Mudar: método, livro mais recente do escritor, ele conta que, quando sua mãe dizia que não havia mais nada para comer, a fome ficava ainda pior por causa dos insultos homofóbicos que ouvia do pai. Em razão da violência, Louis entendeu muito novo a necessidade de ir embora. ‘O que eu ainda não sabia é que insultos e o medo iam me salvar de você’, ele diz, dirigindo-se ao pai. ‘Eu ainda não sabia que a humilhação ia me obrigar a ser livre.’”
Em paralelo, Thallys Braga conta a sua própria história de garoto pobre no bairro de Inhoaíba, no Rio de Janeiro, criado pela mãe e depois pelos avós, e também assombrado pela homofobia e a pobreza. “Percebi como a nossa situação financeira era frágil, que o retorno à pobreza estaria sempre à espreita”, escreve. “A essa altura, [minha mãe] já não ligava para a minha sexualidade, dizia que lembrava de um amigo gay da época da escola. Brigou com extremistas de direita da igreja para defender o casamento igualitário. E tinha orgulho da minha dedicação para levar outra vida. Não falávamos disso, mas eu sabia que ela tinha esperança de que, ao mudar a minha realidade, eu também mudaria a dela.”
Em conversa com Édouard Louis, por Zoom, Thallys Braga pergunta ao escritor se, no início da carreira, ele teve receio de que falar sobre sua sexualidade poderia comprometer o seu futuro como escritor. A pergunta era também um pedido de conselho. Louis respondeu: “Eu sabia que estaria exposto à homofobia, mas homens gays sempre estiveram no centro da literatura. Pense em Jean Genet, James Baldwin, Truman Capote. Estamos aqui desde sempre, porque somos de fora. Se você está à vontade no mundo, não tem nada a dizer sobre ele. Você tem que ser de fora para vê-lo de um jeito diferente.”
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