Na época atual em que as cartas sobre papel estão se tornando obsoletas, substituídas por todo tipo de mensagem eletrônica, sobrevive um pequeno tipo de papel impresso que popularizou-se desde o século XIX como meio de identificação e de apresentação pessoal e profissional: o cartão de visita.
Ainda hoje o cartão é amplamente usado nas relações sociais e de trabalho, ainda que tenha perdido sua utilidade inicial: permitir a quem fazia uma visita deixar um cartão com seu nome, para que a pessoa ausente que pretendia visitar soubesse de sua passagem (daí o nome “cartão de visita”). Esse uso perdeu-se totalmente no século XX, quando os encontros passaram a ser marcados por telefone e não se corria mais o risco de aparecer na casa de uma pessoa que havia saído.
Outro uso para o cartão de visita, hoje quase perdido, mas muito disseminado nos séculos XIX e XX, foi o de suporte para pequenas mensagens. Em vez de usar um papel de carta, a pessoa que desejava apenas confirmar ou desmarcar um encontro, agradecer um envio ou pedir um favor, mandava o cartão num pequeno envelope com uma breve mensagem manuscrita.
São bastante valorizados hoje pelos colecionadores os cartões de visita de personagens ilustres, mesmo quando não trazem uma mensagem escrita, e há coleções que se especializaram em peças nesse suporte.
O cartão reproduzido nesta página é especialmente interessante, pois emana de uma das maiores personalidades do século XX, o físico Albert Einstein, indiscutivelmente uma das duas ou três grandes figuras de seu tempo. Este cartão foi na época arquivado como uma carta e por isso foi perfurado para ser guardado num classificador.
Trata-se de fato de uma verdadeira carta, pois Einstein usou todo o verso do cartão para uma mensagem significativa. É raro vê-lo referir-se à Teoria da Relatividade, que o tornou universalmente famosa, em qualquer de suas comunicações escritas. Também o preocupava muito o alcance filosófico da Teoria, que fora comprovada matematicamente graças a um eclipse ocorrido em nosso país, no Ceará, em 1919, mesmo ano deste cartão.
Einstein diz:
“Muito estimado colega: Recomendo-lhe fortemente o Dr. Reichenbach, um filósofo e físico que tem sido bem sucedido numa tentativa de interface entre física e filosofia e que domina completamente a Teoria da Relatividade. Com meus melhores comprimentos, Albert Einstein”.
Hans Reichenbach havia seguido um curso sobre a relatividade dado por Einstein na Suíça em 1919, e os dois mantiveram alguma correspondência nas décadas que se seguiram. Reichenbach publicou vários livros de divulgação da Teoria da Relatividade para audiências mais amplas, e explorou suas implicações filosóficas.
O cartão deve datar de 1919 e a firme recomendação de Einstein mostra bem o quanto já apreciava o aluno. A relatividade é um dado fundamental para toda a filosofia posterior à sua descoberta e uma mensagem de Einstein preocupado com sua inserção mais ampla no pensamento do século XX torna essa peça especialmente marcante.