Em outubro de 2022, o empresário Elon Musk comprou o Twitter (atual X) por 44 bilhões de dólares (cerca de 235 bilhões de reais na época). Logo iniciou uma série de demissões. Não apenas isso. Musk também deixou de esconder que se tornara um direitista radical. Ele passou a responder tuítes de perfis da direita americana e convidou Dave Rubin, que comandava um podcast reacionário, a conhecer a sede do Twitter, contam os jornalistas Kate Conger e Ryan Mac no livro Limite de Caracteres: Como Elon Musk destruiu o Twitter, do qual a piauí publica um trecho na edição deste mês.
No livro a ser lançado pela editora Todavia, os autores – ambos jornalistas do New York Times – descrevem como Musk abriu as portas do Twitter para a direita radical. Já na posse de Lula os efeitos dessa política se fizeram sentir. Conger e Mac escrevem: “O início do novo ano [2023] trouxe também mudanças políticas no Brasil, que acabara de eleger seu novo presidente – o chefe do Twitter cravou as garras no que ainda restava da equipe de moderação de conteúdo, invalidando toda e qualquer decisão de remover tuítes que questionavam a derrota de Jair Bolsonaro.”
Logo depois da vitória de Lula, bolsonaristas começaram a alegar que a eleição tinha sido roubada, do mesmo modo como fizeram apoiadores de Donald Trump em 2020. Os moderadores de conteúdo do Twitter sabiam que precisavam agir rápido para evitar no Brasil uma situação parecida com o que ocorreu nos Estados Unidos: a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. E começaram a tirar do ar os tuítes que violavam as regras da plataforma.
“Assim que descobriu o que estava acontecendo, Musk decidiu impedir os próprios empregados, alegando que apenas tuítes que incitassem abertamente atos violentos ou então esbarrassem em decretos governamentais poderiam ser removidos”, contam Conger e Mac. “Ele estava fulo da vida com um juiz brasileiro que mandava várias solicitações para a empresa pedindo a remoção dos tuítes.”
O juiz citado no livro é o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com quem Musk tem tido atritos frequentes. No mais recente, o ministro exigiu, depois que o empresário fechou o escritório do X no Brasil, que ele nomeasse um representante da rede social em 24 horas. O prazo se esgotou e o X foi bloqueado em território nacional.
No dia 8 de janeiro, bolsonaristas invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal numa tentativa de golpe de Estado.
Coge e Mac relatam que a direita radical tinha vários motivos para celebrar a presença de Musk no Twitter. Para muitos, ele era a figura de liderança que afrouxaria as regras da plataforma, responsáveis por banir as contas de tantas pessoas influentes. Os dois jornalistas escrevem: “Uma lista insólita de celebridades da extrema direita retornou à plataforma. Ali Alexander, suspenso do Twitter depois do caos do 6 de janeiro no Capitólio, estava de volta. Ele era o organizador do movimento Stop The Steal, que alegava fraude nas eleições. Ron Watkins, o possível criador da teoria QAnon, também voltou. A presença de Musk se fez sentir para além dessa anistia. Em um tuíte postado no dia 16 de janeiro de 2022, ele declarou: ‘As pessoas da direita deveriam ver mais coisas ‘de esquerda’ e as pessoas da esquerda deveria ver mais coisas ‘de direita’.’ Na prática, o que aconteceu foi um alargamento das vozes vindas da direita radical. Por mais que Musk tivesse defendido a ideia de ‘proporcionar liberdade de expressão, mas não liberdade de alcance’, os algoritmos da plataforma passaram a recomendar mais e mais perfis e tuítes conservadores.”
Assinantes da revista podem ler a íntegra do trecho do livro Limite de caracteres neste link.