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Em outubro, operações da polícia no Grande Rio tiveram tantas mortes quanto nos quatro meses anteriores

Hellen Guimarães e Renata Buono | 08 fev 2021_09h00
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Depois da redução de 68% na média mensal de mortes por policiais de junho a setembro, logo após a decisão liminar do STF que restringiu operações, outubro marca o maior salto desse indicador em 2020. Mesmo com a decisão do STF ainda em vigor, o número de operações na Região Metropolitana dobrou em relação ao mês anterior (de 19 para 38), segundo dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF). O número de mortes confirmadas nessas ações é seis vezes maior que o de setembro: são 30 vítimas, o equivalente à soma dos quatro meses anteriores. Os pesquisadores do Geni ressaltam, no entanto, que esses números podem ser bem maiores. O número total de mortos por agentes do Estado verificado pelo ISP segue a tendência: vai de 54 em setembro a 145 em outubro, um patamar mais alto até que maio, antes da liminar.

Em agosto, a liminar do ministro Edson Fachin foi confirmada pelo plenário do Supremo. No fim daquele mês, Cláudio Castro assumiu o governo do Estado após o afastamento de Wilson Witzel. Se o ex-juiz foi eleito sob a promessa de que sua polícia “miraria na cabecinha e fogo”, o governador interino mostrou alinhamento com essa política de segurança pública: à revista Época, em novembro, garantiu que, em sua gestão, “não há lugar em que o Estado não possa entrar”. 

“Esse aumento em outubro é, na verdade, um retorno a patamares históricos do Rio. O que observamos de junho a outubro é que foi diferente, porque, por meio da liminar do STF, a gente teve uma redução das operações e, consequentemente, da letalidade policial — sem que houvesse aumento de crimes contra a vida e o patrimônio no período, é bom frisar”, explicou Daniel Hirata, professor da UFF e coordenador do Geni.

“As declarações fortes de Castro, sobre entrar em qualquer comunidade, não se referem à resistência de grupos armados, mas às restrições jurídicas impostas às operações policiais. Em seguida, Allan Turnowski, nomeado por Castro como secretário de Polícia Civil [em setembro], diz que gostaria de entrar com tanques em favelas, se pudesse. São declarações que deixam muito claro os sinais que eles deram às corporações, um cheque em branco para a arbitrariedade. Castro não é tão midiático quando seu antecessor [Witzel], mas vêm dos mesmos lugares, compartilha das mesmas convicções de que a brutalidade policial é a maneira de atuar em segurança pública. Não é”, analisa.

Fontes: Instituto de Segurança Pública (ISP) e Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF)

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