O carioca Matheus Pockstaller graduou-se em relações internacionais e cursou um mestrado sobre resolução de conflitos, que não terminou por causa de “uma tremenda ansiedade”. Enquanto transitava pelo universo acadêmico, descobriu os ensinamentos do geneticista suíço Ernst Götsch, radicado em Piraí do Norte, na Bahia, onde concebeu os princípios da chamada agricultura sintrópica.
O método possibilita o reflorestamento de regiões degradadas em paralelo à produção de legumes, frutas, verduras, cereais e leguminosas sem o emprego de fertilizantes sintéticos ou defensivos agrícolas industrializados. O leigo que observar um ecossistema do gênero se imaginará diante de um bosque virgem. Não perceberá que o matagal é também uma lavoura.
Oito anos atrás, com o intuito de aplicar as lições do geneticista, Pockstaller adquiriu um terreno de 2 mil m² em São Conrado, bairro do Rio de Janeiro. A propriedade fica num vale bem agradável, próximo das turísticas pedras Bonita e da Gávea. A Mata Atlântica cobre parte considerável do espaço, que abriga uma casa térrea de feições modernistas e apenas um dormitório.
O rapaz começou a transformação do vasto quintal logo que se instalou na residência. Com as próprias mãos, semeou várias espécies (comestíveis ou não) dentro da floresta nativa. Dessa maneira, criou uma área de agricultura sintrópica em plena capital fluminense, conta Armando Antenore na edição deste mês da piauí.
Quando iniciou a alteração do terreno, Pockstaller já sabia bem o que introduzir lá. Ele queria apenas sementes crioulas. Ou melhor: as que não sofreram alterações genéticas em laboratórios nem tratamentos químicos. O plantio delas acontece de um jeito muito natural e cabe sobretudo às famílias de pequenos agricultores, geralmente oriundas de populações tradicionais, como as indígenas, quilombolas, caiçaras e ribeirinhas.
Para conseguir os grãos, o carioca viajou pelos seis biomas do país: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa. Buscou exemplares típicos daqueles habitats ou provenientes de outros lugares, mas que se adaptaram longe de casa. Paralelamente, criou o Seeds Collective (Coletivo Sementes).
O grupo, constituído por mais quatro jovens, fotografou e catalogou 303 dos inúmeros grãos que Pockstaller recolheu pelo país. No começo de julho, o coletivo lançou Seeds and tales, livro em inglês e português que agrega imagens hiperampliadas de 101 daquelas sementes e seus respectivos verbetes. O volume, com 214 páginas, será o primeiro de uma trilogia. O grupo planeja, ainda, converter as fotos em quadros de altíssima resolução para expô-los e vendê-los como arte.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem e ver as imagens das sementes neste link.