Admiro o futebol argentino. Sempre admirei. Mesmo estando longe de ser craque, embora fosse muito bom atacante, um dos meus ídolos no Flamengo foi o argentino Doval. E desconfio que isso aconteça com os torcedores de todos os grandes clubes brasileiros. Conca no Fluminense. Fischer no Botafogo. Tevez no Corinthians. Ramos Delgado no Santos. Perfumo e Sorín no Cruzeiro. D’Alessandro no Inter. E por aí vai.
Isto posto, declaro a quem interessar possa que não torço, necessariamente, contra a Argentina. Depende do que estiver acontecendo no jogo, de quem é o adversário, de como os dois times se comportam no campo. E, mesmo, acho divertidas a capacidade inesgotável de zoar e a cara de pau dos torcedores. Muito bacana a elegância da seleção alemã, depois de triturar os maiores vencedores da Copa do Mundo, só que o futebol seria uma chatice se todos agissem com aquele tipo de nonchalance. Mas como isso aconteceu num dia que não existiu, deixa pra lá.
Recentemente, publicamos aqui no blog um post contrário às disputas de pênaltis. (Aproveito para lembrar que não se tratava de invenção minha: quem puxou a discussão sobre o assunto foi o senhor Joseph Blatter, em 2012.) Assisti ao jogo Argentina e Holanda com rigorosa neutralidade – e, confesso, certo desinteresse por qualquer coisa que tivesse a mais distante ligação com futebol –, mas quando o jogo foi para os pênaltis, torci para a Argentina. Acho um absurdo que uma seleção chegue à final da Copa do Mundo com duas vitórias consecutivas nos pênaltis, o que teria acontecido caso a Holanda passasse. Entretanto, para desapontamento da nossa leitora Bia, os holandeses não puderam recorrer a Krul, e dançaram. Nederland bateu bem, mas não adiantou.
Pelo mesmo motivo que escolhi a Argentina para torcer na semifinal, me decidi pela Alemanha na decisão. Ao menos os alemães ganharam suas três partidas de mata-mata com a bola rolando. Além disso, uma vitória da seleção alemã premiará o planejamento, a renovação e o trabalho bem feito, ampliando o tamanho da lição que recebemos no dia que não existiu.
Calma. Sei que uma das coisas mais sensacionais do futebol é, justamente, o improviso derrotar o planejamento, e isso sempre poderá acontecer. Por outro lado, se o trabalho bem feito não representa certeza de vitória, ele a deixa mais perto.
Quanto a nós, sábado entraremos em campo para participar do mais sensaborão de todos os jogos de futebol: a disputa pelo terceiro lugar. É como cantava o Ultraje a Rigor na música “Terceiro”:
Concordo com o técnico holandês Louis Van Gaal: eis um jogo que não deveria existir. Um desnecessário duelo de losers. E já que o pessoal gosta tanto de disputa de pênaltis, segue a sugestão. Aproveitem que os oito campos de pelada do Aterro do Flamengo estão ajeitados, com grama sintética e o escambau, tudo bem melhor do que nos tempos em que eu defendia o time da rua Lauro Muller e cair naquela terra rala era pior do que mordida do Suárez ou joelhada do Zúñiga. Peguem o Fred e o Huntelaar, levem pra lá e decidam.
Se eu vou ver o jogo? Para quem passou a ler o blog há pouco tempo, informo que já cheguei a escrever sobre uma partida da terceira divisão do Campeonato Brasileiro (Guarani x Madureira). Estarei lá, firme e forte, acompanhado de minhas fieis garrafinhas long neck e assistindo à – se Deus quiser – última apresentação da nossa seleção sob o comando de Felipão e Parreira.
Anteontem, o programa “Linha de Passe”, da ESPN, promoveu uma enquete entre os telespectadores para decidir quem seria o melhor técnico para a seleção brasileira. Sessenta e nove por cento dos participantes votaram na opção “treinador estrangeiro”, sem sequer saber quem seria o cara. Pelo visto, ninguém mais aguenta nossos professores de notório saber e indecentes derrotas.