O romancista Erico Veríssimo e o poeta Raul Bopp, grandes escritores gaúchos, mantiveram por décadas um relacionamento cordial. No arquivo de Bopp encontram-se várias cartas e cartões de Erico, entre as quais se destaca a carta reproduzida nesta página. Escrita à mão, e assinada Erico, a carta data do final da estada de Veríssimo nos Estados Unidos, onde foi adido cultural da Embaixada do Brasil em Washington por três anos, de 1953 a 1956.
A carta é interessante por mencionar seus filhos e a amizade com Clarice Lispector:
“Aqui vamos muito bem, mas já pensando em voltar. Faz três anos que estamos em Washington. Desde que cheguei fiz mais de quatrocentas conferências. Virei este país pelo avesso (viagens, ). Clarissa está fazendo um belo curso de teatro e tem aparecido com sucesso em várias peças. Luis Fernando, fã de jazz, toca saxofone, é pintor e devorador de livros. Mafalda “dá comida aos artistas” , segundo suas próprias palavras… Quanto a mim já entrei na incerta casa dos cinquenta mas, so far, no complaints… Aqui convivemos com os Valentes, Maury e Clarisse, excelentes praças”.
Erico está falando de sua mulher, Mafalda, de sua filha Clarissa e do filho, o escritor e desenhista que hoje todos conhecem, Luis Fernando Veríssimo, “fã de jazz … e devorador de livros”.
Os “excelentes praças” Valentes, a que Erico se refere, Maury e Clarisse, são Clarice Lispector e seu marido, o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem Erico e Mafalda conviveram intensamente e formaram grande amizade, quando serviam juntos na Embaixada de Washington. Não por acaso Erico comete um lapso na grafia do nome de sua amiga Clarice, escrevendo-o com dois esses, talvez por ter sempre presente o nome de sua própria filha, Clarissa. Essa carta faz parte do arquivo de Raul Bopp, que se encontra hoje nas mãos de um colecionador particular.