Até janeiro de 2022, os Estados Unidos aplicaram 512 milhões de doses de vacina, incluindo doses de reforço. No mesmo período, todo o continente africano – que tem o triplo da população norte-americana – aplicou apenas 310 milhões de doses. A África é o continente com menor cobertura vacinal do mundo, com apenas 9% da população totalmente imunizada até o começo do ano. É nesse continente que estão localizados alguns dos países menos vacinados do planeta, como Chade e Guiné-Bissau, onde pouco mais de 1% da população completou o esquema vacinal.
Na última semana, o mundo enfrentou uma nova explosão de casos de Covid-19. O número de casos registrados, 2,5 milhões em 24 horas, foi o maior desde o início da pandemia, graças à rápida disseminação da variante Ômicron. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, afirmou que as baixas taxas de vacinação em alguns países criaram as “condições perfeitas” para o surgimento de novas variantes e que a desigualdade na distribuição de vacinas foi uma das “grandes falhas ocorridas no passado”.
Mas a falha mencionada por Ghebreyesus ainda não foi corrigida. Em 2021, a OMS se opôs ao uso de doses de reforço antes que a maioria da população mundial tivesse acesso às duas doses do imunizante (ou à vacina de dose única). Mesmo assim, países com doses sobrando aplicaram o reforço vacinal. Nos Estados Unidos, quase 22% da população já recebeu a dose booster. A quantidade de doses usadas como reforço no país norte-americano poderia garantir a imunização de toda a população de doze países africanos, somados: República do Congo, Eritreia, República Centro-Africana, Libéria, Mauritânia, Lesoto, Namíbia, Botswana, Gâmbia, Guiné-Bissau, Gabão e Maurícia.
A OMS emitiu um novo comunicado no fim de 2021. A organização pediu que os países se esforcem para garantir que, até abril, 40% da população mundial já esteja vacinada. Até junho, a meta é alcançar 70%. No momento, contudo, esse é um cenário improvável.