O bilionário israelense Beny Steinmetz, ex-sócio da Vale em um projeto de mineração de ferro na Guiné, um dos países mais pobres do continente africano, foi condenado nesta sexta-feira (22) a cinco anos de prisão pela Justiça da Suíça. A decisão foi anunciada pelo tribunal, em Genebra, às cinco da tarde no horário local (13 horas no horário de Brasília). Além da pena de reclusão, Steinmetz, de 64 anos, deverá pagar uma multa de 50 milhões de francos suíços pelos crimes de corrupção de funcionários públicos estrangeiros e falsificação de documentos. A piauí_171 contou a história do empresário e de seus rolos na Justiça. A reportagem está aberta a todos os leitores.
O julgamento teve início em 11 de janeiro e se encerrou sete dias depois, quando a Promotoria pediu a condenação de Steinmetz. Diante de provas obtidas pelo governo da Guiné e por testemunhas, os promotores concluíram que, em 2008, o empresário corrompeu Mamadie Touré, a quarta mulher do então ditador guineano, Lansana Conté, com o intuito de conseguir os direitos de exploração dos blocos 1 e 2 da mina de ferro de Simandou. Situada no sudeste da Guiné, Simandou é a maior reserva de ferro ainda intocada no mundo. A licença para explorar a mina pertencia, na época, à gigante anglo-australiana Rio Tinto.
Dois anos depois de obter a concessão para explorar a reserva, Steinmetz vendeu metade dela para a Vale, num acordo de 2,5 bilhões de dólares. A empresa brasileira, no entanto, só pagou 500 milhões de dólares, já que a sociedade entrou em conflito depois que o novo governo da Guiné, liderado pelo presidente Alpha Condé, cassou os direitos de exploração sob alegação de corrupção. Em 2015, a sociedade foi finalmente desfeita, e a Vale processou Steinmetz na Corte de Londres. A empresa acusa o israelense de ter omitido que a concessão havia sido obtida de forma irregular, e que isso, além de criar constrangimento, inviabilizou o negócio no qual a brasileira já havia investido mais de 1,2 bilhão de dólares.
Na sentença proferida hoje, a juíza suíça acatou a decisão dos três jurados do tribunal. Eles concordaram com a tese da promotoria de que Steinmetz só conseguiu a concessão às custas de corrupção. Até ontem, porém, dizem os advogados, o bilionário israelense estava confiante de que seria inocentado. Uma das razões para isso era o fato de que Touré, ex-primeira-dama da Guiné, não compareceria ao julgamento. Principal testemunha de acusação, ela confessou ao FBI ter recebido dinheiro de Steinmetz para fechar o negócio.
Durante uma das sessões de julgamento, o israelense voltou as baterias contra a Vale. “Eu tenho muito mais coisas para dizer sobre o papel da Vale nessa transação”, afirmou Steinmetz, em um de seus depoimentos. Foi, contudo, interrompido prontamente por seu advogado, que disse que aquele não era o momento adequado para entrar no assunto.
Na noite de quinta-feira (21), o empresário preparou uma apresentação que divulgou somente hoje para a imprensa, após o resultado do julgamento. Nessa apresentação, voltou a dizer que é vítima de uma armadilha montada pelo presidente Alpha Condé e pelo megainvestidor húngaro George Soros, seu inimigo fidagal, que vinha orientando o novo governo da Guiné a respeito das concessões de mineração. Segundo Steinmetz, eles o queriam fora do país para que pudessem pegar sua parte na sociedade com a Vale.
Ao condenar o empresário, a presidente do tribunal, Alexandra Banna, reclamou do que chamou de “justificativas absurdas” e “falsas declarações” de sua defesa. Segundo relatos de quem esteve presente ao julgamento, a juíza ainda acusou Steinmetz e seus colegas de serem “péssimos mentirosos, cujo testemunho invariavelmente acaba se mostrando falso”. Um dos advogados do israelense contou que, antes de o julgamento começar, ao notar a linguagem corporal dos jurados suíços, previu que o desfecho seria ruim para seu cliente.
Apesar da condenação sofrida hoje, Beny Steinmetz vai recorrer da sentença em liberdade.