A pedido de Carlos Alberto Mattos, indiquei há algumas semanas dez filmes que, nas palavras dele, “considero mais importantes na formação do meu olhar de cineasta”. Seriam meus , nome da série que ele começou a publicar em 2007.
Por coincidência, dias depois de ter mandado minha lista, estive com o Carlos Alberto Mattos e ele me perguntou por que não há nenhum filme brasileiro nos meus faróis.
Confesso que a exclusão não foi deliberada e tive dificuldade, na hora, para responder. Desde então tenho tentado entender essa ausência.
Meu critério foi escolher filmes que vi pela primeira vez há poucos anos e que me indicaram caminhos interessantes. É claro que nos meus longínquos anos de formação há títulos que me atrairam de forma irresistível para o cinema, como Deus e o diabo na terra do sol, por exemplo. Mas nos últimos 20 anos, devo admitir que não tive nenhuma experiência sequer remotamente parecida à da primeira visão do filme de Glauber Rocha, em abril de 1964, nem à propiciada, a menos tempo, pelos filmes estrangeiros que indiquei como meus faróis.
Em meio às tempestades e à escuridão, faróis sinalizam a aproximação de terra firme ou de penínsulas, ilhas, formações rochosas etc. que podem pôr navios em risco e provocar naufrágios.
Mas, no cinema, faróis não protegem os navegadores dos riscos inerentes à atividade. Para quem está a bordo, o naufrágio parece sempre iminente. O espectador até pode ser atraído pela catástrofe, e se sentir solidário, desde que esteja em lugar seguro – em terra firme ou na plateia.
Entre afundar ou se agarrar a uma prancha, não há alternativa. “É preciso estar pronto para ser levado indefinidamente pelo mar, sem pensar em aterrisagens e portos" seguros, nos ensina Hans Blumenberg (Shipwreck with Metaphor – Paradigm of a Metaphor for existence. Cambridge & London, The MIT Press, 1997. p.73 [primeira edição alemã de 1979]).
É claro que há filmes brasileiros que animam a persistir. Incluiria entre eles alguns títulos do Cao Guimarães, além de O prisioneiro da grade de ferro (2003), de Paulo Sacramento; Cinema, aspirinas e urubus (2005), de Marcelo Gomes; Pan-cinema permanente (2008), de Carlos Nader; Praça Saens Peña (2008), de Vinícius Reis; Entre a luz e a sombra (2009), de Luciana Burlamaqui; Corumbiara (2009), de Vincent Carelli; Diário de uma busca (2010), de Flavia Castro; Terra deu, terra come (2010), de Rodrigo Siqueira, e Elena (2012), de Petra Costa, entre outros – todos, a meu ver, belíssimos faroletes.