A repórter da revista semanal Proceso relatou os perigos que enfrenta na cobertura do violento cartel de drogas do México. Em 2010, após publicar o livro Os Senhores do Narco – em que destrincha o tráfico de drogas em seu país e nomeia políticos, policiais e autoridades envolvidas -, Anabel Hernández passou a ser ameaçada de morte. Os mediadores da conversa foram os repórteres Carol Pires, da revista piauí, e Bradley Brooks, da Associated Press.
Hernández advertiu sobre os riscos de sua escolha profissional: “Jornalistas que queiram trabalhar nesse universo de descobrir a escória de um país têm que entrar nesse encanamento mais profundo, na sarjeta, e sair disso para contar uma história. Não fiquem esperando ganhar prêmios. Eu faço porque tem que ser feito. É um problema seríssimo que está invadindo nosso cotidiano.”
Seu interesse pelo tema começou quando investigava o trabalho infantil em plantações de papoula e maconha, que existe há muitos anos: “Percebi que as crianças queriam fazer aquilo e não se davam conta de que eram o elo mais fraco da cadeia de tráfico de drogas.” Décadas antes, um dos menores aliciados por esses plantadores seria um dos grandes chefes do narcotráfico no mundo, Joaquín Guzmán Loera, El Chapo.
A jornalista questionou as versões oficiais sobre a recente fuga de Chapo Guzmán. Hernández afirmou ter sido informada de que El Chapo tinha regalias de hotel cinco estrelas na prisão e que sua fuga foi facilitada pelo alto escalão do governo mexicano: “Ficou claro para mim que o tráfico de drogas não teria o poder que tem hoje se não fosse a conivência dos governos”, afirmou.