Dois livros de ficção científica publicados no início do século XX – um do escritor e jornalista afro-americano Georges Schuyler, outro de Monteiro Lobato – guardam curiosas semelhanças. O livro de Schuyler, Branqueador instantâneo – Black no more, foi lançado nos Estados Unidos em 1931 e ganhou recentemente uma edição brasileira. O de Lobato, O presidente negro, foi publicado em 1926, e conta sobre um conflito entre brancos, negros e feministas na eleição do ano de 2228 nos Estados Unidos.
O debate racial é o tema dominante dos dois livros. “Ambos coincidem no objetivo irônico, para não dizer debochado, com que tratam o papel dos negros na sociedade americana – a ponto de postularem a extinção da raça negra”, escreve Tom Farias na edição deste mês da piauí. Em Branqueador instantâneo – Black no more, um cientista inventa uma geringonça revolucionária que é capaz de transformar negros retintos em brancos caucasianos. Em O presidente negro, a geringonça revolucionária para transformar negros retintos em brancos caucasianos Lobato fala de negros que, no longínquo século XXIII, recorrem à técnica futurista da “despigmentação”, o que os deixa com a pele “horrivelmente esbranquiçada”.
“É certo que a ironia tem função diferente em um caso e outro”, observa Farias. “Para Schuyler, trata-se de criticar a ambição dos negros de ascenderem na sociedade americana utilizando os mesmos recursos dos brancos capitalistas. O objetivo da sátira de Lobato é diferente: mostrar como a incompatibilidade das raças no solo americano é incontornável e como a superioridade dos homens brancos leva necessariamente à subjugação das mulheres e dos negros, quando não ao extermínio dos afro-americanos.”
De perfil conservador e inclinado à polêmica, Schuyler (1895-1977) foi um dos principais jornalistas de seu tempo. Chegou a visitar o Brasil, onde manteve contato com o ativista, ator e também jornalista Abdias Nascimento. Escritor controverso, Lobato (1882-1948) defendeu ideias racistas e eugenistas.
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