O candidato do ministro Onyx Lorenzoni ganhou a eleição para a presidência do Senado neste sábado, mas por pouco. Num pleito que durou mais de doze horas, Davi Alcolumbre, do DEM do Amapá, conquistou a liderança da Casa com 42 votos, enquanto o mínimo necessário para a vitória é 41.
“Este não é um processo democrático. Davi não é Davi, o Davi é um Golias”, esbravejou um Renan Calheiros revoltado na tribuna em meio à segunda votação do dia. Em seguida, o cacique do MDB, que até então era postulante à presidência do Senado e principal adversário de Alcolumbre, se retirou da disputa. Calheiros anteviu a própria derrota quando senadores passaram a declarar abertamente seus votos por pressão de correligionários, depois que a primeira votação foi cancelada por suspeita de fraude. Mas, mesmo sem o alagoano para polarizar, o Golias, no caso, Davi Alcolumbre, ganhou apertado. Por apenas dois votos o pleito não foi ao segundo turno.
Sábado começou com uma decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, ordenando que a votação fosse secreta e presidida pelo senador mais idoso da Casa, que atualmente é o emedebista José Maranhão, aliado de Calheiros. A liminar veio depois de uma sexta-feira de ânimos exaltados. Alcolumbre havia se autoproclamado presidente e não só presidiu a cerimônia de posse dos senadores no dia 1º, como também queria presidir a sessão eleitoral, mas foi impedido. A senadora Kátia Abreu, do PDT, aliada de Renan, confiscou a pasta com os documentos da sessão. “Ele não pode ser presidente e comandar o processo eleitoral em que é candidato”, esbravejava Abreu. A revolta se deu no momento em que Alcolumbre abriu para votação a escolha sobre a publicidade dos votos da eleição. É previsto no regimento interno que os votos sejam secretos, o que beneficiava Calheiros. A senadora do Tocantins permaneceu agarrada à pasta confiscada até o momento em que a sessão foi suspensa para o retorno no dia seguinte. Pela manhã, apareceu com um buquê de flores para aquele que viria a se tornar, oficialmente, o presidente do Senado.
Davi Alcolumbre ficou em terceiro lugar na disputa para o governo do Amapá nas eleições de 2018. Derrotado, decidiu pleitear a presidência do Senado. Quase desconhecido no resto do Brasil, era o terceiro suplente da Mesa Diretora do Senado da legislatura anterior e o único que havia restado para a próxima. Todos os outros senadores estavam em fim de mandato e portanto não poderiam continuar na diretoria a partir do dia 1º de fevereiro. Dessa forma, na cerimônia de posse dos Senadores, tomou o posto de líder da Casa. Instalou-se na cadeira da presidência às 10 horas de sexta-feira e só saiu doze horas depois, sem sequer ter ido ao banheiro, para não deixar o lugar vago.
Durante a sessão, marcada por intensos bate-bocas, Calheiros chegou a partir para cima de Tasso Jereissati, senador do PSDB. “Você vai para a prisão”, retrucou Jereissati ao emedebista. O tucano acabou sendo um aliado importante de Alcolumbre, a ponto de retirar a própria candidatura em favor do candidato do DEM e costurar apoios.
Major Olímpio, senador pelo PSL paulista, partido do governo, estava incomodado com a candidatura crescente do adversário. Afinal, o PSL apoiou Rodrigo Maia, do DEM do Rio de Janeiro, para a presidência da Câmara e na sequência lançou Olímpio candidato ao Senado. Maia se elegeu com ampla maioria, enquanto o senador teve que retirar sua candidatura para apoiar Alcolumbre, que no sábado se fortaleceu como figura anti-Calheiros. Quando o emedebista abriu mão da própria candidatura, Major Olímpio chegou a perguntar se poderia voltar à disputa. Mas já era tarde, o DEM já vislumbrava uma hegemonia no Congresso presidindo as duas Casas.
Não foi só Olímpio que tentou mudar a história do pleito depois da saída de Calheiros. O senador Esperidião Amin, do PP de Santa Catarina, insistiu para que a votação começasse de novo. Ele defendeu que com a saída do alagoano acabava a polarização e assim outros candidatos poderiam se fortalecer. Ao fim e ao cabo, Calheiros foi o fator que ajudou a eleger o candidato do DEM, pois além de ter polarizado a disputa, eliminou uma outra candidata que poderia ter feito o PSDB se aliar ao MDB: a senadora Simone Tebet, do Mato Grosso do Sul, que dos 13 votos do partido, angariou 5 para sua candidatura. Foi mais forte do que Calheiros esperava, mas não o suficiente para superá-lo. No sábado, Tebet chegou a lançar uma candidatura independente, mas só para ter direito de fazer discurso na tribuna. Na sequência retirou a candidatura para apoiar Alcolumbre.
Quando o MDB decidiu pelo seu nome, Calheiros recebeu um telefonema do presidente Jair Bolsonaro. A ligação foi vazada para a imprensa. Uns dizem que o vazamento veio do próprio candidato, para mostrar força. O emedebista, por sua vez, diz que foi obra de Lorenzoni, para beneficiar Alcolumbre. O fato é que o presidente ligou, o que mostrava que Calheiros era forte candidato. Tanto que Flávio Bolsonaro, senador pelo PSL do Rio de Janeiro, votou secretamente na primeira votação de sábado. No Twitter, chegou a dizer que não abriria a sua escolha para não prejudicar seu pai. Mas quando se descobriu que dentro da urna tinham 82 cédulas, apesar de serem apenas 81 senadores, a confusão se fez. A primeira votação foi cancelada.
Renan Calheiros foi acusado de ter fraudado as urnas. “Cadê as provas?”, gritou Eduardo Braga, líder do MDB. Diante da confusão, Flávio abriu o voto em Alcolumbre. O senador Rocha, do PSDB, anunciou que todos os colegas de partido também abririam o voto. Vislumbrando a derrota, Calheiros pediu a palavra para retirar sua candidatura. “Tiraram qualquer possibilidade de termos os votos do Zé Serra e da Mara Gabrilli. O Flávio anunciou agora que estava abrindo o voto”, disse. Onyx Lorenzoni havia vencido a batalha.