Dirigido por Alexandre Ottoni e Deive Pazos, o podcast França e o Labirinto é uma história policial em treze capítulos. A novidade é o fato de ser um roteiro de ficção e suspense, coisa rara na podosfera brasileira, que tem se destacado mais na seara da não ficção. Nelson França, o protagonista da série, é um detetive cego e aposentado, atormentado por um fracasso amoroso e pelo ostracismo imposto a quem já foi uma referência na profissão. Ele vive da glória de ter desvendado os crimes de um serial killer que mandou para a cadeia vinte anos antes, mas agora o assassino volta para se vingar, e o envolve numa trama muito bem arquitetada.
Com uma atuação potente de Selton Mello no papel principal, a narrativa tem ares de film noir e lembra uma novela de rádio com alto padrão de qualidade. O áudio foi produzido como se fosse uma imagem tridimensional, no qual o som surge em várias camadas e em pontos diferentes do espaço para compor o clima de suspense que a história pede. O som se expande em todas as direções, e ganha uma materialidade física, uma certa concretude. O ouvinte é inserido no centro de cada cena e fica absorto naquela atmosfera de mistério. O detetive tem um sexto sentido que compensa a cegueira, mas se considera mais esperto do que realmente é, e se coloca em situações muito aflitivas para ele e para quem o ouve, pois é como se estivéssemos dentro da cabeça dele, atentos aos sons multicores, mas mergulhados num breu absoluto.
O virtuosismo sonoro parece excessivo no início da série, mas conforme a história avança o áudio se acomoda melhor a serviço da narrativa. A certa altura, a frase “mais perdido do que cego em tiroteio” é interpretada ao pé da letra, e rende um dos momentos mais interessantes da série. Os episódios têm durações variáveis, e há vários momentos de clímax que mantêm o ouvido grudado no fone. É uma boa surpresa de forma e conteúdo.
O podcast está disponível no Spotify.