Nesta segunda-feira, 22, funcionárias e funcionários da Globo deram início a uma manifestação silenciosa, batizada de “Movimento Esmeralda”. Composto por artistas, jornalistas, técnicos e auxiliares administrativos, o movimento, noticiado inicialmente pelo site Notícias da TV, acontece em apoio à engenheira Esmeralda Silva (nome fictício), que trabalhou na empresa entre os anos de 2017 e 2018. Por isso, os empregados da Globo foram trabalhar nesta segunda-feira vestindo roupas verdes. Esmeralda foi atacada por quatro homens, em ocasiões diferentes, durante o horário de trabalho. Em uma ação trabalhista que moveu contra a Globo por assédio sexual, assédio moral e xenofobia, Esmeralda ganhou uma indenização no valor de 2 milhões de reais. O canal propôs um acordo, que não foi aceito, e depois recorreu – o caso está no Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília.
A articulação do “Movimento Esmeralda” começou poucas horas depois da veiculação da reportagem A Globo e o assédio sexual , publicada no site da piauí na sexta-feira à noite. A ideia partiu das equipes de jornalismo e ligadas ao Centro de Transmissão e Recepção de Sinais, o setor onde Esmeralda trabalhava e sofreu as agressões, em São Paulo. Em um primeiro momento, os manifestantes discutiram a ideia de trabalhar nesta segunda usando roupas pretas, em sinal de protesto. Depois, dado o fato de a engenheira ter escolhido o pseudônimo “Esmeralda” na reportagem, decidiu-se que as manifestantes vestiriam roupas verdes. Ana Maria Braga e Patrícia Poeta usaram roupas verdes durante a veiculação do Mais Você e do Encontro. A jornalista Clara Velasco, do Hora 1, também usou roupas verdes no telejornal. Há diversos outros exemplos de jornalistas usando figurino verde ao longo da programação de segunda, tanto na Globo quanto na GloboNews.
No começo da tarde, um time de 80 mulheres – todas usando verde e segurando cartazes onde estavam escritas as frases “Mexeu com uma, mexeu com todas” e “Somos todas Esmeralda” – se reuniu em uma escadaria da Globo, em São Paulo, para fazer um retrato oficial do movimento. A própria Esmeralda Silva, da Paraíba, onde vive atualmente com os seus pais, se emocionou e se sentiu acolhida pelo ato de suas ex-colegas de trabalho. “O verde traz a esperança de que eu possa um dia voltar a ser como eu era, feliz”, diz ela. “Tenho esperança de que as mulheres que sofreram assédio tenham coragem como eu tive de procurar justiça.”
Nesta quinta, 25, Esmeralda prestará depoimento em uma audiência de instrução na 36ª Vara do Trabalho, do Rio de Janeiro, em uma ação civil pública por assédio sexual que o Ministério Púbico do Trabalho move contra a Globo. Autor da denúncia, o procurador Francisco Carlos da Silva Araújo juntou o caso de Esmeralda com o das denunciantes do caso mais rumoroso de assédio na emissora – o que envolve o ex-diretor de humor Marcius Melhem, denunciado por várias colegas da Globo.
Procurada pela piauí, a Globo afirma ter ciência do “Movimento Esmeralda”. A seguir, a íntegra da manifestação da emissora: “A livre manifestação dos profissionais da empresa está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente. De qualquer forma, a Globo reitera que não comenta casos de Compliance e aproveita para reiterar também que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa. Da mesma maneira, a Globo mantém uma Ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação de seu Código de Ética, que são apurados criteriosamente, com a punição dos responsáveis por desvios. Nesse mesmo Código, assumimos o compromisso de sigilo em relação a todos os relatos de Compliance, razão pela qual não fazemos comentários sobre as apurações. Nosso sistema de Compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias.”