Mais trovadores cantaram a nossa “pátria de chuteiras”. Luiz Ayrão (“dá-lhe, dá-lhe bola, meu canarinho vai deixar a gaiola”) e Moraes Moreira (“tá lá, tá lá, tá lá, tá no filó, tá na filosofia, quem sabe sabe o craque brasileiro tem sabedoria) compuseram hinos de incentivo à Seleção Brasileira de 82. Antes, bem antes, o Trio Esperança havia gravado a curiosa Replay (“é gol, que felicidade… o meu time é a alegria da cidade”) – refrão que se tornaria prefixo de vários programas esportivos de rádio.
Moacyr Franco fez a tocante Balada nº 7, para o craque Garrincha, quando este abandonou melancolicamente os gramados. Na Cadência do Samba foi um grande sucesso de Ataulfo Alves, e nada tinha a ver com futebol. Mas é também o título original de uma canção de Luís Bandeira, mais conhecida como Que Bonito É, verso inicial do samba que depois viria a ser prefixo do cinejornal Canal 100, e viraria item obrigatório em qualquer evento futebolístico. Hoje, é Uma Partida de Futebol, parceria de Nando Reis com Samuel Rosa, sucesso com o Skank, o hino do momento, que toca em todos os estádios, entrega de prêmios e festas boleiras.
Sem medo de parecer cabotino, sou obrigado a citar a homenagem que compus a oito mãos – com Fagner, Fausto Nilo e Celso Borges – a Canhoteiro, ponta-esquerda maranhense, revelado no Ceará e que se tornaria ídolo do São Paulo entre os anos 50 e 60. Craque driblador, arisco e boêmio, Canhoteiro tem entre seus muitos fãs, Chico Buarque, autor de O Futebol, resenha filosófica sobre o esporte bretão, em que o compositor cria a linha de ataque (e a troca de passes) dos sonhos – “para Mané, para Didi, para Mané, Mané para Didi, para Mané, para Didi, para Pagão, para Pelé… e Canhoteiro”.
Jogadores de futebol também se lançaram na música – Pelé teve músicas gravadas por Sergio Mendes, Moacyr Franco, Jair Rodrigues e Elis Regina. O saudoso doutor Sócrates gravou, em 1980, um LP com clássicos da música caipira, como Chuá, Chuá e Casa de Caboclo, além de uma inesperada versão para Peguei um Ita no Norte, de Dorival Caymmi, homenagem à sua origem paraense. Às portas da Copa de 82, Zico, estrela maior daquela seleção, gravaria um compacto em dueto com seu compadre Fagner, com Batuquê de Praia e Cantos do Rio, ambas de autoria de Petrúcio Maia. E Júnior, lateral-esquerdo do Flamengo e da mesma seleção, entoou o samba Povo Feliz (“voa, canarinho, voa, faz lá na Espanha o que já sei”), um super-hit que ultrapassou a marca de 600 mil cópias vendidas, um fenômeno do mercado de discos da época – e de todas as épocas.
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