O Brasil é o país do futebol, dizem entendidos e comerciais de cerveja. E da música também. E de mil mazelas que nos assombram desde o começo dos tempos. Mas vamos nos concentrar nos dois assuntos iniciais, afinal, como diz a velha canção, “são coisas nossas”, muito nossas.
Sempre achei curioso que, no “país do futebol”, haja tão poucas canções que falem no tema. Digo “poucas” em proporção à importância do assunto, afinal não são tão poucas assim. Só Jorge Benjor, ex-Jorge Ben, que chegou a jogar na base do Flamengo na adolescência, é responsável por mais da metade desse repertório – Fio Maravilha, Umabarauma, Zagueiro, Camisa 10 da Gávea e Eu Vou lhe Avisar são algumas de suas canções/alusões ao ludopédio.
Mas há outros craques da música que também deixaram sua marca no nosso cancioneiro boleiro. Luiz Américo, santista ferrenho, foi responsável por um dos maiores sucessos de música de futebol de todos os tempos, Camisa 10, do indefectível refrão: “É camisa 10 da seleção, laiálaiálaiá”. A música, lançada às vésperas da Copa de 74, era uma divertida crítica à duvidosa escalação daquela seleção. Todo o Brasil cantou: “Desculpe, seu Zagalo, mexe nesse time que está muito fraco…”. Embora Américo tenha imortalizado a canção, ela é de autoria de Luiz Vagner e Hélio Matheus, outros dois craques compositores.
Antes, Jackson do Pandeiro já havia cantado “esse jogo não pode ser um a um, se meu time perder tem zunzunzum”, em Um a Um, de Edgar Ferreira. Jackson também foi porta-voz do Frevo do Bi, que celebrava a conquista da seleção de 62. Bela música! Mas nada que se compare à força de Pra Frente Brasil, do multi-homem Miguel Gustavo, publicitário e autor de alguns sambas-de-breque impagáveis gravados por Moreira da Silva, o grande Moringueira. “Noventa milhões em ação, pra frente, Brasil, no meu coração”. A música, gravada por Os Incríveis, infelizmente ficou pra sempre tida como propaganda da ditadura militar, o que prejudicou sua justa avaliação, pois é, em minha opinião, o maior “hino de futebol” de todos os tempos. E por falar em hino, impossível não mencionar Lamartine Babo e Lupicínio Rodrigues. O primeiro compôs os hinos de todos os grandes clubes do Rio, e o segundo fez o hino do seu Grêmio de Porto Alegre. Todos gols de placa.
Não posso esquecer de me referir a A Taça do Mundo é Nossa (“com o brasileiro, não há quem possa”), feita especialmente para a Copa de 58, que deu o primeiro campeonato ao Brasil na Suécia. A composição, obra de Wagner Maugeri, Maugeri Sobrinho, Lauro Muller e Victor Dagô, quatro publicitários-compositores, até hoje é cantada em vésperas de Copas. Os irmãos Maugeri também são os autores do hino popular do Santos Futebol Clube (Leão do Mar), tão conhecido e cantado pela torcida quanto o hino oficial do clube.