A jornalista Ginna Morelo, que trabalha no jornal El Tiempo, em Bogotá, participou da segunda conversa do Festival Piauí Jornalismo 2016. Paula Scarpin, repórter da Piauí, e Veronica Goyzueta, ABC Espanha, foram as mediadoras.
Morelo escreveu sobre crimes cometidos por paramilitares no interior da Colômbia – o que lhe valeu prêmios, mas também uma terrível lembrança: uma de suas fontes foi assassinada depois da publicação da matéria. Ajudou a coordenar a série de reportagens sobre desaparecidos no México e na Colômbia, em colaboração com o jornal mexicano El Universal, um trabalho investigativo reconhecido pelo maior prêmio de jornalismo de língua espanhola, o Ortega y Gasset. Ela é autora dos livros Tierra de Sangre: Memorias de las Víctimas e Córdoba: Una Tierra que Suena, sem tradução para o português.
No começo de sua carreira, Morelo escrevia para um pequeno jornal de província chamado El Meridiano de Córdoba. Foi responsável por uma grande investigação sobre o confisco de terras pelos paramilitares e as tentativas conturbadas de restituí-las aos donos. Em alguns casos, seu próprio pai atuava como seu motorista. “Alguns jornalistas trabalham com escolta na Colômbia. Eu sempre me neguei. Também não me sentia segura com a polícia, infelizmente”. E fez uma consideração: “Falta muita consciência dos meios de comunicação sobre os protocolos de segurança a serem seguidos”.
Quando Gildardo Padilla, uma fonte confiável da jornalista que já tinha perdido onze parentes vítimas da violência, foi assassinado, Gina ficou nove meses afastada do trabalho. Só aceitou voltar à atividade quando o jornal El Tiempo a convidou para ser editora de dados da publicação.
O plebiscito colombiano, em que a população votou contra o acordo de paz com as Farc, se tornou um assunto muito presente. “Nos últimos dois anos, tive a missão de andar por diferentes regiões e passar pelo coração das Farc na Colômbia. Cada vez que nós visitávamos esses lugares, nós encontrávamos um país dividido. Eu não esperava o ‘não’, mas o temia”, disse Morelo.
O presidente Juan Manuel Santos, que mediou o acordo, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. “Eu acho que o prêmio Nobel deveria ser dado às vítimas”, ponderou Morelo. “Vínhamos de uma sucessão de negociações falidas. A história colombiana tem episódios de desarmamento que não deram certo”.