De todos os presidentes dos Estados Unidos dos últimos cem anos, George W. Bush, o filho, foi talvez aquele de menor experiência internacional e justamente a quem coube enfrentar uma das maiores crises mundiais, com o 11 de Setembro e a Segunda Guerra do Iraque.
O despreparo e a falta de interesse de Bush são ainda mais estarrecedores quando se sabe que seu pai, (também George) que o antecedeu na presidência dos Estados Unidos, fora embaixador americano na ONU e na China e acumulava grande experiência internacional. A família de Bush era rica e o jovem George W. poderia ter viajado à vontade, se tivesse qualquer curiosidade por vida inteligente fora do Texas.
Mas a única viagem que Bush havia realizado à Europa antes de se tornar Presidente em 2000 fora um tour, aos vinte e poucos anos, do tipo um dia em cada país.
Muitos acham hoje que o mundo seria diferente se, em 2000, aquelas dezenas de votos recontados na Flórida (onde o irmão de George W. Bush era governador) tivessem pendido para o lado de Al Gore, seu adversário democrata. Mas como o exercício de história retrospectiva é inútil, mais vale constatar, como nos documentos reproduzidos nesta página, o quanto era raso o intelecto de Bush mesmo quando já era governador do Texas, quatro anos antes de chegar à presidência.
Os governadores são sempre muito atentos aos pedidos dos eleitores, pois um pequeno passo em falso pode significar, numa reeleição, a perda de muitos votos. Nesse sentido, o gabinete do governador procurava atender ao máximo a todos os pedidos, mesmo aquele, de um simples aluno da escola cristã Midland, Brent Crockett, que tinha como dever escolar entrevistar uma pessoa famosa.
Brent mandou, em setembro de 1996, uma série de perguntas ao governador, que Bush respondeu a lápis nas duas páginas do próprio fax do questionário. A secretária do governador, Karen Hughes, ao enviar as respostas batidas à máquina, resolve juntar também as folhas originais das respostas de Bush (cujo autógrafo na época não tinha qualquer valor), dizendo a Brent que estas “poderão ficar bem no seu álbum de lembranças”.
À primeira pergunta, se jamais havia sonhado em ser governador do Texas, Bush responde: “Não, eu queria ser jogador de beisebol”. Quando o jovem aluno indaga o que o preparou melhor para ser governador, Bush escreve apenas: “Ter aprendido a ler” (resposta sucinta que poderia deixar entender que sua escolaridade limitou-se a isso).
Quando o jovem Crockett pergunta: “Como teria tratado a questão do Iraque?”, sabe estar abordando assunto delicado, uma vez que a primeira Guerra do Iraque havia sido declarada pelo pai do governador. Previsivelmente, George W. Bush responde: “Exatamente como o presidente Bush fez”.
Quando perguntado: “Se fosse presidente, como trataria a questão da Bósnia?” (então numa guerra civil) Bush responde a lápis: “ Incerto”. Sua assistente sente-se obrigada a explicar, nas respostas batidas à maquina: “Brent, essa é uma questão muito difícil, governadores geralmente não lidam com assuntos de política externa”.
O jovem quer saber depois qual o atleta favorito do governador, se Bush ainda está envolvido no clube de beisebol no qual tinha sociedade e se pretende concorrer à próxima eleição, ao que Bush responde: “Vou resolver no próximo verão”. A pergunta final, também delicada, é a que diz respeito ao modo como o governador pretende conter imigrantes ilegais na fronteira do Texas, e Bush diz: “Insistir para que o Governo Federal forneça mais mão de obra e equipamento ao longo da fronteira”, tirando assim de si a responsabilidade pelo tema polêmico e passando-a ao então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
Essas duas folhas, que poderiam ter acabado na lata do lixo do próprio Bush, ou mesmo na do jovem aluno (caso o então governador não se tivesse tornado presidente dos Estados Unidos), revelam muito da mediocridade intelectual de um líder que o acaso pôs à cabeça do país mais poderoso do mundo num período turbulento. Muitos pensam que as decisões que tomou nos oito anos de seu mandato mudaram o mundo para bem pior.
É impressionante a rapidez com que Bush foi esquecido logo após o fim de seu mandato e sua quase total inexpressividade na atual vida política de seu país.
O jovem aluno Brent também parece ter se desinteressado de Bush, pois colocou as folhas em leilão nos Estados Unidos em 2008, quando foram adquiridas pelo atual detentor.