Habemus papa, golpistas e analfabetos
Semanalmente, os apresentadores mencionam as principais leituras que fundamentaram suas análises. Confira:
Conteúdos citados neste episódio:
Perfil de Robert Francis Prevost, o Papa Leão XIV, por John L Allen Jr.
Reportagem de Elizabeth Dias, para o The New York Times, sobre a tentativa de um grupo da elite trumpista de influenciar o Conclave.
Perfil de Joao XXIII, escrito por Hannah Arendt em seu livro “Homens em tempos sombrios“.
Coluna de Antônio Gois, para O Globo, sobre a influência da desigualdade social na educação.
Ensaio de Antonio Candido, intitulado “A perversão do Aufklärung“, no seu livro Textos de Intervenção.
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO:
Sonora: Rádio Piauí.
Fernando de Barros e Silva: Olá, sejam muito bem vindos ao Foro de Teresina, o podcast de política da Revista Piauí.
Sonora: Habemus Papam Leão de Timon Quarto.
Fernando de Barros e Silva: Eu, Fernando de Barros e Silva, da minha casa em São Paulo, tenho a alegria de conversar com os meus amigos Ana Clara Costa e Celso Rocha de Barros, Ana Clara, que está no Vaticano, em Roma. Bem vinda, Ana Clara.
Ana Clara Costa: Buon giorno! Oi, Fernando. Oi, Celso. Oi, pessoal!
Sonora: Pela fragilidade dos indícios, Pela independência desta casa, Pela harmonia entre os poderes, Eu voto pela sustação da ação penal.
Fernando de Barros e Silva: Buon giorno a tutti! E Celso Rocha de Barros, que está no Estúdio Rastro, no Rio de Janeiro. Diga lá, Casca de Bala.
Celso Rocha de Barros: Fala aí, Fernando. Pois é, como no episódio passado, falei muita besteira, agora me deixaram sozinho aqui de castigo no estúdio.
Fernando de Barros e Silva: Castigo cheio de pão de queijo aí, não me venha com demagogia. O cara tá sozinho com o pão de queijo.
Sonora: Aqueles alunos que são os que mais precisam de educação são aqueles que estão tendo o maior dificuldade por parte do poder público de ter uma solução para sua aprendizagem insuficiente.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Vamos sem mais delongas aos assuntos da semana. Habemus Papam! Abrimos o programa, obviamente, pela escolha de Robert Francis Prevost, a partir de agora, o Papa Leão XIV. Nascido em Chicago, ele tem 69 anos e é o primeiro norte americano a liderar a Igreja Católica. Sua trajetória religiosa se deu em grande parte no Peru, onde ele serviu por duas décadas e se tornou cidadão naturalizado. O novo Papa, de número 267 da história, foi apontado como uma opção equilibrada. Ele não figurava na primeira fila das apostas, embora seu nome aparecesse na lista ampliada dos papáveis, descrito pelos vaticanista como uma figura mais reservada e discreta que o antecessor Francisco, Prevost se aproxima de Bergoglio na ênfase à missão pastoral da Igreja, no olhar prioritário aos pobres e marginalizados como os imigrantes. No ano passado, o Papa disse ao site oficial do Vaticano que o bispo não deve ser um pequeno príncipe sentado em seu reino. Pelo contrário, é chamado a ser humilde, estar próximo do povo a que serve, caminhar com ele, sofrer com ele. Em relação à pauta de costumes, Leão XIV deve ser mais conservador que Francisco. Como bispo em Chicago, no Peru, ele se opôs a um plano do governo local de incluir ensinamentos sobre gênero nas escolas e já se manifestou em outras ocasiões nessa mesma direção. Com a participação luxuosa da nossa vaticanista juramentada Ana Clara, nós vamos contar como foi a nomeação e discutir o que se deve esperar do novo pontífice. Mas é um alívio, desde já, que ele não seja um líder alinhado com a extrema direita. No segundo bloco, vamos voltar para o nosso cercadinho e falar das artes da direita no Congresso. Começamos pela votação, eu diria, petulante, que decretou a suspensão do processo contra o deputado Alexandre Ramagem, aquele da Abin, processo em curso no STF. Foram 315 votos a favor do recurso apresentado pelo PL, partido de Ramagem, de Bolsonaro e de outros tantos golpistas. Os deputados sabem que o Supremo vai declarar a decisão inconstitucional, mas deram esse passo para tensionar ainda mais a relação entre os poderes e reforçar o discursinho de que o Supremo está interferindo no Legislativo. Na prática, em termos substantivos, os deputados estão defendendo autonomia para participar de golpe de Estado e tudo bem. A gente vai falar também da reorganização partidária em curso com a Federação entre União Brasil e o Progressistas sacramentada, a União Progressista, esse nome que parece um escárnio à luz do que eles representam politicamente, agora se consolida como a maior força da Câmara, ultrapassando o PL em número de parlamentares. Por fim, no terceiro bloco, a gente vai tratar da tragédia educacional brasileira. Ela está estampada em duas pesquisas recentes. A nova edição do Inaf, que é o indicador de analfabetismo funcional, mostrou que 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos, seguem sendo analfabetos funcionais. Não conseguem compreender texto simples nem realizar operações matemáticas básicas. É o mesmo índice de 2018 que mostra um quadro estagnado. Entre as coisas chocantes que a pesquisa mostra está o fato de que 12% dos brasileiros que concluíram o ensino superior são analfabetos funcionais. Têm diploma, mas são incapazes de compreender um texto. Uma segunda pesquisa, essa promovida pela ONG Todos pela Educação e pelo IED, que é Interdisciplinaridade e evidências no debate educacional, mostra que entre 2013 2023, cresceram as disparidades de aprendizagem entre os estudantes pretos, pardos e indígenas na comparação com estudantes brancos e amarelos. Isso tudo no ensino básico. Apesar de um avanço ou outro, são retratos de um país desigual que segue sendo cronicamente inviável. Habemus problemas e eles não são novos. É isso. Vem com a gente!
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Ana Clara. Vamos começar, obviamente, com você, diretamente do Vaticano. Acabamos de ter a notícia. Estamos gravando a quente logo após o anúncio do Papa Leão XIV. Robert Prevost, de 69 anos, norte americano, um cardeal progressista, acho que o mais progressista entre os dez votantes dos Estados Unidos. Eu passo a palavra a você. Temos muito o que falar. Benvenuto.
Ana Clara Costa: Ciao! Eu vou falar para vocês que eu falei muitas vezes desde que eu cheguei aqui em Roma, porque o nome dele, Robert Prevost, estava sendo ventilado como um dos papabile já tem um tempo… Ele estava dentro daqueles vinte, mas eu sempre disse aqui, comentando com meus colegas e tudo mais que eu achava que ia ser muito difícil a Igreja eleger um papa americano. Não faria sentido dentro da hipótese que era talvez majoritária, de continuidade do legado do Francisco, que embora ele fosse progressista, os Estados Unidos não são um país católico, embora tenha muitos católicos ali e o colégio de cardeais americano seja o segundo maior depois do italiano, com dez cardeais votantes. Se você pegar uma ideia de continuidade, de você levar a igreja para outros lugares, crescer a igreja onde ela está diminuindo ou onde ela não tinha entrado ainda, como o caso da África que foi onde mais cresceu durante o pontificado do Francisco. Para mim não faria sentido ser um papa americano no que eu estava absolutamente errada. Aí está o nosso primeiro Papa americano.
Fernando de Barros e Silva: Mas cuja trajetória foi feita na América Latina. Ele atuou por muitos anos no Peru.
Ana Clara Costa: Sim, exato. Tem várias mensagens nessa eleição papal. Eu estava conversando com uma fonte agora há pouco e o que ela estava me explicando era o seguinte quando Francisco, ele foi eleito papa, os cardeais, eles já chegaram no conclave com uma certa ânsia de sanar coisas, porque pouco antes daquele conclave tinha tido aquele Vatican Leaks, que é aquele vazamento de documentos sobre o pontificado do Bento, questões envolvendo pedofilia na Igreja e tudo mais. Correspondências do Bento tinham sido vazadas, que não o colocavam, obviamente, dentro desses escândalos sexuais, mas que o vulnerabilizaram de certa forma, aí teve a questão do Banco do Vaticano, que era um problema muito grande e que ele não conseguia lidar. Então, quando houve aquele conclave, essas eram as grandes questões e eles queriam alguém para sanar. E o Francisco surge dessa necessidade de saneamento de várias situações e de uma volta da Igreja para uma conduta mais pastoral e menos autorreferencial. E o que a gente vê hoje com uma eleição tão rápida? Foi no quarto escrutínio que é a mesma quantidade de escrutínios que foi a eleição do Bento, que foi uma eleição que não surpreendeu. Então, assim, o que essa fonte estava me explicando é que provavelmente os cardeais já chegaram mais ou menos com uma ideia feita para ser tão rápido. É um nome que, apesar de estar dentro da lista de possíveis, é um nome que não era o favorito. Estava longe de seu favorito até assim, nos últimos dias surgiram o Cardeal Maltês, outros nomes que acabavam entrando ali na bolsa de apostas. Mas ele esteve sempre, mas nunca como favoritíssimo, entendeu? Tem algumas questões ali. Ele é muito jovem, 69 anos.
Fernando de Barros e Silva: Não… Ele tem uma idade que… Dá para projetar, não sabe, ninguém tem bola de cristal, mas 20 anos de papado. Ele é relativamente jovem. O Wojtyła, se eu não me engano, João Paulo II, virou Papa com 58 anos.
Ana Clara Costa: É, bem mais jovem.
Celso Rocha de Barros: João Paulo II era bem novo.
Ana Clara Costa: Bom, talvez a maior parte dos outros que estavam sendo considerados também tivesse já os seus 70 para mais de 70. O ponto de ele ter sido criado Cardeal há pouco tempo, há cerca de dois anos, também é uma questão que surpreende, porque ele está há pouco tempo circulando nesse meio, embora ele já tivesse uma relação com o Francisco anterior a isso e até por isso foi criado Cardeal. É um nome que representa continuidade para o legado do Francisco e continuidade nessa questão da atenção aos pobres, tão característica do pontificado Francisco. A essa Igreja menos autorreferencial e muito mais missionária. E esse é o perfil dele. E tem uma questão específica que ele, que chefiou o Dicastério dos Bispos, o Dicastério, é como se fosse o ministério de um governo. No Vaticano eles chamam de Dicastério. E esse dicastério dos bispos, mal comparando, é só para a gente conseguir projetar para nossa realidade, é como se os bispos fossem governadores. Ele era o… A relação dos bispos, do episcopado, da Igreja, que são as pessoas que vão eventualmente virar cardeais com o Vaticano. Isso dava poder para ele, além de poder um contato muito próximo justamente com esse episcopado. Isso dá para ele um controle do funcionamento da Igreja e da relação com os bispos do mundo inteiro. Isso significa poder. Quando a gente fala que ele é um Papa progressista, eu gosto de ter esse cuidado, que foi uma coisa que eu ouvi muito aqui, que é a divisão na igreja, nem sempre é a mesma que a gente vê na sociedade de conservadores, progressistas, etc. Eles consideram o Prevost, Papa Leão XIV agora, uma pessoa mais aberta ao diálogo. É isso. Assim, eles consideram os conservadores na Igreja mais ligados à unidade e sua palavra que eles usam, ou seja, você tornar a tradição mais forte e você voltar o seu trabalho para quem já está na igreja para fortalecer a estrutura e a parte do diálogo, que é a ideia do Francisco para a Igreja. Então, que ele compartilha dessa ideia do Francisco, do diálogo. Então, por isso é visto também como continuidade. Mas ainda temos de ver o que significa isso na questão das mulheres, na questão dos costumes, do que ele vai falar sobre os gays. Como o Francisco falou, isso ainda não está claro. E até o Francisco ele só fala é só dá a benção dele aos gays em 2023, depois da morte do Papa Bento. Isso eu ouvi aqui em Roma, numa entrevista que eu fiz. O Francisco tinha uma relação muito boa com o Bento XVI, depois que ele se tornou papa e o Bento se tornou papa emérito. Embora eles divergissem em algumas coisas, não era um antagonismo. Uma das demonstrações desse apreço que ele tinha pelo Papa Bento teria sido ele esperar o Papa Bento morrer para ele se posicionar sobre esse assunto porque ele sabia que o Papa Bento não concordava. Também nesse aspecto, o Papa Francisco avançou muito, mas dentro de uma linha moderada. E eu acho que é importante a gente colocar esse novo Papa na perspectiva do papel dos Estados Unidos no mundo. Bom, o Trump foi para o funeral do Papa, um papa que ele considerava comunista. Ele postou uma foto de inteligência artificial, vestido de papa. E aí temos um Papa americano. Uma das leituras que têm sido feitas sobre isso nessas primeiras horas é o seguinte: esse Papa não concorda com o Trump. Se é um papa missionário, se é um Papa que acredita na função da Igreja junto ao povo e junto aos pobres, isso de certa forma, contraria a política até agora implementada pelo Trump, que é de cortar totalmente ajuda humanitária. E parte dessa ajuda humanitária que ele cortou acabava sendo implantada por meio da igreja. Então teve um impacto na igreja muito forte. Algumas pessoas estão lendo essa escolha como uma resposta da igreja a essa postura dos Estados Unidos, de corte de políticas que a Igreja julgava fundamentais. E eu acho que também vai ser uma coisa que os vaticanistas vão tentar entender: qual foi a influência do Papa Leão XIV nesse comunicado que foi divulgado depois da última Congregação Geral, que foi um comunicado sobre a Guerra da Ucrânia e a Guerra de Gaza. Obviamente, um comunicado condenando essas duas guerras e pedindo a paz. Foi uma situação inédita. Nunca uma Congregação Geral, que são essas reuniões que eles fazem nas vésperas do conclave para dizer o que eles pensam sobre a Igreja e como eles querem a Igreja. São reuniões sigilosas e têm participação da imprensa e do público. E eles falam que eles querem falar lá. E no final dessas congregações é que eles se trancam no conclave. Alguns dias depois da última congregação e pela primeira vez na história, o final das congregações acabou sendo marcado pela divulgação de um comunicado oficial condenando a guerra. Qual foi a influência do Papa Leão nisso? E se esse comunicado teve, de alguma forma, uma articulação dele que já o catapultou para esse favoritismo que acabou se consolidando na eleição dele como Papa.
Fernando de Barros e Silva: Me chamou a atenção no primeiro pronunciamento dele, ali na sacada da Basílica de São Pedro, ele falou muito em paz. Abriu o discurso dele falando em paz. Celso, Habemus papa.
Celso Rocha de Barros: Pois é. Fumacinha branca, fumacinha branca. Então, Fernando, obviamente o Papa acabou de se apresentar, mas já começaram as análises. Primeiro, tem toda uma discussão do quanto você deve ler na escolha que os papas fazem e do nome que eles vão usar com o Papa. Então às vezes é bem importante. No caso do Francisco, por exemplo, era evidentemente uma homenagem a São Francisco de Assis e revelava não só sua origem franciscana, mas sua decisão de fazer um papado voltado para os mais pobres, etc. O nome escolhido pelo Prevost, Leão XIV, naturalmente remete ao Leão XIII, que é um Papa particularmente importante, porque foi no papado do Leão XIII que foi publicada a encíclica Rerum Novarum. Qualquer um que tenha conhecido qualquer discussão sobre Teologia da Libertação, doutrina social da Igreja ou coisa que o valha, sabe: a Rerum Novarum é considerado o início da doutrina social da Igreja.
Fernando de Barros e Silva: E a gente está falando isso… O final do século XIX, o Leão XII assume em 1878, se não me engano, não é isso? E vai até 1903. É um papado longo.
Celso Rocha de Barros: É. Então assim, se for essa a razão de ele ter escolhido, é significativo. John Allen, que é um vaticanista americano muito famoso, escreveu no site Crux. Ele fez o perfil de vários papáveis nos últimos meses e ele disse que a escolha do Prevost sinalizaria um voto de continuidade com muito da substância do Francisco, mas não do estilo. Então, o Prevost seria bem mais discreto e menos disposto ao confronto, disposto a brigar abertamente. A primeira mudança de estilo a gente viu quando ele se apresentou como Papa já com a vestimenta completa, o Francisco se apresentou só com aquela roupa branca, justamente que ele queria dar uma mensagem de simplicidade, meio de romper com a tradição. Então esse era um sinal de que ele realmente tem uma coisa um pouco menos de disposição de entrar em conflito aberto com os caras mais tradicionais, etc. Mas, em tese, isso não quer dizer que ele não esteja disposto a defender as questões. Ele, em geral, até hoje foi bem mais discreto do que o Francisco em muitas questões comportamentais. Mas isso também tem uma coisa não dá para deduzir perfeitamente que o cara vai fazer como papa do que ele fez até hoje, porque até hoje ele obedecia um ou outro Papa, certo? Tinha geralmente obediência a um outro cara. Tem um monte de coisa em aberto aí para saber o que ele vai fazer. E obviamente, era até razoável que ele se mantivesse mais discreto do que o Papa, que é naturalmente quem decide essas coisas, quem vai dizer o que pode e o que não pode para os católicos. Agora, o que evidentemente vai ocupar boa parte da discussão nos próximos dias é a ideia de escolher um papa americano durante o governo Trump. Bom, o JD Vance, o vice presidente americano, que é um fascista miserável é um convertido recente ao catolicismo. E ele vem defendendo umas teorias muito loucas lá, sabe de onde essa gente tira essas coisas, sobre a necessidade de você hierarquizar o amor, então tem que primeiramente amar sua família, depois amar seu país, depois amar o mundo, etc. Isso seria um argumento a favor dessa coisa de você, por exemplo, excluir imigrantes. O novo Papa, outro dia desses, no dia 3 de fevereiro, postou no falecido Twitter: “JD Vance está errado. Jesus não nos pede para hierarquizar o nosso amor pelos outros” e retuitou um texto que justamente diz que a mensagem do Evangelho vai ser ampliar o seu círculo de amor. Você sair da sua família, depois para o mundo.
Fernando de Barros e Silva: Como diz o Chico vendedor raiz, conta ponto.
Celso Rocha de Barros: Conta ponto. Exatamente. Já tretou com JD Vance. Aliás, uma trumpista maluca chamada Laura Loomer, completamente totoca das ideias, já veio hoje postar “Papa marxista e woke”. Eu fiquei animado, mas parece que não é, entendeu? Assim… Infelizmente é um exagero.
Fernando de Barros e Silva: De qualquer forma, é um cargo claramente político, tem a dimensão espiritual, enfim, é político em várias frentes, mas é um contraponto à onda conservadora.
Celso Rocha de Barros: E é isso que eu acho que é a grande coisa que vai chamar a atenção.
Fernando de Barros e Silva: Ele claramente é um contraponto. A gente não sabe como isso vai se expressar, mas ele não está alinhado com o lado.
Celso Rocha de Barros: Com o trumpismo, não.
Fernando de Barros e Silva: Com o lado bárbaro da história, que está prevalecendo em muitos cantos do mundo nos Estados Unidos.
Celso Rocha de Barros: Exato. Não dá para a gente garantir que ele vai ser super progressista, mas você pode esperar que ele vai brigar por imigrante, que ele vai brigar por essas coisas, mesmo e que, cá entre nós gente, é a job description do sujeito que quer liderar o cristianismo. Pelo amor de Deus. Se não for brigar por imigrantes, vai brigar por quê? O Trump inclusive brigou aí diplomaticamente para tentar enfiar um cara dele e perdeu. Num certo ponto de vista, é uma sinalização da Igreja Católica dizendo que o Trump você tem esse eleitorado religioso conservador muito forte, né? Mas assim, olha, o Vaticano está dizendo para você dar uma parada com isso aí. Segura a mão aí. Se ele conseguir desempenhar esse papel, eu acho mesmo se ele não for exatamente o Papa que os progressistas sonhavam em uma série de coisas, eu acho que já vai ter sido uma tarefa bastante importante.
Ana Clara Costa: A UNE York Times publicou que uma elite trumpista e ultra católica e riquíssima veio para Roma nesses últimos dias e se reuniu em vários lugares nos bastidores para tentar influenciar o Conclave em prol de um papa americano. Porém, o papa americano deles é outro, seria o cardeal de Nova York, Cardeal Dolan, que é publicamente alinhado com a visão do presidente americano e era considerado o candidato dentre os assumidamente conservadores e tradicionalistas, ele era o principal. Então você tinha aqui toda uma turma com grana, com contatos, com conexões, tentando manipular essa escolha. Acho que é uma coisa que o tempo vai dizer. As apurações que vão ser feitas a partir de agora. Até que ponto também essa escolha do papa americano mais progressista também não é uma resposta a essa tentativa do trumpismo de manipular essa escolha, até com aquela foto completamente vulgar que ele publicou.
Fernando de Barros e Silva: Bom, nós vamos encerrando. Parece que temos um papa que é um contraponto à barbárie. De que forma isso vai se dar? Veremos. Mas esperamos que seja isso. Desculpa pela obviedade, Celso, mas o Celso é católico e eu sou um ateu.
Celso Rocha de Barros: Pô, eu sou um católico bem porcaria. Eu tô aqui assistindo televisão só porque tem aquela benção dos pecados. Eu tô precisando.
Fernando de Barros e Silva: Eu tava lendo ontem de madrugada o perfil que a Hannah Arendt escreveu sobre o João XXIII, que está no “Homens em tempos sombrios”.
Celso Rocha de Barros: Olha que legal!
Fernando de Barros e Silva: Muito legal, um texto de dez páginas, curto e bem bonito. Ela chama “um papa verdadeiramente cristão”.
Celso Rocha de Barros: Solta a vinheta aí, gente!
Fernando de Barros e Silva: E é bem bacana de ler. Gente, fica mais essa dica. Encerramos então o primeiro bloco do programa. O segundo vocês nos perdoem, mas vamos falar da extrema direita brasileira do centrão.
Celso Rocha de Barros: É o conclave dos capeta.
Fernando de Barros e Silva: O conclave dos capetas. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Estamos de volta. Celso, vou começar com você. Tivemos agora essa votação acintosa, beneficiando Alexandre Ramagem e, quiçá, Jair Bolsonaro. Essa votação acintosa, sustando o processo penal em curso no Supremo. Mas eu acho que a gente pode começar falando, se você quiser, da organização da direita, que as coisas estão ligadas. A gente teve recentemente essa federação criada entre União Brasil e Progressistas, formou uma agremiação com mais de 100 parlamentares. Isso não acontecia desde 1994 pelo MDB, PMDB na época, nem o PFL, que estava aliado ao Fernando Henrique em 94, conseguiu eleger 100 deputados, ficou um pouco abaixo disso. Passo a bola para você. Podemos começar por essa votação, que é um pouco um sintoma dessa organização cada vez mais ousada e sei lá onde isso vai parar.
Celso Rocha de Barros: É isso mesmo, Fernando. Essa votação em que o Congresso, com uma votação muito grande, sustou o inquérito contra o Ramagem, que é um dos cabeças do golpe bolsonarista, em primeiro lugar, foi evidentemente uma tremenda falta de vergonha na cara. Mas também mostrou duas coisas. Primeiro, nunca foi sobre a Débora. Então aquela história de que os caras estavam pensando em anistia por causa do Ice Cream, da Débora, do não sei o que lá… Nunca foi isso. Assim que no Congresso, no Supremo, começou uma discussão, “não, vamos revisar aqui a lei para aliviar um pouco a pena dos soldados rasos do golpe, do pessoal lá mais baixo clero que foi condenado, da Débora, do sorveteiro e tal…” Quando começou essa discussão sobre uma aliança, uma anistia parcial que beneficiasse os pé rapado do golpe, na mesma hora, o alto comando do golpe armou esse esquema aí do Ramagen, entendeu, que é um negócio feito para livrar nominalmente o Ramagem, o Bolsonaro, o general Heleno e todo o pessoal que tá lá no núcleo um da investigação do julgamento no Supremo. Então isso prova que assim, aquela história toda sobre as mães de família, o pessoal, os cidadãos de bem que estavam lá com Bíblia na mão, aquele negócio inadvertidamente, isso era tudo mentira. O pessoal do Bolsonaro tacaria fogo em todas essas pessoas para diminuir em um ano que fosse a pena de cadeia. Isso ficou claro quando os caras votaram. Essa pouca vergonha absurda que é sustar o processo contra o Ramagem.
Fernando de Barros e Silva: O Supremo está interferindo no nosso direito de dar golpe. É mais ou menos isso que o Congresso está falando.
Celso Rocha de Barros: Exatamente. E aí você teve uma aliança entre os parlamentares que acham que o Supremo está interferindo no direito deles darem golpe de Estado, os parlamentares que acham que o Supremo está interferindo no direito deles roubarem dinheiro público e nos parlamentares que acham as duas coisas que são uma mesma bancada bastante expressiva. A gente vai falar aí da Federação União Brasil e do PP, mas a grande federação que se formou essa semana mesmo foi entre essa direita que rouba e essa direita que dá golpe. E essa federação se formou para tentar sustar o inquérito do Ramagem e isso provavelmente não vai dar em nada. Quer dizer, o Supremo não vai levar isso a sério. É completamente inconstitucional isso que o Congresso fez. Mas é mais um atrito, mais uma crise institucional e mais gente brincando com fogo, entendeu? Uns ladrãozinho vagabundo lá do Congresso brincando com fogo não sabe a seriedade da coisa com que eles estão mexendo. E por que foi uma aliança entre essas duas facções? Porque juntou o pessoal que tem medo dos inquéritos do golpe e do pessoal que é julgado no Supremo por corrupção. Você vai ver por que esses caras do centrão resolveram fechar com os golpistas a essa altura do campeonato? Porque eles naturalmente não estão com medo dessa investigação do golpe. Estão com medo das investigações sobre o orçamento secreto, especialmente, que está lá no Supremo também. É um episódio muito triste para a República brasileira. Mas essa união entre o pessoal golpista, o pessoal ladrão para desafiar o Supremo não foi a única união de direitista, ladrão e golpista que aconteceu no Congresso essa semana. A gente teve o anúncio da federação entre a União Brasil e o PP, que enfim, por essas coisas, aqui no Brasil vai se chamar União Progressista, que é mais um partido implorando por um mascote. Eu não sei, você sabe, o PSDB é o único partido conhecido por mascote, porque nunca ninguém levou o nome muito a sério o Partido Social-Democrata Brasileiro. O próprio Fernando Henrique, o Franco Montoro, o Franco Montoro que propôs o tucano. E ele era contra o nome social democracia brasileira, porque ele dizia “não, quem tem sindicato para ser social democrata é o PT. Se um dia moderar, o que a gente vai fazer com isso aqui?” E aí ele inventou o tucano. Esse União Progressista aí tá com cara que vai precisar de um bicho, coitado, para perder a reputação em nome da direita brasileira. E olha só essa fusão. Aliás, essa federação que, aliás, vem junto com outros processos de aglutinação partidária. A principal que está em discussão agora também é a fusão, que já não é mais uma federação, a fusão entre o PSDB e o Podemos. Esses movimentos de aglutinação são inteiramente previsíveis desde a reforma política de 2017. Para falar da reforma política de 2017 quero voltar um pouco no tempo. Quando teve a redemocratização no Brasil, a legislação partidária brasileira ficou meio liberal, facilitou um pouco a multiplicação de partidos. Isso foi certo. Este é um motivo excelente: é que se a gente não tivesse isso, os partidos do Brasil seriam o MDB e a Arena para sempre. Por exemplo, imagina se desde o começo fosse difícil criar partido novo, entendeu? A gente teria ficado com aquele MDB e Arena para sempre. E esses partidos foram criados de cima para baixo. Eram muito artificiais. Tanto que na primeira eleição presidencial democrática, em 89, nenhum dos dois chegou perto de ir para o segundo turno, os partidos descendentes dele. Ainda bem que no começo teve uma certa bagunça e uma certa possibilidade de criar muito partido, porque isso permitiu o surgimento de pelo menos alguns partidos mais enraizados socialmente, como o PT, o PSDB. Só que com o passar do tempo, foi crescendo a convicção de que a multiplicação de partidos estava acontecendo rápido demais. Estava acelerado demais, estava dificultando muito a governabilidade. Então o Fernando Henrique, por exemplo, fazia aliança com três partidos grandes e montava a coalizão dele a Dilma. Para fazer isso, precisaria de oito ou nove.
Fernando de Barros e Silva: E o PSDB está enraizado socialmente. Onde? Aqui? No Shopping Higienópolis? Na USP também?
Celso Rocha de Barros: Não, acho que não. Cara, eu acho que eles conseguiram enraizamento na classe média quando ele se aproxima do centro. Assim, não é o mesmo fenômeno do PT, né? Mas eu acho que tinha um…
Ana Clara Costa: Eles até fazem uma inflexão à direita justamente para ter essa base social, né? Quando eles assumem o governo.
Celso Rocha de Barros: Exato. E aí, em 2017 tem essa reforma política para diminuir o número de partidos que realmente está descontrolado. Se não me engano, estava em 30 e tantos partidos já. Um negócio meio meio enlouquecido. E aí, na esteira da Lava Jato, a crise política, o sistema político tentando dar uma satisfação de que estava se reformando também com a necessidade de reformar o financiamento de campanha, porque o cartel das empreiteiras tinha sido desbaratado e era quem pagava a campanha de todo mundo. Então teve essa reforma de 2017, que foi bastante favorável à criação de grandes partidos. O financiamento passou a ser muito grande, o financiamento público e depende do tamanho dos partidos, passou a ter uma cláusula de barreira crescente de eleição para eleição. Então, desde 2017 a gente sabe que o número de partidos vai cair e tá caindo mesmo. Agora, essa reforma 2017 acontece no ponto mais baixo da história da esquerda na Nova República. O movimento para consolidar os partidos começa no momento em que a esquerda está mais fraca desde a redemocratização. E isso tem consequências profundas, porque a regra vai fortalecendo os partidos que já são grandes. Então, os partidos que começam grande são de direita e nas eleições seguintes tendem a ser também. Então, o efeito prático dessa reforma de 2017 é criar grandes partidos de direita mesmo. E a esquerda, eu acho que inclusive, tem que ficar de olho para continuar existindo como partido. Por isso que eu acho que vai ter uma federação de esquerda cedo ou tarde. Eu quero chamar a atenção para o seguinte o PT tentou fazer a reforma política nessa direção duas vezes quando era governo, na década de 2000, o PSDB foi contra. Se essa reforma tivesse passado na década de 2000, o que teria acontecido é que o PT e o PSDB teriam sido os partidos que começariam grandes na reforma e hoje teriam basicamente espremido o centrão e o Brasil provavelmente seria muito melhor e o PSDB não teria agora que ser anexado pelo Podemos.
Fernando de Barros e Silva: Perfeito. Ana, você mesmo aí em Roma andou apurando que eu sei.
Ana Clara Costa: Pois é, a gente falou muito da Federação do PP com União Brasil, alguns programas atrás. É diferente essa federação, com a fusão do PSDB com o Podemos, porque essa fusão ela é para criar um mastodonte de fisiologismo do centrão, para criar uma grande força, talvez a maior força de direita dentro da Câmara em número de parlamentares e, no caso da fusão do PSDB com o Podemos é sobrevivência. O norte dessas duas uniões são nortes diferentes. A gente tem essa direita que o Celso falou e a direita que o Marcos Nobre também falou algumas vezes, que é a direita Carcará lá, o centrão Carcará, e o PSDB com o Podemos são dois partidos que estão beirando a irrelevância. E para não acabar de vez, eles estão tentando essa última cartada, que é essa fusão em que, pelo que se vê, na verdade o PSDB está sendo anexado pelo Podemos. Não é nem o contrário. É o PSDB que acabou mesmo. Eu tava até conversando com uma fonte minha do partido de muitos anos, que ele me disse que ele nem tá mais participando disso.
Fernando de Barros e Silva: Vai ser estudado nos departamentos de arqueologia das universidades de humanas, porque é muito triste o final do PSDB. Mas enfim. Você citou Marcos Nobre. Ele faz uma distinção entre essa direita Carcará, como você falou, que seria a direita que topa qualquer coisa, inclusive apoiar o Bolsonaro. E ele separa essa parte da direita de uma direita que teria restrições a uma aventura golpista, a ruptura institucional…
Ana Clara Costa: É, que seria o Kassab, né?
Fernando de Barros e Silva: Eu acho que todos se juntam no Tarcísio, de certa forma, que essa distinção do Marcos vai ter que ser atualizada daqui a pouco, porque o Tarcísio é uma figura que borra essa fronteira entre essas duas vertentes, digamos assim, do campo conservador brasileiro. Ana Clara, em relação à votação dessa semana, Ana?
Ana Clara Costa: Eu acho que a gente tem que olhar para essa votação sobre a sustação dessa ação penal do golpe, mais com o olhar daquilo que a gente já vem falando no fórum já tem um tempo dessa disputa, sobretudo da Câmara, mais da Câmara do que do Senado contra o Supremo. Houve vários momentos em que coisas foram votadas e aprovadas com o objetivo de medir forças com o Supremo. E eu acho que nesse caso isso se repete. Quando eles decidiram fazer essa votação, não foi necessariamente porque eles acham que ela vai livrar o Ramagem e o Bolsonaro. Seria ingênuo a gente concluir que eles realmente acham que isso vai funcionar, porque eles já sabem que o Supremo não vê as coisas dessa forma.
Fernando de Barros e Silva: Vai declarar inconstitucionalidade.
Ana Clara Costa: Exato. O próprio Zanin já disse num ofício que ele enviou para a Câmara dos Deputados que a Câmara não pode suspender integralmente essa ação penal, porque, qual é a premissa? Esses crimes teriam sido cometidos antes dele se tornar deputado.
Fernando de Barros e Silva: Uma parte dos crimes teria sido cometido antes, pelo menos. Só a depredação do 8 de janeiro teria sido posterior. Os outros crimes de que ele é acusado agora réu acusado formalmente, pelos quais ele está sendo julgado são anteriores ao mandato.
Ana Clara Costa: Exato. Está dividido entre antes e depois ali. Então eles já sabem o que o Supremo pensa sobre isso, que o Zanin pensa sobre isso, o Zanin que é presidente dessa Primeira Turma. Então, toda essa dinâmica, ela entra nessa frente de batalha entre a Câmara e o Supremo, que está acontecendo já faz um tempo. E o que que eles querem com isso? E Bolsonaro trabalhou muito para isso também, porque isso fortalece o argumento dele… Eles querem que, de fato, o Supremo tenha que se posicionar sobre isso e com isso se fortalece essa narrativa tão forte na direita de que o Supremo está usurpando poderes dos parlamentares, que ele está agindo muito além das suas atribuições, que é toda a dinâmica que está sendo ventilada já tem um tempo pela extrema direita, com o objetivo de enfraquecer o inquérito do golpe, de enfraquecer a denúncia do golpe na verdade. Então é mais um tijolinho em toda essa narrativa de briga entre esses dois poderes. De certa forma, não tem como o Supremo escapar disso. Não tem como o Supremo simplesmente colocar as barbas de molho e não se posicionar sobre isso. Ele está encurralado nesse aspecto. E aí, a partir do momento que ele fizer, aí a extrema direita vai usar isso a seu favor, né?
Fernando de Barros e Silva: Com essa votação, eles criaram um ambiente de desgaste, de ampliação do desgaste institucional brasileiro, que vem de anos e estão mexendo com fogo mesmo esses ladrõezinhos, como disse o Celso, talvez não tenham ideia do que estão fazendo. Talvez tenham. Mas de qualquer forma, o mesmo a gente sabendo que o Supremo vai declarar a inconstitucionalidade disso, dessa palhaçada, o saldo é problemático e negativo. É mais uma pedra, mais um tijolinho que se constrói ou que se destrói, mais um tijolinho que cai da institucionalidade brasileira. Vamos ver para onde isso vai. Eu vou encerrar o segundo bloco do programa por aqui. Vamos fazer um rápido intervalo. Na volta, a gente vai falar dos dramas da educação brasileira. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Estamos de volta. Celso, vamos começar com você. Eu mencionei na abertura duas pesquisas recentes, uma delas sobre o analfabetismo funcional dos adultos no Brasil e outra sobre o aumento da disparidade de desempenho entre estudantes negros e brancos. Deixo você começar por onde você achar mais interessante. Quer dizer, nada é interessante. Nesse caso, tudo é dramático.
Celso Rocha de Barros: É, são duas tragédias, né? Eu acho que a gente tem que olhar esses números com cuidado. Primeiro, o índice de analfabetismo funcional ainda é bizarramente grande, mas ele é bem maior entre as pessoas mais velhas. Assim, acima de 50 anos, chega a 51% das pessoas.
Fernando de Barros e Silva: Metade da população acima de 50 anos.
Celso Rocha de Barros: É analfabeta funcional. É uma tragédia. Quando você tiver que debate por que o Brasil não se desenvolve? É, bom, por que? E em contrapartida, se você pegar o índice de pessoas que são funcionalmente alfabetizadas entre 15 e 29 anos, 84% das pessoas são funcionalmente alfabetizados. Vale dizer, funcionalmente alfabetizado não quer dizer um desempenho escolar maravilhoso, mas enfim, consegue compreender textos básicos que conseguem entender um argumento com um nível mínimo de complexidade, etc. Ou seja, basicamente as pessoas que estavam em idade escolar durante a ditadura ou no começo da democracia têm maior probabilidade de ser analfabeta funcional do que quem estudou nos anos 90 no governo FHC ou nos dois primeiros governos Lula. O pessoal mais velho ainda deu azar porque eles deram o azar de reencontrar o pessoal da ditadura no poder. Por que? Porque nos últimos anos houve uma redução bastante significativa dos gastos com educação de jovens e adultos. Os gastos com educação de pessoas que não puderam concluir o ensino básico por algum motivo, enfim, a tentativa de alfabetizar pessoas que não foram alfabetizadas no momento que teria sido ideal. Em 2021, o governo Bolsonaro destinou apenas 6 milhões para o EJA. Esse número já foi bem maior e agora o Camilo Santana criou um pacto EJA que tem uma verba grande para os próximos anos e em 2024 esse gás já passou a 120 milhões, quer dizer, 20 vezes o que era no governo Bolsonaro. Então, enfim, essa é um daqueles muitos aspectos que estão sendo reconstruídos. É bem provável que essa estagnação desses últimos anos se deva ao fato desses cortes no ensino de jovens e adultos. Pelo menos parte do problema, certamente é isso. Porque, como a gente viu, boa parte dessas pessoas funcionalmente analfabetas estão em grupos etários maiores. Agora, isso explica por que estagnou, mas não explica porque é tão alto, né? De qualquer maneira. E, para isso, a gente precisa procurar, enfim, problemas mais sérios no nosso sistema educacional, sobretudo problemas mais sérios da nossa sociedade, né?
Fernando de Barros e Silva: Essa pesquisa eles elencam cinco categorias de alfabetização. Claro que tem o analfabeto simplesmente e o analfabeto funcional que consegue identificar algumas palavras isoladas, ler frases curtas, etc, mas não consegue compreender frases mais longas ou que eles chamam de construções textuais mais complexas. Depois vem alfabetizado em nível elementar, depois vem o que eles chamam o nível consolidado, nível intermediário e o proficiente. Enfim, uma pessoa que teve a sua alfabetização concluída, que sabe ler um texto, interpretar, que se vira diante de um texto. Então a gente está falando de uma coisa bem grave mesmo, uma limitação profunda.
Celso Rocha de Barros: É, se a gente simplesmente passar desse pior nível para o nível seguinte, obviamente melhorou. Mas também não tá resolvido nada não. Senão a situação ainda vai ser ruim. O ideal é que todo mundo chegue no Proficiente. Não é nenhum objetivo assim, sei lá, utópico assim. Você não precisa ser a Suécia para chegar nesse ponto. Você pode ter que chegar a Suécia para todo mundo ter mestrado, mas assim não para ser proficiente em leitura e matemática elementar. E aí eu volto a dizer, aí tentou, você vai, quantos debates a gente tem sobre o problema do Brasil não crescer? Produtividade, etc. Bom, cara, tá aqui, né? Precisa mais de quê?
Fernando de Barros e Silva: Exatamente.
Celso Rocha de Barros: Aqui também tem uma coisa que eu gostaria de encher o saco aí do pessoal de direita. Parece perseguição, mas não é. Desde o governo Temer e sobre o governo Bolsonaro, teve esses cortes aí no ensino de jovens e adultos, etc. Isso certamente foi por corte de gastos, foi um esforço de consolidação fiscal. Nessas horas os caras dizem assim “não, não, Mas aí o que a gente precisa fazer e aumentar a eficiência do gasto”. E eu concordo inteiramente que tem que aumentar a eficiência do gasto. Ninguém discorda disso. Mas aí eu proponho o seguinte primeiro você descobre como que aumenta a eficiência. Aí você implementa esse seu projeto para aumentar a eficiência. Aí economizou uma grana, aí você economiza essa grana. O que a gente não pode continuar fazendo é você chegar assim ó, corta esse troço de qualquer jeito e torce para alguma mão milagrosa fazer ficar mais eficiente, porque não vai, entendeu? Quando você começa a discutir ajuste fiscal e começa a falar de saúde, educação, primeiro que você vai ouvir é: o gasto precisa ser mais eficiente. Quem que é contra isso, cara? Quem? “Não, não. Eu acho que devia ser menos eficiente.” Ninguém, né, cara? Mas a questão é você tem uma proposta para implementar essa eficiência? Se não tiver também e você cortar, só vai piorar as coisas se você não aumentar a eficiência. Parece óbvio, mas assim, eu acho um aspecto particularmente deprimente do nosso debate. E a gente sempre tem que lembrar que aqui no Brasil não é só questão de pobreza, mas é sempre questão de desigualdade. E não tenho a menor dúvida que grande parte dessa… Se você pegar esse desempenho escolar, desempenho em provas, desempenho, esse índice de analfabetismo e fosse olhar a distribuição por classe social, o padrão seria claríssimo. Não tenho a menor dúvida sobre isso. E isso é tipo de coisa de país atrasado. Em uma coluna interessante do Antônio Gois no Globo, ele citou uma pesquisa do Yuxiao Wu e do Jingjing Wang, da Universidade Nanjing, que analisaram os dados de 72 países participantes do PISA, aquele exame internacional que mede o desempenho educacional. E eles chegaram a uma conclusão muito interessante em países de alta desigualdade, a maior parte da desigualdade de desempenho dos alunos se explica pela renda da família. Então, assim, grande parte da desigualdade entre os alunos brasileiros certamente vai ser pelo fato que tem uma parcela grande da população brasileira que é muito pobre. Isso é super consagrado na literatura especializada. Coisas que influenciam o desempenho escolar, a educação dos seus pais… Vou dar um exemplo, eu tenho todos os privilégios quevocê pode imaginar nessas áreas. Meus pais são procuradores de justiça. Isso quer dizer o seguinte: eu aprendi a falar quando era criancinha, em português correto. Meus pais já tinham um nível de educação alto. Isso já mexe com as minhas notas para sempre. Estatisticamente, todo o meu desempenho escolar daí em diante é influenciado por isso. O fato de que meus pais tinham um emprego que não era absolutamente estafante, então eles podiam, meu pai podia fazer o dever de casa comigo, podia estudar comigo. Isso tem efeito comprovado e permanente para o resto da minha vida. E, obviamente, na população mais pobre você não vai ter nada disso. Então, assim, parte da problema da educação eu acho que não é nem culpa das questões educacionais. A gente precisa realmente começar a levar a sério combate à desigualdade. Porque se você for olhar para países que já obtiveram resultados na luta contra a desigualdade, esse resultado muda. O efeito da renda da família cai bastante.
Fernando de Barros e Silva: É, a gente teve nos últimos anos discussão sobre escola sem partido, etc. Bizantinas que não tinham nada a ver com a realidade. A educação foi sequestrada pela extrema direita. O ministro era o Abraham Weintraub. Não sei se vocês se lembram…
Celso Rocha de Barros: Exatamente.
Ana Clara Costa: Teve piores!
Fernando de Barros e Silva: Depois desse palhaço, desse Abraham Weintraub. E depois teve o pastor lá, o professor Milton Ribeiro, que deu um tiro no aeroporto. O pastor pistoleiro, como eu chamava. O ministro da Educação tinha uma arma. Deu um tiro no aeroporto sem querer.
Celso Rocha de Barros: Não. Antes teve o…
Ana Clara Costa: Teve o Vélez Rodríguez.
Celso Rocha de Barros: Teve Vélez antes do Weintraub.
Fernando de Barros e Silva: E antes foi o Vélez Rodríguez. O primeiro, então, é uma sucessão que escolhe os piores quadros possíveis.
Celso Rocha de Barros: Exatamente.
Fernando de Barros e Silva: Para comandar a educação, para pensar e criar políticas públicas no Brasil. Taí o que? Esse também é o legado do Bolsonaro. A gente fala da saúde, da política, etc. E na educação é uma tragédia.
Celso Rocha de Barros: É uma tragédia. Vai demorar muitos anos para a gente consertar o que Bolsonaro fez. E aqui eu lembro de um debate cara, que eu vi uma vez, não me lembro que canal de televisão e que tinha um desses bolsonaristas imbecis falando o negócio Paulo Freire não sei o que lá. A educação é ruim por causa de doutrinação. E a deputada Tábata Amaral começou a rir e falou: “Gente, quem me dera o problema do Brasil fosse, o método pedagógico, se fosse, sei lá se é Paulo Freire ou se é outra escola”. Cara, faz o simples, ela disse. A Educação Básica de Sobral e ensino médio de Pernambuco, que tem horário integral, aquela coisa faz esse negócio aí para você ver o que não vai acontecer. Então, enfim, é isso. A gente agora tem um programa de incentivo para fazer crescer o ensino integral, essas coisas assim. Mas a gente é atrasadíssimo nesse negócio. Aí assiste se a gente atrasado nisso, a gente vai crescer adiantado. Em quê, né? Não tem como.
Fernando de Barros e Silva: Fora esse negócio de escolas militares também que o Tarcísio embarcou. E está criando em São Paulo. Bom, Ana Clara. Vamos lá, Ana.
Ana Clara Costa: Primeiro, só um complemento ao que Celso falou sobre a questão da educação de jovens adultos. Eu queria lembrar uma coisa que a gente comentou em um dos programas no ano passado, ao falar da confusão na educação no Paraná, da briga do Ratinho Júnior com os professores e tudo mais, e que ele tinha sido aluno das Escolas de Educação para Jovens e Adultos, que no passado se chamavam supletivo e ele tinha sido aluno e ele, como governador destruiu esse tipo de escola no Paraná. Isso era um dos questionamentos na época dos professores em relação ao que ele estava fazendo com a Escola de Jovens e Adultos. Então acho que vale a gente lembrar. Até porque, nesse caso do Ratinho Júnior, ele gosta de dizer que o legado dele na educação é impressionante, porque o Ideb cresceu no Paraná, no governo dele, que ele é demais e tal. Mas quando a gente olha depois da página dois, as coisas não são bem assim, né? Já que eu estou falando, no caso do Ideb, eu queria localizar, posicionar o Ideb nessa discussão do analfabetismo funcional que embora ele, num grau elevadíssimo, mas esteja estagnado, seja pior para quem tem mais de 50 anos do que para o jovem. Tem uma questão do Ideb, o Ideb no formato que ele é hoje, ele acaba incentivando um pouco essa situação, porque, bom, muitas escolas querem, talvez todas elas queiram, ter um bom desempenho no Ideb, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e que é um pouco o norte de Sobral que o Celso citou. Então, todo mundo quer performar bem no Ideb, porque disso depende o desempenho do Brasil em vários dos índices internacionais e tudo mais. E o Ideb? Ele tem uma exigência, principalmente em relação à leitura de uma leitura básica. No caso, a exigência do Ideb é muito baixa para o nível de leitura, exige-se a alfabetização e que as crianças consigam decodificar o mínimo ali para conseguir ler, escrever e se comunicar. E como esse é o básico, o que vem além do básico, que é você saber detectar significados, construções mais complexas, ideias nem sempre tão óbvias. Como isso não é testado de uma forma maciça, não é testado nas escolas, agente acaba também ficando para trás. Porque foca “ah precisamos performar bem no Ideb”. E a exigência do Ideb é muito básica, é muito simples. E aí eu estava conversando com uma especialista em educação, a Sônia Guaraldo, que trabalha com políticas públicas para educação na motriz. E ela estava me explicando que assim, não adianta, no Brasil você não tem ensino de estratégia de leitura, você não tem ensino de leitura, você tem a alfabetização, o que é ótimo. É ótimo que a gente tenha alfabetização e que o nosso índice de alfabetização hoje seja bem mais alto do que já foi no passado. Isso é excelente. A gente tem 7%, se eu não me engano, segundo o último censo de 2022 de pessoas não alfabetizadas. Então é excelente, né? Claro. Mas a gente não está conseguindo passar disso, transpor isso. Então, o que ela estava me explicando é que você tem muito hoje o foco no caso da criança, né Celso? Você estava mencionando a tua experiência como criança e você tinha acesso a um tipo de leitura e um tipo de comunicação na sua casa que já te colocavam na frente de todo mundo. Hoje, na questão da alfabetização, que eles querem apenas que as crianças consigam decodificar as letras, identificar os sons, escrever e ler. E ao mesmo tempo que essa decodificação é ensinada, não é ensinada a questão da autonomia de leitura, de você conseguir entender significados mais complexos. E existe uma discussão no meio educacional hoje de que talvez a gente deva fazer as duas coisas ao mesmo tempo que você ensina uma criança decodificação e também ensina a criança a entender significados mais complexos e não esperar ela aprender para depois. No outro momento no ensino médio, ela conseguir ler de fato, entender ideias e captar os sentidos mais complexos das coisas. Entendeu o que eu queria dizer? Que a barra a nossa barra quando a gente pega o Ideb como único parâmetro, é muito baixa. Embora o Ideb seja importantíssimo justamente para melhorar a questão do índice da população não alfabetizada. Muitas escolas querem performar bem no Ideb, por isso acabam levando muita gente para a escola e isso acaba impactando positivamente a alfabetização. Porém, dar aquele segundo passo a gente não está conseguindo
Fernando de Barros e Silva: Muito bem. É isso. Então, gente, eu tô lembrando aqui de um ensaio do professor Antonio Candido que se chama “A Perversão da Aufklärung”, que ele fez em 85 e que está no livro menos difundido dele, que se chama Textos de Intervenção. Saiu pela Editora 34. Uma palestra que ele deu que ele faz, historia e faz o inventário do descaso das classes dominantes brasileiras com a educação da população ao longo dos tempos. E aqui estamos. Fica aqui a dica para a gente não terminar com Weintraub, com o pastor pistoleiro, etc. Encerramos então o terceiro bloco do programa. Temos um rápido intervalo na volta massacre Kinder Ovo. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Estamos de volta. Mari Faria, hoje está remota. Não está na sala de pão de queijo, no estúdio do Danny Dee. Deve estar mais malvada ainda sem pão de queijo. Solta aí.
Sonora: Então, a possibilidade desse feixe de lenha ser amarrado sem que uma vara consiga escapar é muito difícil, entendeu? Se tentar amarrar agora, vai ter vara do feixe de lenha escapando para algum lado. Então isso não vai. Não vai ser resolvido agora.
Fernando de Barros e Silva: Meu Deus, eu sei quem é.
Celso Rocha de Barros: Eu também.
Ana Clara Costa: Nossa, eu nem.
Fernando de Barros e Silva: Meu Deus! A gente vai ficar puto, Celso. Quem fala é o ex-ministro, ex-deputado, ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo, em entrevista ao canal My News.
Celso Rocha de Barros: Segunda vez que ele aparece aqui. E eu acertei da outra vez.
Fernando de Barros e Silva: Você acertou. É Aldo Rebelo.
Celso Rocha de Barros: E esse é o perfil que eu costumo acertar, que é o cara que fala umas besteiras atrozes.
Fernando de Barros e Silva: Espécie de Policarpo Quaresma da esquerda.
Celso Rocha de Barros: Essas maluquices.
Fernando de Barros e Silva: Caramba, então é isso. Muito bem. Depois dessa derrota da classe operária para o Aldo Rebelo, vamos para o Correio. Elegante o momento de vocês, o melhor momento do programa. Eu vou ler aqui uma mensagem do meu xará. Isso, Fernando Acunha mandou a seguinte mensagem: “Somos um grupo de amigos e amigas formados em Direito pela Universidade Federal do Paraná espalhados por aí, é algo que nos une é ouvir o Foro de Teresina. Nosso amigo mais distante, Gabriel, ouve o Foro de bicicleta a caminho do seu trabalho. Em Skopje.” Nem sei falar essa cidade, Skopje, Macedônia do norte.
Celso Rocha de Barros: Capital da Macedônia do norte.
Ana Clara Costa: Nossa!
Fernando de Barros e Silva: Como chama Celso?
Celso Rocha de Barros: Ah, sei lá. Acho que a Skopie.
Fernando de Barros e Silva: É. Nada como ser alfabetizado. O apresentador está no nível intermediário, mas o Celso me salva.
Celso Rocha de Barros: Pô, que é isso? É porque tem um time de futebol naqueles campeonatos obscuro da União Europeia, sabe?
Fernando de Barros e Silva: Continua o meu xará… Ele fala do Gabriel e fala: “Ele trabalha no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, auxiliando apátridas e refugiados no contexto dos Bálcãs, tarefa que, como vocês sabem, ficou mais difícil com a diminuição de recursos dos Estados Unidos. Um feliz aniversário de vocês certamente alegraria o dia dele e lembraria que, apesar de solitária, a sua jornada é festejada e admirada pelos seus saudosos amigos. Gabriel, feliz aniversário, amigo!”
Ana Clara Costa: Feliz aniversário, Gabriel! Gabriel, que legal seu trabalho.
Celso Rocha de Barros: Feliz aniversário, Gabriel!
Fernando de Barros e Silva: Muito bem.
Ana Clara Costa: Eduarda Rodrigues escreveu: “Esse ano troquei a Escola Normal por um colégio militar, ou seja, agora estudo de farda no calor do Acre, parecendo que vou marchar e fazer prova ao mesmo tempo. Sexta-feira é dia de farda social, mas também de Foro. Então fico triste e feliz. Coloco o episódio no fone, dentro do ônibus, suando feito eleitor em boca de urna e deixo a sanidade voltar. Amo tanto que manda os episódios para o meu pai toda semana, como se fosse boletim de utilidade pública. Obrigada por existirem e por serem o SUS do meu cérebro nessa preparação para o Enem. Beijos da terra dos dinos, mas não a do Flávio Dino.” Eduarda, que legal! Olha, depois conta pra gente mais dessa sua rotina no colégio militar. A gente fica curioso.
Celso Rocha de Barros: Que legal! Pois é.
Fernando de Barros e Silva: Legal mesmo.
Celso Rocha de Barros: O Samuel Giacomelli escreveu para falar do nosso vocabulário. Veja só essa questão aí do analfabetismo funcional. “Eu estava aqui curtindo meu podcast preferido quando escuto aos oito minutos e 33 segundos a Ana Clara Costa soltar a seguinte pérola ao comentar a fraude bilionária do INSS: ‘eles oferecem múltiplos produtos de sacanagem’. Confesso que precisei pausar e votar em segundos para ter certeza do que ouvi. Múltiplos produtos de sacanagem? Como assim? O INSS agora tá vendendo vibrador em 48 vezes sem juros no cartão? Fui prestar atenção e contei nada menos que quatro sacanagens vindas da digníssima Ana Clara e logo depois nosso Celso Casca de bala solta mais uma, para completar uma mão cheia de dedos, ao comentar a proposta de anistia. Cinco sacanagens em um só episódio. Um verdadeiro bacanal. Mas aqui vai meu protesto. A meu ver, a palavra sacanagem deveria sempre ser empregada com uma conotação positiva. Tem que vir carregada de tesão, malícia e afeto. Parece nome de pagode. Já o que eu vi nesses escândalos todos foi justamente o contrário uma completa e burocrática ausência de sacanagem. Aproveito para dizer que meu aniversário de 40 anos é no próximo dia 11 de maio e adoraria ganhar um abraço virtual de vocês. E, se possível, desejo de muita sacanagem com o amor da minha vida. E claro, retribuo também o desejo. Muita sacanagem para vocês aí da bancada. Que ela nunca vos falte. Um grande abraço. Valeu, Samuel.” Feliz aniversário e muita sacanagem para você.
Fernando de Barros e Silva: Samuel, você sabe que as palavras tem mais de um sentido, né?
Ana Clara Costa: Não usarei mais sacanagem no sentido errado então Samuel.
Fernando de Barros e Silva: Mas não é errado e porque é sacanagem, pode ser totosa como ele tá falando. Mas pode ser uma sacanagem ruim também, uma maldade.
Ana Clara Costa: Exatamente. Mas ele tá sugerindo a gente a gente deixar a sacanagem só no lado bom.
Fernando de Barros e Silva: Ele tá. Samuel, o libidinoso. Vamos terminando então com o Samuel. Simpática, maravilhosa mensagem, libidinosa mensagem, nisso daí, nesse programa subversivo. Vamos encerrando assim o Foro de Teresina dessa semana. Não deixe de seguir a gente dar five Stars no Spotify. Segue no Apple Podcast, na Amazon Music Favorita na Disney e se inscreva no YouTube. Você também encontra a transcrição do episódio no site da piauí. O Foro de Teresina é uma produção da Rádio Novelo para a revista Piauí, a coordenação geral e da Bárbara Rubira. A direção é da Mari Faria, com produção e distribuição da Maria Júlia Vieira. A checagem é do João Filipe Carvalho. A edição é da Bárbara Rubira e do Thiago Picado. A identidade visual é da Amanda Lopes. A finalização e mixagem são do João Jabace e do Luís Rodrigues, da Pipoca Sound. Eles também são os intérpretes da nossa melodia tema. A coordenação digital é da Bia Ribeiro, da Emily Almeida e do Fábio Brisola. O programa de hoje foi gravado no Vaticano. Vejam só, a Choupana da Ana Clara lá no Vaticano. Muito chique. No estúdio Rastros do Danny Dee e aqui na minha casa, na minha choupana paulistana, eu me despeço então dos meus amigos. Arrivederci, Ana Clara!
Ana Clara Costa: Arrivederci, Fernando! Celso. Pessoal, até a próxima semana.
Fernando de Barros e Silva: Agora você volta, né? Vai ficar?
Ana Clara Costa: Eu não. Supostamente, semana que vem eu ainda gravo de Roma.
Fernando de Barros e Silva: Que alegria, hein?
Celso Rocha de Barros: Só chiquérrima, né cara?
Fernando de Barros e Silva: Isso, achei. Muito bem. Vai no restaurante que eu te falei. Celso Rocha de Barros.
Celso Rocha de Barros: Valeu, Fernando. Abraço para todo mundo Até semana que vem.
Fernando de Barros e Silva: É isso gente! Uma ótima semana a todos e até a semana que vem!
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