10jun2010 | 18h50 | Brasil

Estado do Piauí declara Daniel Piza persona non grata

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A Assembleia Legislativa do Piauí aprovou ontem, por unanimidade, decreto do governador Wellington Dias declarando o colunista Daniel Piza persona non grata no estado. Durante a votação, centenas de milhares de jornalistas literários promoveram uma ruidosa manifestação no centro de Teresina e, em meio a gestos triviais, queimaram 47 exemplares de Aforismos Sem Juízo, livro que consagrou o colunista nas hostes dos jornalistas não-literários e não-triviais.

O motivo da ira literária foi a seguinte frase, publicada pelo colunista na sua homilia dominical: “Qualquer repórter piauiense que descreva um gesto trivial do entrevistado, ou conte que levou 47 passos até a casa dele, acha que está fazendo jornalismo literário”.

O governador e repórter Wellington Dias deu 47 passos da Assembléia até a praça, fez um gesto trivial e discursou: “Depois de enforcar Jesus Cristo, Daniel Piza agora quer crucificar o Piauí!” A multidão recuou 47 passos, fez um gesto obsceno nada trivial e gritou: “Haveremos de provar que até mesmo Piza tem momentos triviais!” O protesto foi encerrado com a declamação de 47 aforismos ajuizados.

Numa escala em Teresina, no seu voo de São Luiz do Maranhão para Johanesburgo, o jornalista literário Olegário Ribamar, diretor do The i-Piauí Herald, preferiu o silêncio. “Não quero me comprometer”, disse ele ao se ver cercado por uma súcia de repórteres triviais. Na África do Sul, no entanto, Ribamar encontrou com Daniel Piza e lhe hipotecou solidariedade. “Repórter piauiense é assim mesmo”, disse Ribamar ao colega, enquanto trocavam 47 soluções triviais para o Teorema de Fermat, “eles gostam de contar passos e reparar nos gestos triviais dos entrevistados”.