23abr2012 | 14h36 | Brasil

Restrições no uso das palavras ícone e emblemático deixam jornalistas perplexos

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lead sem usar os verbos celebrar e turbinar

ABI – Em protesto da Associação Brasileira de Jornalistas que reuniu milhares de colunistas políticos, críticos de cinema e setoristas de cultura, inúmeros profissionais tomaram o microfone para, segundo eles, “tecer um comentário” a respeito das novas diretrizes de inúmeras publicações nacionais que dispõem sobre o uso abusivo de certos adjetivos e expressões da língua portuguesa.

“Querem nos calar! Como escrever uma reportagem sobre o tropicalismo sem se referir a Caetano como figura emblemática do movimento? E de que forma tratar da arquitetura moderna senão empregando no mínimo cinco vezes a palavra ícone para descrever o MAM, o Palácio Capanema e pelo menos três prédios dos irmãos Roberto?”, indignou-se o jornalista Roberto Kaz, de O Globo, para quem as novas regras, que não permitem mais de duas ocorrências da palavra por parágrafo, lembram os piores excessos da Coreia do Norte. "Será possível escrever um editorial de moda sobre influências orientais sem optar por Oriente-se no título? Ou comemorar a volta dos tecidos rendados sem estampar Renda-se na manchete?", arguiu.

Causou também grande desconforto – outra palavra que sofrerá restrições – o pedido para que se use com parcimônia a expressão por conta de. “Mas é tão mais elegante do que por causa de!”, espantou-se uma estagiária do caderno de estilo da Folha de S. Paulo que morou três meses em Berlim e ainda guarda o sotaque. Segundo ela, até mesmo os subúrbios menos antenados da capital alemã sabem que por causa de “é tão anos 90”. 

Estupor foi a palavra empregada por jornalistas que cobrem a cena cultural ao serem informados do veto aos termos revisita, radicado e releitura. “Foi a senha para a redação vir abaixo”, explicou um repórter especializado em empregar a expressão “o estádio veio abaixo” na cobertura de shows de Paul McCartney.

É grande a preocupação com o estado de saúde de sete cronistas esportivos que entraram em greve de fome. Antes de fechar a boca, declararam que a profissão não pode mais ser exercida frente à proibição do uso da palavra detalhe, sobretudo quando acompanhada de dois pontos para chamar atenção para algo que geralmente não é um detalhe.

Um dos poucos jornalistas a não participar dos protestos foi o blogueiro Romualdo Azenildo: “Eu não ligo. Contanto que me deixem continuar usando analfabeto para me referir ao Lula, terrorista para tratar da Dilma, e bonitão para falar do Eike… ”  

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