28set2012 | 16h42 | Cultura

Ao prescindir de Nelson Motta, Tropicália desafia lógica do documentário

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LONDON, LONDON – “Não é possível”, declarou, em nota, a Academia de Artes e Ciências de Hollywood. “Tão improvável quanto a fusão nuclear a frio”, manifestou-se o porta-voz do Instituto Max Planck. “Confio mais na possibilidade de minha filha se casar com um palestino”, disse o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Todos reagiam aos boatos de que um documentário musical brasileiro prestes a estrear não incluía depoimentos de Nelson Motta ou imagens de Chico Buarque. “Nem uma só imagem de Chico?”, perguntou Martin Scorsese, antes de cair na gargalhada.

Em atitude que alguns consideram destemida, e outros julgam irresponsável, o diretor Marcelo Machado decidiu desconsiderar as regras mais basilares do cinema não-ficcional e lançou Tropicália, uma história do movimento tropicalista que passa ao largo tanto de Motta quanto de Buarque. As primeiras sessões causaram perplexidade e revolta, além de dois aneurismas e pelo menos um ataque apoplético. Em Recife, duas senhoras desmaiaram ao se dar conta de que a sequencia sobre o Festival da Canção de 67 não traria um único compasso de Chico Buarque interpretando Roda Viva. As duas receberam primeiros socorros e estão em condição estável.

A crítica está polarizada. "É um divisor de águas", escreveu, estupefato, o crítico Luiz Zanin, do Estadão: "Reputo o gesto de Machado como um dos mais radicais da história do cinema, de par com a câmera em movimento de Griffith e com os efeitos de edição de Dziga Vertov e Eisenstein".  Já seu colega da Folha Inácio Araújo comparou Tropicália a um animal vertebrado que tivesse involuído e retornado ao caldo primal que antecede a vida. “Não há estrutura, não há tessitura narrativa, não há nada”, desgostou-se, acusando o projeto de “niilista”.  

Cercado de jornalistas, documentaristas e astros da MPB, Nelson Motta explicou o contexto em que se deu a ruptura. "Estávamos eu, Caetano Veloso e João Gilberto compondo um jingle para Marcelo Freixo quando soubemos da notícia. Foi uma algazarra. Em sintonia com a mudança nos ventos, Caetano se negou, inclusive, a emitir uma opinião e João saiu à rua para abraçar populares". A cena será usada no longa-metragem documental A ruptura de Nelson Motta: vestígios do Brasil moderno, de Silvio Tendler, que não contará com a direção de fotografia de Walter Carvalho. “Vou chutar o pau da barraca, já não tenho mais nada a provar”, explicou o diretor de Os Anos JK.

No final do dia, Protógenes Queiroz ameaçou processar Tropicália. "Trouxe o meu filho de 11 anos para ver o Nelson Motta", escreveu no Twitter.

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