05jul2013 | 12h53 | Cultura

FLIP 2013: piauí Herald lança versão atualizada de fábulas infantis

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Sem medo de cunhar uma máxima, afirmamos que os clássicos são eternos. Convencido dessa verdade, o braço editorial de The piauí Herald lança, com desassombro e em desafio aos humores passageiros do mercado, esta coleção de fábulas e contos infantis que, desde sempre, estimularam a imaginação de incontáveis gerações de petizes. Em resposta a e Hunger Games, escapismos típicos da indústria cultural – à qual resistimos, leitores de Adorno que somos –, oferecemos aos brasileirinhos histórias solidamente ancoradas na experiência humana, que os levarão não só a conhecer os desvãos da existência, como também os ajudarão a construir uma bem-sucedida carreira política, que, porventura, culminará no merecido cargo comissionado.

Grapunzel

Era uma vez uma princesa que possuía as mais longas madeixas do reino da Petrobras. Suas tranças eram tão resistentes que perfuravam as camadas mais profundas do pré-sal. Grapunzel Foster, apelido Graça, catita e esbelta como uma sonda de perfuração cheia de conteúdo nacional, vivia trancada em uma altíssima plataforma no Campo de Corvina, onde hidrocarbonetos de pH ácido submetiam seus cabelos a maus-tratos desumanos. Fora aprisionada ali por ogros do mercado financeiro, que lhe rogaram uma praga: Graça só seria salva se jogasse suas tranças a um empresário de portentoso implante capilar, em sua rápida passagem a bordo do Pink Fleet. Graça Foster estava quase salva, quando, de súbito, Pink Fleet tomou o rumo das ações da OGX, e foi ao fundo. A princesa virou sereia e viveu feliz, para alegria da Presidenta, que a queria bem e, francamente, a preferia assim, muda.

O patinho feio

Certa vez, num aconchegante ninho pernambucano, nasceu um filhote em tudo diferente dos irmãozinhos. Diligente e sonhador, o pequeno Randolfe Rodrigues era discriminado por caciques, pela imprensa e pelo baixo clero. Num belo dia, quando o Psol ardia alto no céu, o pequeno Randolfe viu seu rosto estampado num jornal e se assustou: “Que paúra.” Passou a caminhar cabisbaixo por corredores e gabinetes, enquanto via a parentela, vistosa e altaneira, aumentar o fundo partidário e o tempo de tevê. Tristonho, partiu só para a selva, onde passou a viver de frutos silvestres e materialismo dialético. Certo dia, do alto de um frondoso buriti, Randolfe avistou uma revoada de parlamentares da base aliada. Olhou novamente para a própria foto e exclamou: “Por mil mais-valias! Sou o predador deles!” Tomou então do arco, da flecha e do bornal e, a partir daquele dia, transformou-se no flagelo da esquerda situa­cionista embarricada num dos 39 ministérios da República. O guerreiro Suplicy foi enviado para negociar, mas foi recebido com um tomo de O Estado e a Revolução no diafragma, manobra astuta que o impediu de entoar o temido cântico de guerra Blowing in the Wind.

Topetinho vermelho

Pela estrada afora, de cara pintada, Lindbergh cruzara as densas matas de Nova Iguaçu para levar doces à vovó Dilma. Chegando por fim ao Alvorada, notou algo diferente. “Que pezão é esse, vovó?”, perguntou. “É pra melhor te chutar pra escanteio”, respondeu a doce senhora, com voz algo funda. “E que aliança é essa, vovó?” “É a garantia dos muitos cargos que terei a oferecer aos aliados, e você não”, atalhou a gentil anciã. Confuso, Lindbergh correu para a floresta e pediu ajuda a um lenhador cujo dedo mindinho fora decepado num acidente envolvendo uma foice e um martelo. Após conversarem longamente, o jovem Lindbergh foi convencido a voltar para a casa da avó, de onde saiu mudo e com um cargo no Ministério da Pesca. Os doces ficaram com o lenhador.

A presidenta borralheira

Obrigada por seu padrinho político a viver num palácio ermo e gelado de Niemeyer, a presidenta borralheira era obrigada a fazer todas as tarefas domésticas, as quais incluíam até corrigir o plano de voo do avião presidencial. Um belo dia, estava labutando para encontrar explicações criativas para não despedir seu senescal da Economia, quando vieram lhe falar de um baile no Ministério de Minas e Energia oferecido pelo príncipe Lobão, o Formoso. Ocorre que, a cada dia, o senescal lhe trazia mais contas macroeconômicaspara edulcorar, além de índices de inflação a serem desmentidos, isso sem falar nos déficits primários de arrepiar qualquer agência de rating. Socorrida pela fada da Casa Civil, a presidenta conseguiu terminar o serviço a tempo de montar um lindo topete para o baile. Mas havia uma condição: por causa da qualidade do laquê licitado a preço escorchante, o topete só ficaria de pé até a meia-noite. Irritada, a presidenta demitiu a fada e enviou uma Medida Provisória ao Senado obrigando o príncipe a viver para sempre feliz a seu lado.

O pequeno parlamentar

Essa é a fábula de um nobre se­nador que teve sete filhos para criar. O menor deles, ACM Neto, ficou conhecido como o Pequeno Parlamentar. Com seus sete irmãos, foi abandonado nas ladeiras do Pelourinho em dia de abadá exclusivíssimo. Mas ACM Neto era tão astucioso quanto pequenininho. Distribuiu migalhinhas de pão a aliados políticos, marcando assim o caminho que leva ao Palácio Tomé de Souza. Elegeu-se prefeito – o menor de todos os municípios do Ocidente –, e seu reinado foi próspero e discreto, já que poucos conseguiam vê-lo.

O tucano e a formiga

O jovem tucano pulava de galho em galho cantando lindas modelos quando avistou uma formiga de hipnóticos olhos verdes. “Amiguinho, venha se divertir comigo”, convidou. “Não posso. Tenho que governar e jantar com empresários”, devolveu a formiguinha, com forte sotaque nordestino. Quando o inverno chegou, o tucano ficou sozinho. Isolado e com frio, apesar de morar em Ipanema, procurou a formiga para propor uma aliança. “Você sabe trabalhar e eu sei cantar”, sugeriu. “Pois agora dance”, respondeu a formiguinha, fechando a porta e retomando o jantar com banqueiros paulistas.

Pinóquio

Construído com amor por um carpinteiro de origem italiana, Pinóquio era um lindo boneco de madeira. Cer­ta noite, durante o governo Lu­la, o boneco foi tocado por uma varinha de condão e ganhou vida no Ministério da Fazenda. Anos mais tarde, Pinóquio rearranjava indicadores econômicos quando notou que seu PIB havia diminuído. Encafifado com o encolhimento, recebeu a visita de uma fada ligada ao Departamento de Economia da PUC-RJ, que lhe explicou num vocabulário misterioso cheio de palavras em inglês: “Toda vez que você cookar os seus numbers, ou descuidar da fiscal policy, seu PIB cairá novamente.” Pinóquio reagiu reduzindo o IOFe impondo tarifas às fadas que não se formaram na USP.

Próximos lançamentos

Blairo Maggi e o pé de soja

A Gleisi Adormecida 

Ideli no País das Maravilhas

O petista de Hamelin
 

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