“Socorro, por favor, não mexa no armário onde guardo a louça de mamãe. Obrigado, Chico.” Escrito por Chico Buarque e endereçado à sua diarista Maria do Socorro, o bilhete veio a público ontem, durante a 962ª fase da Operação Lava Jato, e foi imediatamente considerado pelo dramaturgo Cláudio Botelho como um ato indefensável de repressão autoritária, “a lembrar os piores excessos da ditadura cubana”.

“Não pode mexer por quê?”, perguntou um Botelho indignado, logo depois da apresentação do musical Todos os Bilhetes de Chico Buarque. “Só por que ele é patrão, e ela, subordinada? Isso é mais do que censura! É o aggiornamento da velha dialética de Casa Grande & Senzala! Quem diria que para entender o filho de Sergio Buarque seria necessário ler Gilberto Freyre!”

Botelho declarou ter ficado especialmente incomodado com o trecho do bilhete em que Chico se refere à “louça de mamãe”. “Acho engraçado que a mesma pessoa que cantou ‘Afasta de mim esse cale-se’ agora impeça a diarista de mexer no armário que decerto abriga mais de um cálice. O que Chico está tentando dizer? Que agora as regras são outras? Que com o PT no poder é pau e repressão? Censura nos olhos dos outros é refresco!” Botelho acionou a Anistia Internacional pedindo que a entidade fique atenta à integridade física de Socorro. “O que lhe acontecerá se, num gesto libertário, ela desacatar a ordem e mexer no armário de mamãe? O pau de arara? O preço da liberdade é a eterna vigilância. Somos todos Socorro!”

O escritor Fernando Morais reagiu ao ataque de Botelho argumentando que o bilhete deve ser falso: “Botelho está a serviço do golpe. Qualquer pessoa que conheça a prosa límpida de Chico sabe que esse bilhete é apócrifo. A pontuação é pífia, o vocabulário é pobre e nada rima!”

Já o blogueiro Rodrigo Constantino organizou uma lista com 753 itens que Chico Buarque proíbe Socorro de tocar. “Ele não deixa a diarista organizar os documentos que estão sobre a escrivaninha! Isso é ditadura! Será que tem algum recibo de pedalinho por lá?”

Em Curitiba, o juiz Sergio Moro declarou que a próxima fase da Lava Jato deve revelar bilhetes de Jorge Vercillo, Ana Carolina e Rogerio Flausino a suas respectivas diaristas. A notícia fez a Bolsa cair 46%.

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