PAPELARIA PLANALTO – Injusto, desleal, antidemocrático. Isso é o mínimo que se pode dizer do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, após sua última tirada. Ao anunciar que atos do governo não serão mais assinados com caneta Bic – de origem francesa -, e sim pela brasileira Compactor, Bolsonaro não apenas enfraquece a diplomacia, a Organização Mundial do Comércio e a flutuação do mercado de canetas na Bolsa de Valores Nova York. Ao tornar público tão importante ato, Bolsonaro – o baluarte do patriotismo, o capitão que diz colocar o Brasil acima de tudo – joga no olho da rua milhares de brasileiros que viviam do ofício do humor.
Como ironizar a realidade quando o ocupante do cargo mais alto da República transforma a própria realidade num exercício de ironia? Como veicular uma piada, sendo apenas uma singela publicação, quando a concorrência tem toda a máquina pública ao seu dispor para fazer circular seu sofisticado arsenal de notícias satíricas? Que graça teria escrever que “Após vetar caneta Bic, Bolsonaro proíbe bidê, abajur e sutiã no Alvorada”, se uma vez publicada, tal piada teria chances consideráveis de já ter virado uma notícia verdadeira – e pior, uma notícia velha?
Ao fazer uso da ignóbil prática da espionagem industrial, avançando sobre o campo dos humoristas, Bolsonaro abre mais uma frente em sua cruzada antidemocrática. Estará o Brasil pronto para trocar Olegário Ribamar por Olavo de Carvalho? Será que Abraham Weintraub está no ministério da Educação apenas para evidenciar a propensão presidencial ao humor? Será que Ricardo Salles só foi internado para que o governo pudesse fazer a piada de que ele sofreu um estresse ambiental?