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Hinchada à brasileira

Na década de sessenta o Bangu tinha um grande time, totalmente bancado pelo bicheiro Castor de Andrade. Castor era, também, o mandachuva da Mocidade Independente de Padre Miguel, que durante muito tempo contou com a melhor bateria entre todas as escolas de samba do Rio de Janeiro. Questões policiais à parte, o resultado desse duplo comando do capo da Zona Oeste era que os jogos do Bangu no Maracanã viravam espetáculos inesquecíveis. Em campo, time excelente; na arquibancada, batida da melhor qualidade.

| 11 nov 2014_12h09
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Na década de sessenta o Bangu tinha um grande time, totalmente bancado pelo bicheiro Castor de Andrade. Castor era, também, o mandachuva da Mocidade Independente de Padre Miguel, que durante muito tempo contou com a melhor bateria entre todas as escolas de samba do Rio de Janeiro. Questões policiais à parte, o resultado desse duplo comando do capo da Zona Oeste era que os jogos do Bangu no Maracanã viravam espetáculos inesquecíveis. Em campo, time excelente; na arquibancada, batida da melhor qualidade.

Durante a Copa do Mundo, um amigo aqui do trabalho, corintiano roxo e integrante da diretoria da Rosas de Ouro, reclamava por não conseguir se adaptar ao futebol sem samba. Como era proibido entrar com instrumentos nos estádios – e, mesmo que não fosse, os públicos da Copa dificilmente acertariam duas pancadas num surdo de resposta –, as partidas transcorriam sem batucada.

Bom. Alguém já assistiu à transmissão de um jogo do Criciúma no estádio Heriberto Hulse? Nesse campeonato, vi as partidas contra Cruzeiro, Flamengo, São Paulo e Corinthians,e fui obrigado a tirar o som da tevê. A torcida do Criciúma tem uma filosofia bacana de empurrar o time o tempo inteiro e de não promover a segregação entre os simpatizantes do próprio clube, mas as musiquinhas que eles cantam são de partir o coração.

Sempre achei bacana o jeito dos argentinos incentivarem seus clubes e sua seleção. Mesmo perdendo de quatro a zero, os caras continuam dando força, não param de pular nem quando o jogo acaba e deixam a impressão de que chegam em casa ainda acreditando na virada. Entretanto, nós, brasileiros, confundimos as coisas e adotamos o que há de mais desagradável no estilo argentino de torcer: os cânticos. Inspirar-se no apoio incondicional que los hermanos dão aos times é louvável; abandonar a leveza e empolgação dos nossos ritmos, para bater aquele bumbo maçante por noventa minutos, é de chorar.

No campeonato estadual de 2013, antecipando o padrão coxinha que viria a ser imposto pela Fifa, a torcida do Flamengo comemorava as vitórias com uma canção do Coldplay. Não quero ser o Aldo Rebelo das arquibancadas, tenho várias músicas da banda londrina em meu iTunes e acho Fix You bem bonita, mas o que Chris Martintem a ver com nosso futebol eu não sei. Pior: naquele ano, a Unidos de Vila Isabel tinha vencido o carnaval carioca com um dos melhores e mais empolgantes sambas dos últimos tempos. E a massa lá, entoando o ôôôôô do refrão de Viva La Vida.

No início acreditei que a fórmula argentina fosse seguida apenas nos estados do Sul, devido à proximidade geográfica e à falta de intimidade com instrumentos depercussão. Mas não. Já se canta em todos os estádios brasileiros como se estivesse na Bombonera ou no Monumental de Nuñes.

Se acham que estou exagerando, experimentem: o Criciúma ainda joga em casa três vezes nesse campeonato, em15, 19 e 30 de novembro, contra Grêmio, Bahia e Sport. Com a torcida animando o time daquele jeito, está explicada a lanterna.   

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