Em 10 de maio de 2022, o fisiologista Francis Ribeiro de Souza acordou, deu uma espreguiçada e viu as horas no celular. Em meio a uma série de mensagens lhe desejando Feliz Aniversário, uma do Instagram chamou sua atenção. Era um sujeito desconhecido relatando um projeto improvável: estava disposto a correr uma maratona por dia durante um ano inteiro e gostaria de ter acompanhamento do Incor, onde Souza trabalha.
“A primeira coisa que pensei é que estavam me ‘trollando’ [pregando uma peça]. Respondi brincando, dizendo para ele vir para o Incor.”
O espanto era justificado. Poucas provas esportivas podem ser tão desgastantes quanto uma maratona. Os 42 km e 195 metros do percurso são acompanhados de riscos como desidratação (com perda de 2 litros de água por hora) e lesões. A imunidade pode ir para o chão, deixando o corpo vulnerável a gripes, febres, infecções bacterianas e virais durante semanas. Há casos de desfecho letal. A própria lenda sobre a origem da prova, registrada em um relato tardio de Plutarco (séc. I), cita que o soldado Fidípides morreu de exaustão ao correr a distância entre as cidades gregas de Maratona e Atenas para anunciar a vitória em uma batalha contra os persas, em 490 a.C.
Por essas e outras, é raro ouvir que alguém planeja correr maratonas por muitos dias sequenciais. Quanto mais durante um ano inteiro. “Mas quando o Hugo pisou aqui no corredor, olhei pra ele, alguma coisa me dizia que aquele cara iria conseguir fazer as 365 maratonas consecutivas”, recorda o médico.
Ele conseguiu, e o feito virou notícia em todo canto. A dúvida que restava era: quais as consequências de algo tão radical para o organismo? Um artigo científico que está sendo preparado pela equipe médica, e que deverá ser publicado ainda em 2024, trará as respostas, em parte antecipadas pela piauí.
Em linhas gerais, são resultados positivos, com um grau de adaptabilidade do organismo maior do que o esperado. Eles dão sustentação para o novo projeto do paulista, que é ainda mais espantoso: percorrer os 23 mil quilômetros entre o Alaska e a Terra do Fogo, em uma média de 100 quilômetros por dia.
A aventura de Hugo Farias se tornou conhecida em programas esportivos, reportagens e redes sociais. Aos 43 anos, casado, pai de uma menina e de um menino, o executivo de uma empresa de tecnologia na cidade paulista de Americana deu um tempo do emprego, pediu paciência para a família e se lançou no desafio autoimposto. E autofinanciado, sem que algum patrocinador investisse na sua ideia.“O objetivo do projeto era inspirar pessoas a fazerem coisas extraordinárias, mudarem de vida e construírem uma nova história, como eu estava fazendo ali.”
Farias sempre gostou de esportes, desde o basquete e o futebol na infância até o tênis, que praticou religiosamente de 2012 a 2018, mas nunca se considerou um atleta. Em 2019, após oito meses de preparação, correu em Buenos Aires sua primeira maratona. Gostou, e no mesmo ano participou de uma prova de triatlo. Logo veio a pandemia e as reflexões sobre a própria vida, de um profissional bem-sucedido às custas de jornadas de 10, 12, 14 horas por dia.
O último dia no escritório foi em meados de maio de 2022, e tão logo pendurou terno começou a treinar para ganhar condicionamento físico. “Eu já tinha um volume de treinos considerável durante a semana. Nadava acho que de 2 a 3 km, pedalava em torno de 100 km e corria uns 40 km por semana. O treino consistia em aumento de volume de corrida, mais quilômetros por dia e por semana, além de estímulos diferentes, treinos intervalados, treinos de tiro para dar um estímulo maior para o coração, treinos longos. Pensando, acima de tudo, em melhorar minha condição cardiorrespiratória. Além disso, minha preparadora física desenvolveu um plano de treinamento para fortalecer de forma igual toda a musculatura.”
O objetivo era dar as primeiras passadas do Projeto Propósito (como ele batizou a empreitada) em 28 de agosto do mesmo ano. “Minha preocupação principal era se isso poderia gerar alguma sequela, algum problema físico, algo que pudesse carregar para o resto da vida e me arrepender depois. Por isso senti a necessidade de ter o acompanhamento de profissionais. Eu sabia que não conseguiria fazer nada sozinho.” Assim, Farias montou aos poucos uma equipe multidisciplinar para lhe acompanhar, cuidar, aconselhar e o que mais fosse necessário. Foram onze profissionais no total: nutricionista, fisioterapeuta, psicóloga, preparadora física, gastroenterologista, cardiologista, dois ortopedistas, dois treinadores de corrida e um pesquisador do Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
“Foi aí, nessa montagem da equipe, que pensei que meu projeto poderia gerar uma contribuição científica para saber o impacto desse feito em um corpo humano. E sabia que não estaria me expondo a um risco extremo, porque não correria para performance, e sim para resistência”, explica Farias.
Há, é claro, ideias menos arriscadas. Alguns estudos mostram que na maratona a temperatura corporal aumenta consideravelmente, chegando a 39ºC, o que traz uma maior dificuldade para o coração bombear o sangue para os músculos esqueléticos, pois o fluxo sanguíneo acaba sendo direcionado para resfriar a pele. Ao final da corrida, quando a temperatura despenca abruptamente, existe risco de hipotermia. “A alta demanda de exercício físico, principalmente de alta intensidade, pode trazer algumas desadaptações e consequências para o sistema cardiovascular e osteoarticular do atleta, como arritmias cardíacas, inflamação nas artérias, alterações na estrutura e função cardíaca, que podem colocar a saúde em risco”, enumera Souza.
O médico precisou criar um projeto de pesquisa em torno da experiência. Com a aprovação do Comitê de Ética, foi iniciado o trabalho, com uma avaliação inicial, outra após três meses de corridas, e então aferições mensais até o fim do projeto, em 28 de agosto de 2023. Os dois exames mais importantes foram o ecocardiograma, que mede o tamanho e a funcionalidade do coração, e a ergoespirometria, um teste cardiopulmonar que analisa “padrões ventilatórios, consumo de oxigênio, produção de dióxido de carbono, além de ter todo o monitoramento da pressão arterial ao longo do esforço, e da frequência cardíaca, para saber se tem arritmia e se a frequência cardíaca sobe de maneira fisiológica”.
A partir dos primeiros testes, ficou decidido que a velocidade média confortável de Farias seria de 10 km/h com uma frequência cardíaca de 130 a 150 batimentos por minuto. “Durante o teste cardiopulmonar, além de avaliar os batimentos cardíacos pelo eletrocardiograma, o atleta utiliza uma máscara para que seja possível encontrar os limiares ventilatórios e definir as zonas de intensidade do exercício físico; leve, moderada ou alta. Especificamente, no caso dele, orientamos a correr na intensidade do primeiro limiar ventilatório, que foi entre 130 e 150 batimentos. Nessa intensidade moderada, o organismo utiliza predominantemente como fonte energética a gordura junto com uma parcela de glicogênio e é isso que faz o atleta tolerar a corrida por um longo período”, lembra Souza, de uma das salas do Centro de Avaliação CardioMetabólica da Comissão Científica, no Centro de Pesquisa Clínica Prof. Dr. Fúlvio Pileggi, situado no primeiro andar do amplo prédio do Incor, em São Paulo.
A dieta criada pela nutricionista tinha uma base diária de 5.600 calorias com foco em macronutrientes distribuídos da seguinte forma: 60% de carboidratos como arroz, feijão, macarrão e batata etc; 30% de proteína em carnes diversas, ovos e whey protein; e 10% de gordura no azeite de oliva e castanhas. Farias também consumia diferentes tipos de açúcar como fonte energética de rápida absorção, tais como géis, bananinha, mel e rapadura. “Começamos com 60 g/hora e aumentamos até 93 g/hora. Eu consumia de 2 a 3 litros divididos entre água, isotônico e água de coco ao longo das maratonas. A alimentação foi sendo ajustada ao longo do projeto, conforme percebíamos, eu e a nutricionista, a necessidade de buscar maior equilíbrio entre a demanda e a reposição energética. Mas essa foi minha dieta básica até o fim”, disse Farias.
E assim, preparado em muitas frentes, acompanhado por uma equipe multidisciplinar, Hugo Farias pôs-se em movimento. Após cada corrida, mergulhava as pernas em uma banheira com gelo por 10 a 15 minutos até a linha da cintura. Não precisava de muito gelo, que é um anestésico natural e ajuda a conter o processo inflamatório. “Junto com a fisioterapia, isso ajudava a aliviar as dores musculares.”
A psicóloga Marta Minopoli começou o acompanhamento meses antes da série de maratonas. “Acabamos abordando muitos pontos durante nossas sessões, mas o foco principal era o de manter sua integridade mental para poder enfrentar esse desafio até o fim de maneira saudável. Falamos se havia estratégias mentais suficientes para que ele lidasse com qualquer tipo de imprevisto ou insucesso; se existia organização logística para situações que saíssem do que estava previamente organizado; como ele lidaria com questões familiares, pessoais, financeiras e físicas, com qualquer tipo de pensamento que pudesse fazer ele desistir; e como ele organizaria o pós-projeto numa nova rotina”, revela Marta.
Essa preparação ajudou Farias em alguns reveses, tais como três diarreias em um contexto de sobrecarga emocional. Não precisou parar de correr, mas acrescentou mais pausas para ir ao banheiro. Passou a se hidratar mais e, junto com a nutricionista, conseguiu repor a flora intestinal com uso de probióticos. Sua “cabeça fortalecida” ajudou a enfrentar, principalmente, lesões no meio do caminho, pois as maratonas o presentearam com uma dor pontual na região lombar (lombalgia), uma inflamação na membrana que recobre a musculatura da sola do pé (fascite plantar) e, a pior de todas, uma grande dor na região anterior da bacia, na altura do púbis (pubalgia, muito comum em jogadores de futebol). “A lombalgia logo melhorou com medição, mas precisei conviver com a fascite plantar e a pubalgia até o final. Só fui sarar delas após o projeto, com 6 ou 7 meses de amplo repouso.”
“O motivo da pubalgia foi o trajeto que escolhi, que, em sua maior parte, fazia voltas no sentido horário. Então a minha perna direita foi recebendo maior impacto ao longo do tempo.” Depois da passagem de ano de 2022 para 2023, chegou a experimentar a maratona no litoral, para ficar perto da folga da família. “Tomei a decisão de correr o primeiro dia em praia que eu conhecia, de areia batida. O problema é que era muito irregular e tinha uns canais, que eu precisava ficar pulando. Como sou destro, na maior parte do tempo aterrissava com a perna direita. Isso foi gerando uma lesão na virilha. No dia seguinte passei a correr no asfalto de novo, mas aos poucos a dor foi se intensificando.”
As dores começaram na maratona 134, mas a primeira vez que a lesão apareceu de fato foi na 143, já de volta a Americana. A dor foi ficando insuportável após a metade do percurso e Farias terminou essa maratona caminhando. A corrida que ele costumava levar 4 horas em média para terminar durou, dessa vez, sete horas. Ele fez o alerta no grupo do WhatsApp com os médicos, anti-inflamatórios foram receitados e ele voltou a correr no dia seguinte. Mas então veio a maratona 150 e a dor voltou com força total, fazendo com que o paulista decidisse fazer o trajeto caminhando, o que levou cerca de 10 horas.
“Nesse momento, o projeto correu um sério risco de ser interrompido, mas pedi um voto de confiança para a equipe. Treinei caminhada, então falei que gostaria de caminhar. Não importa se vai levar 10 horas, 12 horas, o dia inteiro. Assumi muitos compromissos, comigo mesmo, com minha família, com o Incor, com toda a equipe. Todos me apoiaram e felizmente, com a redução do impacto, fui melhorando.”
Farias caminhou integralmente a maratona durante 5 dias, segurando ele mesmo um saco de gelo na virilha, que era constantemente trocado, ao longo de 10 horas. Depois foi intercalando caminhada e corrida, até voltar a correr 100%, o que levou cerca de vinte dias. “Aí eu ia aumentando o volume de corrida gradativamente e diminuindo o volume de caminhada, conforme ia me sentindo bem”, diz Farias. Assim que foi melhorando, ele passou a fazer um treino específico para fortalecer a musculatura da região central do corpo: exercícios com elástico, abdominal, flexão e prancha, basicamente. Além de uma fisioterapia focada na região do púbis.
“Esse momento [da pubalgia] foi o mais tenso e desafiador. Toda a equipe readequou a rotina, cada um dentro da sua especialidade, para que ele pudesse passar por isso com todo suporte necessário. Nós fizemos, aliás, algumas sessões enquanto ele caminhava”, diz a psicóloga.
Um dos ortopedistas da equipe, Rogério Savoy, mora no mesmo condomínio do atleta em Americana, e já o conhecia. “Em casos assim é muito comum que ocorram lesões como dores articulares nos joelhos, quadris ou tornozelos, tendinites nos membros inferiores, lesões musculares, fraturas por estresse, periostite tibial ou canelite, além das que realmente acabaram acontecendo com o atleta, tais como fascite plantar, lombalgia e a pubalgia. Quando ele seguiu em frente mesmo com essas lesões, o que surpreendeu não foi apenas seu condicionamento físico, mas também a força mental e seu foco em manter o objetivo. Porque a pubalgia é normalmente uma lesão incapacitante e difícil de lidar, pois requer tratamento especializado com medicação, fisioterapia, repouso e muita paciência. Só que repouso é uma condição que não fazia parte do protocolo desse projeto”, explicou Savoy.
“Durante todo o projeto foram feitas avaliações e medições clínicas, exercícios de fortalecimento e de prevenção de lesões, exames de imagens, cardiovasculares e laboratoriais. Mas optamos por não fazer exames de densidade óssea, pois sabidamente os exercícios de impacto melhoram a densidade e a qualidade óssea”, completou Savoy.
A penas um inglês, um belga, uma dinamarquesa e um casal australiano haviam completado 365 maratonas consecutivas (sem contar o espanhol Ricardo Abad, o recordista mundial com 607). Não contente com o desempenho inédito nas Américas, Farias foi uma corrida além e completou 366 maratonas para entrar de vez no Guinness World Records. O feito foi homologado em junho deste ano, após oito meses de análise.
“Durante o projeto, de vez em quando sonhava que estava correndo, mas depois do fim não me recordo de nenhum sonho assim”, diz o atleta. Ele passou a ocupar seu tempo se recuperando ao lado da família, fazendo palestras, exames de rotina e lançou um livro em parceria com a escritora Priscila Nunes, Projeto Propósito: Nunca é Tarde para Escrever uma Nova História.
Marta Minopoli, a psicóloga, lembra que todos da equipe tinham receios sobre o que aconteceria depois da última linha de chegada. “Por parte dele, existia uma angústia em relação à saúde financeira e aos possíveis impactos negativos na qualidade de vida que sempre pôde proporcionar à sua família. Trabalhamos muitos desses pontos, sempre buscando priorizar seu desejo inicial: deixar o legado de que pessoas comuns podem realizar coisas extraordinárias.”
E o corpo? Alguma sequela? Algum desgaste? “A análise preliminar que os ortopedistas fizeram é que, por incrível que pareça, as minhas articulações terminaram melhores do que começaram. Porque quem absorve o impacto não são as articulações, e sim a musculatura. Então eu fazia fortalecimento muscular de manutenção duas vezes por semana, alongamentos, liberação miofascial, massagem, tudo após as corridas. Muita hidratação sempre, antes, durante e depois das corridas. Pelo menos 6 horas de sono por dia. Então, a disciplina em todo esse processo me permitiu concluir o projeto com uma qualidade física muito boa”, explica Farias, corroborando as falas dos médicos.
A taxa de gordura corporal não variou radicalmente (dos 12,8% iniciais passou para 9,6% no auge das corridas, mas já voltou ao normal). E o coração passou bem pelo projeto. “Espera-se que a atividade física faça o coração começar a sofrer alguns remodelamentos: aumentar o tamanho, aumentar a espessura da parede do ventrículo. No caso do Farias, não aconteceu nada disso. O coração dele se adaptou bem e teve um desvio padrão de 2% ou 3%, o que está dentro da normalidade. Como não teve nenhuma alteração na parte cardíaca, a gente só orientava se era maior ou menor a intensidade da corrida, geralmente nos momentos fora do normal, como a pubalgia, as diarreias, as maratonas fora de Americana”, diz Souza, que ainda recebe Farias de três em três meses no Incor para atualizar as avaliações cardiopulmonares.
“Então, hoje, se alguém me perguntar: o coração se adapta mesmo em altos volumes? Eu acredito que sim”, diz o médico Francis Souza. “Tivemos muito cuidado com o que escrevemos [no artigo científico] porque é um estudo sobre um atleta só. Mas essa perspectiva já é uma quebra de paradigmas. Se você tem um acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, é possível diminuir riscos.”
Enquanto isso, o desejo de correr perseguia o atleta. Se durante o Projeto Propósito ele chegou a 300 km por semana, nos meses seguintes ao fim ele não conseguiu ficar totalmente parado e manteve ao menos 10 km de corridas semanais. “Mas se passasse de 10 km, já sentia uma dor novamente. Em maio eu retomei todo o fluxo de treinamento. Então estou aumentando gradativamente o volume de corrida e hoje corro de 50 a 60 km por semana. Tenho saudade da rotina das corridas, porque elas me mantêm disciplinado, focado”.
No total, o corredor percorreu 15.443 km. Com essa quilometragem ele poderia ir de um extremo a outro do Brasil pouco mais de três vezes.
Durante seu projeto, Farias utilizou 27 pares de tênis: três modelos Asics (Nimbus 23 e 24, e Novablast 2), três modelos Olympikus (Olympikus Corre 2, Olympikus Corre 3 e Olympikus Corre Grafeno), dois modelos Fila (Racer Carbon e Float Maxxi), dois modelos Nike (Zoom Fly 4 e Invincible Run), um modelo Puma (Deviate Nitro 2) e outro On Running (CloudStratus 2.0). “Eu fazia revezamento dos tênis. Colocava numa sequência de diferentes marcas, pegava dez pares de uma vez, por exemplo, e usava um por dia. Só repetiria cada um desses dez dias depois. Uma sequência assim fazia com que os tênis durassem de 3 a 4 meses. Na média cada par de tênis rodou uns 600/650 km”, relembra.
“Usei tênis com placa e sem placa. Dos quase 16 mil km, uns 11 mil foram com placa. Talvez isso possa ter contribuído para a fascite plantar, por causa da absorção do impacto da placa, por ser um tênis um pouco mais rígido”.
O primeiro critério de escolha dos calçados era a estabilidade. “O tênis precisava ser estável, porque corria na rua, subia e descia da calçada. Precisava também ser confortável, claro. Tinha que ter um certo nível de absorção de impacto, até porque o volume seria muito grande, então precisava preservar minha musculatura e articulações. E que também tivesse um bom custo-benefício, pois faria o investimento do próprio bolso, então não precisaria mesmo desses tênis super caros.”
Foram dois relógios digitais com GPS: usou desde o início um Polar Vantage M2, mas depois de sessenta dias incorporou um segundo para reforçar o cômputo dos dados: um Garmin Forerunner 735 XT, tinha a vantagem de transmitir o trajeto em tempo real dos entusiastas nas redes sociais).
O conhecimento acumulado logo será posto novamente em ação no Projeto Américas, para o qual busca um patrocinador. “Eu pretendo me tornar o primeiro ser humano a correr toda a extensão das Américas. Saindo do Alaska e chegando na Terra do Fogo, lá na cidade de Ushuaia, na Argentina. Serão 23 mil km. E a intenção é fazer isso em oito meses. Começar por volta de maio e terminar em dezembro de 2025. O que dará uma média de aproximadamente 100 km por dia. Duas maratonas e meia, praticamente.”
A equipe já está sendo formada e boa parte será composta pelos mesmos profissionais que já estão com ele. Mas como as ambições agora são maiores, será necessária uma equipe em solo, um motorista, um motorhome e uma equipe de filmagem. “A ideia é produzir também um documentário para mostrar como a atividade física transforma vidas, e que qualquer ser humano é capaz de fazer coisas extraordinárias.”