O que esperar da seleção de futebol de um país cujo presidente tem como esporte predileto o basquete? Um país em que a população prefere beisebol? Podem reparar: só foram campeãs do mundo nações em que o futebol é o esporte número 1. (Tem gente que vai falar do ciclismo na França e das touradas na Espanha. Conversa.)
Mas os americanos são danados. Incansáveis na arte de se meter na vida alheia para defender a democracia – o fato de isso estar sempre ligado a interesses econômicos e beneficiar sua influente indústria bélica é apenas um detalhe –, os EUA também resolveram se meter num esporte para o qual não levam o menor jeito.
Faz parte da maneira que eles têm de encarar as coisas: achar que, colocando um caminhão de dinheiro, qualquer negócio vai para a frente. Foi assim que fizeram com o vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 84. Cismaram que ganhariam a medalha de ouro em casa, investiram uma barbaridade, montaram um time forte pra burro e, beneficiados pela ausência dos países do leste europeu, ganharam. Só que até hoje eles não perceberam a diferença. No vôlei, se você tem 2 metros de altura e treina muito, vira um bom jogador. No futebol, se você não tem aquele inexplicável dom de nascença, não adianta.
Parece que a passagem de David Beckham pelo Los Angeles Galaxy encheu o pessoal de gás, e a vem crescendo a cada ano. Na última temporada, o Seattle Sounders foi o clube fora da Europa com maior média de público em seus jogos – cerca de 40.000. Mas o futebol não está no sangue dos caras, e importar craques pintosões e decadentes é muito pouco para mudar a cultura esportiva de um país. Pode ser que um dia aconteça, mas vai demorar.
Os EUA não ficam fora de uma Copa do Mundo desde 1990. Pudera: seu único adversário decente nas eliminatórias é o México e as vagas são três, além de um quarto concorrente ter uma segunda chance na repescagem. Mais ou menos a mesma explicação para o Emelec disputar a Libertadores todo ano. Se não for ele, vai ser quem?
Não há destaques no time americano – Donovan, Dempsey e Altidore são os mais conhecidos, chamá-los de destaques seria um despropósito – e as grandes características são o rigor tático e o jogo coletivo. Ambos funcionam até certo ponto e dificilmente farão os EUA seguirem para as oitavas de final, já que seu grupo reúne Alemanha, Portugal e Gana.
De qualquer modo, não deixem de ver a seleção americana jogar. Vai ficar fácil entender por que Barack Obama gosta tanto de basquete.