A interação com o público é um dos segredos da audiência dos podcasts – e pode ser fundamental inclusive para ajudar no financiamento do projeto. Esses foram alguns dos temas abordados na segunda mesa da Maratona Piauí CBN de Podcast, chamada “Segurando o ouvinte”. O apresentador do AntiCast e do Projeto Humanos, Ivan Mizanzuk, a apresentadora do Mamilos, Juliana Wallauer, e o assistente de marketing digital da Rádio CBN, Paulo Vinicius Lima, falaram sobre as dificuldades de ter números confiáveis de audiência, dos desafios de mudar o formato dos programas e das opções de financiamento do projeto. A mediadora foi a gerente de produto digital da Rádio Novelo, Kellen Moraes.
“Não existe um YouTube de podcast. Cada plataforma usa uma métrica diferente. Os números ainda são muito esquisitos”, afirmou Mizanzuk quando perguntado sobre o alcance de seu podcast de política, no ar desde 2011. “Suponho que o AntiCast tenha entre 50 e 60 mil downloads por episódio.” O outro programa, Projeto Humanos, cerca de 150 mil. “São chutes. É um mistério.” Os números do Mamilos, podcast semanal que debate os temas da sociedade de “peito aberto”, são similares. Juliana Wallauer também estima que cada episódio seja ouvido 150 mil vezes.
A relação horizontal entre ouvinte e apresentador, sem formalidade nem hierarquia, foi ressaltada por Juliana Wallauer, do Mamilos: “É próprio dessa mídia. É como se faz podcast. O ouvinte vem e pede pauta, quer compartilhar as histórias dele.” Publicitária de formação, Wallauer comentou que quem mais sabe “vender” os episódios é o público. “Retuitamos alguém que fala que estava ouvindo o podcast no supermercado e, quando chegou em casa, não precisou lavar os legumes, porque os lavou com as próprias lágrimas.”
Paulo Vinicius Lima, da CBN, falou sobre o sentimento de pertencimento resultante do acompanhamento frequente de um podcast: “Existe uma comunidade em torno do conteúdo, pessoas que têm as mesmas preocupações. A pessoa pensa: ‘Tem mais gente ouvindo, participando, como eu.’ Essa relação muito íntima é algo que a gente já experimenta há muito tempo no rádio. E o podcast é um pouco disso. Se atrasa, as pessoas já vão lá perguntar pelo episódio.”
Mizanzuk e Wallauer contaram que costumam ser abordados nas ruas: “Podcast é só voz, então para as pessoas reconhecerem a gente, elas tiveram que se esforçar, procurar nossos rostos nas nossas redes sociais”, assinala Mizanzuk, que tem mais seguidores em seu Twitter pessoal do que na conta do AntiCast.
“Encontrar alguém que ouve a gente é um enorme privilégio numa cidade como São Paulo. A relação com os ouvintes é muito diferente, é de outra natureza. O rádio é próximo, mas é um programa da emissora, não é da pessoa que está apresentando. O Mamilos não é o meu trabalho, é minha vida. Nunca é um incômodo encontrar ouvinte. Escutar de alguém ‘você mudou minha vida’ não cansa nunca”, emociona-se Wallauer.
A mesa discutiu diferentes formatos e tempos de duração dos programas. Na CBN, Lima mudou o modelo de um programa, e a audiência caiu. “Assim que voltamos ao formato antigo, foram três meses de audiência ascendente.” O Mamilos se reinventa a cada seis meses. “Tem que testar. Diziam que não podia falar sobre suicídio. A gente quis testar. Temos que questionar o status quo. Diziam que ninguém quer programas longos. Botamos episódio de três horas e não baixou o número de downloads”, conta Wallauer.
A fidelidade do público permitiu que tanto o Mamilos quanto o AntiCast tivessem ótimas experiências com crowdfunding, que é quando os ouvintes apoiam financeiramente os produtores de conteúdo. “Com apenas dez episódios, as pessoas mandavam mensagens pedindo que não parássemos de fazer o podcast. O ouvinte de podcasts é traumatizado, pois muitos produtores param de produzir. Foram os ouvintes que propuseram nos apoiar com dinheiro”, afirma Wallauer. Mizanzuk, professor universitário, contou que o financiamento coletivo permitiu que ele reduzisse suas horas de aula na universidade em que leciona.
Para Wallauer, há algumas razões para o sucesso dos crowdfundings: “A gente presta um serviço. Além disso, a gente está muito vulnerável lá. Na rádio, se dá a notícia de uma jeito mais impessoal. Quando a gente dá a notícia no Mamilos, a gente se coloca lá. Isso gera conexão com o ouvinte. Quando a gente fala ‘cara, preciso de dinheiro para continuar com o podcast’, 2 500 ouvintes pagam por algo que eles têm de graça.”