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Jegue elétrico

Zelia Duncan | 01 jun 2011_11h30
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Em Brasília, nos anos 80, existia uma loja de LP’s, chamada “Jegue Elétrico”. Ficava  num centro comercial bem esquisito, que jamais frequentávamos de noite. Mas bastava botar os pés ali dentro e tudo ficava diferente. Aquelas capas bonitas de tão feias, aquelas caras todas, de gente que botava a mão na massa e parecia, aos meus olhos de adolescente, ter encontrado algo que eu queria e deveria saber o que era. Ali, a produção de independentes encontrava uma maneira de chegar até nós.

Em tempos de não internet, era dureza conseguir saber o que acontecia e talvez por isso mesmo, quando a novidade se materializava, a comoção era real. O que vinha de São Paulo sempre me instigou mais do que tudo. Grupo Rumo, Premeditando o Breque, Língua de Trapo, Eliete Negreiros, que cantava um arranjo louco de” Pipoca Moderna”. Cida Moreira, cantora fascinante , teatral e sempre surpreendente. Tetê Espíndola e seu álbum clássico, “Pássaros na Garganta”. O arrasador “Clara Crocodilo”, de Arrigo Barnabé, com seus metais e vocais malvados, falando de uma atmosfera que era maravilhosamente estranha a tudo que era visto por mim naquele momento.

Dentro do grupo Rumo, dois nomes especialmente arrabatadores: Ná Ozetti, cantora/compositora, também única no seu jeito de emitir as notas e se colocar nas canções, e o mestre Luiz Tatit. Compositor e inventor de uma maneira de estar dentro da canção, que até hoje precisamos parar, destrinchar e degustar cuidadosamente.

E, finalmente, aquele que se tornou um dos mais significativos representantes da vanguarda paulista, Itamar Assumpção. Porém sua obra é bem mais devastadora do que apenas um rótulo, ou uma década. Suas riquezas ritmicas e a qualidade de seu discurso são poderosas demais. Itamar tem a força do compositor popular e a possibilidade de transpor rótulos e gerações.

Por tudo isso e muito mais, vejo a invasão paulista na nossa música de agora, de forma extremamente benéfica e alegre. Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Beto Villares, Leo Cavalcanti, Dani Black, Anelis Assumpção, Céu e tantos outros, são herdeiros legítimos desse povo, que habitava meu imaginário quando pisava naquela lojinha suja em Brasília. A boa nova é que soam de forma diferente e precisamos muito das novidades consistentes.

Para não parecer que as coisas vêm do nada, saibam que Arrigo Barnabé andou fazendo um show sombrio e lindo, cantando Lupicínio Rodrigues. Cida Moreira acaba de lançar um álbum denso e profundo, “A Dama Indigna”. Ná Ozzetti lançou “Meu Quintal”, com parcerias, Luiz Tatit mostra um norte incrível, lançando “Sem Destino” e a obra de Itamar, inclusive com inéditas, foi super bem lançada numa “Caixa Preta”. Procurem ouvir. Usem a Internet Elétrica, ou a Baratos Afins, que fica na Galeria do Rock./SP. Gostar de música é correr atrás dela, saber de onde ela veio. Gracas ao Jegue Elétrico, eu criei asas, ali estava meu Pégasus possível, cada um que encontre o seu!

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