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    Foto de Moacyr Lopes Junior/Folhapress

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“Kamikaze”, maratonista aquática que ganhou o bronze fala pouco e nada desde os 2 anos

Luiza Miguez | 15 ago 2016_18h17
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Pela primeira vez na história, a natação feminina brasileira conquistou uma medalha olímpica com o bronze da maratonista aquática Poliana Okimoto. A atleta paulistana de 33 anos chegou em quarto lugar na disputa de hoje, mas subiu ao pódio depois que os juízes desclassificaram a segunda colocada, a nadadora francesa Aurélie Muller, por causa de uma manobra ilegal. Mignon e delicada, Poliana pesa cerca de 50 quilos, nada desde os 2 anos e competiu exclusivamente em piscina até os 22, período em que se destacou nas provas de fundo, como são chamadas as de 800 e  1 500 metros. De personalidade retraída, costuma falar pouco e manter o semblante sério nas aparições públicas. O secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento, Luiz Lima, compara a atleta de ascendência japonesa com “aqueles pilotos kamikazes, quietos, mas persistentes, do tipo que não desistem nunca”.

Em junho deste ano, quando a entrevistei para escrever o perfil de Ana Marcela Cunha, sua maior rival no país (A Pit Bull, piauí_118), Poliana contou que sempre teve medo de nadar no mar. Ela teme arraias, tubarões e outros bichos. Mesmo assim, em 2005, por insistência de seu marido e técnico, Ricardo Cintra, acabou debutando nas provas marítimas. A classificação para os Jogos do Rio ocorreu no mundial de natação em Kazan, na Rússia, em 2015. Na ocasião, ela alcançou o sexto lugar na prova de dez quilômetros, mais de 20 centésimos atrás das primeiras colocadas: Aurélie Muller, a holandesa Sharon van Rouwendaal e a baiana Ana Marcela. Hoje, quando as 26 competidoras entraram no mar, eram justamente essas três nadadoras as favoritas. A holandesa atendeu às expectativas e levou a medalha de ouro. Já Ana Marcela amargou a décima colocação.

O mar de Copacabana, onde aconteceu a maratona desta segunda-feira, acordou com temperatura de confortáveis 21 graus, pouco vento e sem ondulações. Para sorte de Poliana, lembrava muito as piscinas em que ela alcançou suas primeiras conquistas. A atleta estreou como maratonista olímpica aos 25 anos, em 2008, nos Jogos de Pequim, quando chegou em sétimo lugar. Também competiu nos Jogos de Londres, em 2012, mas precisou abandonar a disputa em virtude de uma hipotermia, após percorrer 7 500 metros. Apesar da dificuldade de nadar em águas frias como as londrinas, Poliana iniciou  o ano de 2013 disposta a mostrar que poderia enfrentar em pé de igualdade as maiores nadadoras de maratona. Conseguiu: sagrou-se campeã mundial em Barcelona, na prova de dez quilômetros, e ganhou medalhas de prata e bronze nas competições de cinco quilômetros e no revezamento misto. Desde 2014, integra a equipe da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos (SP). Antes, havia passado pelo clube Pinheiros, pelo Corinthians e pelo Minas Tênis.

Em julho de 2015, a atleta sofreu uma ruptura nas vertebras da cervical durante uma prova em Portugal e precisou ficar três meses inativa. O lento processo de recuperação atrapalhou os preparativos para o mundial de Kazan. À época, Poliana – que sempre gostou de se manter magra – alimentava-se de maneira insatisfatória. A taxa de glicose em seu sangue andava baixa e ela exibia pouquíssima disposição. “Eu achava que estava velha, que não conseguiria mais ganhar nenhuma medalha. Não tinha forças para treinar nem para viver”, me revelou na entrevista de junho. Pensou em desistir de tudo. No entanto, logo após o mundial de Kazan, ela e Ricardo Cintra tiraram férias,    decididos a dar a volta por cima.

Curiosamente, mal retomou os treinamentos, Poliana foi buscar auxílio com dois profissionais de São Paulo que já cuidavam de Ana Marcela Cunha: o médico Gustavo Magliocca e a nutricionista Yana Glaser. Poucos meses depois de começar o atendimento com a dupla, a maratonista paulistana se sentia cada vez melhor. “Meu volume de treino cresceu muito. Parece que estou com 20 anos”, afirmou à piauí.

Em fevereiro de 2016, partiu para Abu Dhabi, em Dubai, e disputou uma prova de dez quilômetros. Chegou em segundo lugar, atrás apenas de Aurélie Muller. Passados dois meses, repetiu a colocação de Abu Dhabi em uma competição de cinco quilômetros na Flórida. Hoje, quando saiu da água com o tempo de 1 hora, 56 minutos e 51 segundos, declarou, aos prantos. “A maratona aquática do Brasil merecia essa medalha.”

 

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