Escrito e dirigido por Eugène Green, La sapienza está sujeito a ser ridicularizado por seu artificialismo ou admirado por ir contracorrente do naturalismo dominante. Qualquer que seja a opção, é impossível não reconhecer a coragem de Green e seu domínio de uma singular forma narrativa, exemplo radical de distanciamento, à maneira de Robert Bresson, embora com atores profissionais.
Ao espectador resta rejeitar La sapienza in limine ou ter disposição para assistir a um filme inusitado, e ser recompensado. Para isso, precisará deixar de lado hábitos arraigados e se deixar levar na viagem pela Itália rumo à igreja de Santo’Ivo na Sapienza, em Roma.
Onde Green claudica é em sua pretensão filosofante, revelada nas suas entrevistas e expressa em diálogos e pistas tão ambíguas quanto indecifráveis. Em Stressa, no norte da Itália, o arquiteto Alexandre Schmidt (Fabrizio Rongione) e sua mulher distante, Alienor (Christelle Prot Landman), terapeuta comportamental, encontram os irmãos adolescentes, Goffredo (Ludovico Succio) e Lavinia (Arianna Nastro), com os quais, cada um à sua maneira, estabelecem uma relação que também contribui para reviverem sua paixão. Green pretende que os irmãos sejam uma projeção de Alexandre e Alienor? Há indícios que sim, em especial na cena final quando dão adeus à medida que os irmãos se distanciam em um barco a remo.Em entrevista à revista Sight and Sound, Green explica que sapienza (sabedoria) quer dizer “o conhecimento que leva à sabedoria”. E prossegue: “No filme tem sentido duplo porque é uma referência ao palácio, a maior obra-prima de Borromini, mas se refere também ao sentido da palavra por que, como Alexandre percebe no final do filme, a maioria do conhecimento que ele possui é inútil. Para mim, o único conhecimento que não é inútil é o conhecimento que leva à sabedoria […] Alexandre acreditava que seus edifícios eram úteis por que eram funcionais, mas aí sente que esses edifícios não levam à sabedoria, por que ele diz que ‘a fonte da beleza é o amor, a fonte do conhecimento é a luz’, e como os edifícios não davam luz às pessoas, e não criavam espaços que tornavam o amor possível, sua funcionalidade não era, na verdade, funcional, era inútil. E por causa da experiência da viagem ele chega a outra conclusão sobre o que é útil.”
É o caso de dar um grito de “chega!”. Ou talvez apenas um “ai!” seja suficiente. Um filme que depende de uma explicação como essa do diretor demonstra deixa patente toda sua fragilidade.
Pesam a favor de Green seus toques de humor. Um, dado com o turista australiano que quer visitar a capela da Vila Medici, mas não consegue vencer a idiossincrasia do porteiro. Outro com sua própria aparição, fazendo o papel do caldeu cristão do Iraque, último representante de uma linhagem extinta à procura de uma casa. “Alter ego adequado”, como escreveu o crítico Scott Foundas, na Variety, “para um cineasta que parece ser, ele mesmo, simultaneamente, do seu tempo e estar claramente fora dele.”