Mesmo perdendo pontos entre os eleitores depois da prisão (como mostrou o Datafolha de 14 de abril), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou engajamento no Facebook desde que foi levado à sede da Polícia Federal em Curitiba. De 7 de abril até esta quarta-feira, o petista somou 7,8 milhões de interações (entre curtidas, comentários e compartilhamentos) e se tornou o presidenciável com maior popularidade na mídia social, ainda que preso. Principal rival de Lula na rede, Jair Bolsonaro somou 4,8 milhões de interações no mesmo período. Manuela D’Ávila, pré-candidata do PC do B, teve 1,5 milhão, e o senador Alvaro Dias, do Podemos, 1,4 milhão de interações nesse período.
O engajamento nas redes no pós-prisão marca uma virada na competição entre Lula e Bolsonaro ao longo do último ano. Num histórico de doze meses, Bolsonaro aparece praticamente o tempo todo na frente de Lula – com 12,7 milhões de interações a mais no período entre maio de 2017 e abril de 2018, de acordo com dados obtidos por meio da ferramenta Crowdtangle. Os dois únicos momentos antes da prisão, dentro desse período, em que Lula superou o engajamento de Bolsonaro havia sido em março deste ano (com o petista condenado e aguardando a prisão) e agosto de 2017, quando o ex-presidente fez caravana pelo Nordeste. A diferença naquele mês foi pequena: 4,2 milhões de interações para Lula, contra 4,1 milhões do pré-candidato do PSL. Em todos os outros meses do período analisado, Bolsonaro engajou mais sua militância virtual do que o petista, como mostra o gráfico de interações nas páginas dos pré-candidatos.
Entre os posts mais populares da página de Lula nos dias seguintes à prisão estão vídeos em que abraça militantes ainda dentro do Sindicato dos Metalúrgicos (331 mil interações), do momento em que aparece no palanque no ABC (330 mil) e a declaração do petista a Frei Betto, antes de se entregar à PF (com 134 mil). Já Bolsonaro, nesse período, postou vídeos em que critica a “esquerda sempre posando de vítima” (126 mil interações) e em que tratou a prisão do ex-presidente como “vitória contra a impunidade” (174 mil).
O tipo de engajamento mais comum na página de Lula desde a prisão foram likes – 4,9 milhões, ou 62% do total –, com 1,4 milhão de comentários (19%) e 1,4 milhão de compartilhamentos (19%). Curtidas e compartilhamentos costumam ser positivos, já os comentários, não necessariamente. Na página de Bolsonaro também predominaram os likes (3,4 milhões, 72% do total), com 255 mil comentários (5%) e 1,1 milhão de compartilhamentos (23%).
Além de romper uma liderança consolidada de Bolsonaro no Facebook, o buzz pró-Lula provocado pela prisão pode ter consequências nas discussões internas do PT. Reforça a posição dos que insistem numa candidatura de Lula ao Planalto – como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para quem a candidatura é “uma certeza”, e o próprio Lula, que disse em carta ser candidato. E enfraquece o argumento dos que são a favor do lançamento de um sucessor, ou de uma composição com outros partidos – indicando um vice na chapa de Ciro Gomes, por exemplo. Na semana passada, o ex-ministro petista e ex-governador da Bahia Jaques Wagner disse que “sempre defendeu que após dezesseis anos [na Presidência] estava na hora de o partido ceder precedência”.
Em destaque ao lado de Lula no palanque em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no dia da prisão, Guilherme Boulos, do PSOL, também se beneficiou nas redes ao longo do último mês. Boulos foi o que teve maior crescimento relativo no Facebook, com 1,2 milhão de interações, um aumento de 51,34% na comparação entre o dia da prisão e esta quinta-feira. Já o pedetista Ciro Gomes teve mau desempenho, com cerca de 189 mil interações no período. Entre os dez presidenciáveis analisados pela piauí, o presidente Michel Temer foi o único que perdeu interações após a prisão de Lula, com 44 mil – 0,05% a menos do que teve antes de o petista ter sido levado a Curitiba.