Enquanto os eleitores falam de Lula, os candidatos a prefeito batem em Cunha
Na semana em que o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) foi cassado por seus companheiros e que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal, o debate político-eleitoral travado nas redes sociais não poderia ter sido outro: centrou-se na Operação Lava-Jato e no combate à corrupção.
Nas postagens associadas às eleições de outubro, os dois temas ultrapassaram – em muito – assuntos locais como educação, saúde e mobilidade. O curioso, no entanto, foi ver que, enquanto os eleitores usaram o Twitter para debater a situação de Lula, os candidatos a prefeito de Rio de Janeiro e São Paulo postaram muito, mas muito mais sobre o caso Eduardo Cunha.
Levantamento exclusivo feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV) para a Agência Lupa indica que, entre os dias 8 e 15 deste mês, houve 470 mil menções à Operação Lava-Jato no Twitter, sendo 290 mil delas só na última quarta-feira, dia 14, quando o ex-presidente foi denunciado.
Os números analisados pelos especialistas revelam a dimensão do debate – e o protagonismo sem par do ex-presidente. Enquanto Lula foi mencionado 217 mil vezes, Cunha teve apenas 43 mil citações no mesmo período. Chamou a atenção o número de menções à figura do procurador da República, Deltan Dallagnol. Ele teve 39 mil citações no Twitter na última semana. Suas apresentações e seus slides sobre Lula foram alvo de 8.300 comentários. Em grande parte irônicos, críticos. Com isso, Dallagnol ficou (bem) à frente da ex-presidente Dilma Rousseff (que teve 26 mil menções) e do juiz federal Sérgio Moro (com 25 mil menções na semana).
A palavra “corrupção” sozinha surgiu 117 mil vezes. E “Petrobras”, 55 mil vezes, destacam ainda os analistas da DAPP/FGV.
Mas o que disseram os candidatos?
A Lupa monitorou o Twitter e o Facebook dos principais candidatos a prefeito de Rio de Janeiro e São Paulo para verificar como eles reagiriam aos dois assuntos: a cassação de Eduardo Cunha e a denúncia de Lula. Ao fazer isso, percebeu que os políticos – pelo menos na internet – preferiram se ater ao desfecho da vida política do ex-deputado.
No Rio, até o início da noite de quinta-feira (15), seis candidatos não haviam escrito absolutamente nada em suas redes sociais sobre a denúncia contra Lula. Eram eles: Marcelo Crivella (PRB), Marcelo Freixo (PSOL), Pedro Paulo (PMDB), Flávio Bolsonaro (PSC), Carlos Osório (PSDB) e Alessandro Molon (Rede). Já tinham comentado o assunto no Facebook e/ou Twitter Indio da Costa (PSD), com uma postagem, e Jandira Feghali (PCdoB), com 13 (!) postagens.
Indio lembrou a Lei da Ficha-Limpa, da qual foi relator, e disse que Lula será o próximo a ser enquadrado nela. Jandira defendeu o petista em diversos eventos transmitidos ao vivo. Também republicou várias frases ditas pelo ex-presidente ao longo dos últimos dias.
Em São Paulo, até o início da noite de quinta-feira (15), quatro candidatos não tinham comentado nada em suas redes sociais sobre a denúncia de Lula: Celso Russomanno (PRB), Marta Suplicy (PMDB), Luiza Erundina (PSOL) e Fernando Haddad (PT).
João Doria (PSDB) já tinha compartilhado no Facebook um vídeo do Movimento Brasil Livre (MBL) e, nele, atacava não só o ex-presidente, como também seus filhos. Major Olimpio (SD) havia feito duas postagens. Na primeira, dizia que apoiava a Operação Lava-Jato e, na segunda, publicava uma reportagem sobre a denúncia de Lula acompanhada de um comentário sarcástico próprio: “Ai, ai, ai, está chegando a hora”, em referência a uma possível prisão do ex-presidente.
E o Cunha?
A cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha mereceu, por outro lado, diversas postagens dos principais candidatos à prefeito de Rio e São Paulo.
Molon saiu na frente no ranking de comentários sobre o deputado cassado. Postou 48 vezes sobre o assunto, utilizando frases duras como “Foi arrancada da Câmara a pior figura produzida pelo PMDB do Rio”.
Jandira falou 25 vezes sobre o ex-companheiro de Congresso. Comemorou, por exemplo, o placar avassalador a favor da cassação de Cunha: 450 a 10, com 9 abstenções.
Freixo apareceu em terceiro, com 12 postagens sobre o peemedebista. Gravou um vídeo na casa do ator Wagner Moura e, nele comemorou “a primeira derrota do PMDB”.
Indio citou Cunha três vezes e Osorio, uma. Pedro Paulo e Crivella não comentaram no Facebook e no Twitter a cassação do parlamentar.
Em São Paulo, ficaram em silêncio Haddad e Doria. Erundina foi a que mais falou do assunto. Fez 12 postagens sobre Cunha, a maioria com imagens e o #ForaCunha.
Russomanno fez e publicou vídeos durante a votação sobre Cunha. Era uma espécie de cobertura ao vivo do evento. Marta falou apenas uma vez. Republicou com certa sobriedade um trecho da sabatina que a CBN SP fez com ela. Major Olimpio se pronunciou duas vezes. Uma antes e outra depois da cassação do ex-colega de Câmara. Mantendo seu repertório, disparou frases pelo fim do “banditismo” em Brasília.
*Esta reportagem foi publicada no site da Revista Época em 16 de setembro de 2016.

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