Na Colômbia (e não somente lá), ganha eleição quem tem mais dinheiro
Na noite de domingo (6), quando deixei Bogotá, a Plaza Bolívar e o Palácio Nariño estavam prontos para receber Iván Duque, o novo presidente da Colômbia. Os militares haviam ensaiado a cerimônia de terça-feira (8), e o tapete vermelho já estava estendido para a chegada do sucessor de Juan Manuel Santos.
Mas também estava pronta a oposição. Eleitores de Gustavo Petro, que perdera o pleito de junho por 54% a 42% (com 8% de votos em branco), se organizavam para protestar contra o novo mandante. Ex-roqueiro e advogado, Duque se vende como um homem capaz de dar uma cara mais jovem ao conservadorismo colombiano. Para a esquerda, no entanto, é um fantoche do poderoso ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
Fato é que, à semelhança do Brasil, a Colômbia anda polarizada e inundada de notícias falsas, e o sucesso na política eleitoral parece atrelado ao volume de recursos disponíveis para uso em campanha.
La Silla Vacía é uma plataforma de jornalismo online fundada pela jornalista e escritora Juanita León. É também um dos membros verificados da International Fact-checking Network (IFCN), rede de checadores de dados que se reúne em torno do Poynter Institute, nos EUA.
Em março deste ano, Juanita e seu time lançaram o livro “El Dulce Poder”, em que revelam os bastidores das eleições em seu país. A leitura desse conjunto de artigos jornalísticos mostra que pouco – ou quase nada – separa Brasil e Colômbia neste tema. Lá e cá, o que vale é dinheiro no bolso para ser popular no mundo virtual e fora dele.
Segundo apurou La Silla Vacía, nada impede políticos colombianos de comprar fãs, seguidores e curtidas – bem como de espalhar notícias falsas. Exatamente como ocorre no Brasil.
Mil seguidores de Twitter custam, na Colômbia, cerca de 9 euros. Mil likes no Facebook, US$ 15. Mil seguidores no YouTube saem mais caro: aproximadamente US$ 100, mas podem estar inflados por bots, os robôs que comprovadamente já influenciam o debate eleitoral aqui no Brasil.
O político colombiano que quer seguidores reais de Twitter precisa ter mais grana. Para conseguir 600 seres humanos que falem bem dele, deve pagar 15 milhões de pesos colombianos por mês – em torno de US$ 5,1 mil. Mas o ideal é desembolsar esse valor num único dia, para que um mega influencer fale dele nas redes. Parte desse montante vai para o influenciador e parte para seu agente, conta La Silla Vacía. É a política reproduzindo a lógica do futebol.
Mas como redes sociais ainda não ganham eleições, os colombianos mostram que outra medida – que também requer dinheiro – ainda parece ser simplesmente indispensável (principalmente nas eleições locais): a compra descarada de votos.
Todos os partidos na Colômbia tem seus “líderes” – aqueles que vão de casa em casa, de bairro em bairro, “convencendo” as pessoas a votarem num determinado nome. “Vinte votos custam 1 milhão de pesos. E eles têm que aparecer na zona eleitoral indicada”, revelou um “líder” com atuação em Cartagena ao livro “El Dulce Poder”. A tática é tão arraigada e corriqueira que os “líderes” dos diversos partidos chegam a cruzar suas listas para saber se não há eleitores vendendo seu voto para dois candidatos.
Nesse mercado, a perda é de 50%. Mas ainda assim vale a pena. Há milhares de pessoas vivendo disso. E a tarefa dos líderes dura quatro anos. A compra de votos para reeleição começa no dia seguinte à eleição. É o cargo prometido, a cirurgia de emergência, a transferência de escola… Sabe como é, né?
*Este artigo foi publicado pelo site da revista Época no dia 6 de agosto de 2018.
Editado por: Natália Leal
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